Educação
Weintraub rebate entidades judaicas: “Tenho direito de falar do holocausto”
O ministro vem sendo criticado por comparar ações do inquérito das fake news, do STF, às perseguições sofridas por judeus durante o nazismo
O ministro da educação Abraham Weintraub voltou a comparar a operação de busca e apreensão da Polícia Federal, dentro do inquérito das fake news, a perseguições sofridas por judeus durante o nazismo. Em recente publicação em suas redes sociais, o ministro usou uma foto de judeus para criticar a operação e questionar a liberdade de expressão dos envolvidos. “Primeiro, prenderam quem defendia a liberdade”, escreveu. “Liberdade de expressão? de opinião, de pensamento, de expressão? Bobagem, peguem a senha e aguardem na fila”, completou.
Primeiro prenderam quem defendia a LIBERDADE. Depois, a grande mídia nazista, dos poderosos, afirmava: “o Holocausto não existe”.
Lutar pela LIBERDADE de expressão? De opinião, de pensamento, de informação? “Bobagem, peguem a senha e aguardem na fila”.#LibertemJurandirEBronze pic.twitter.com/7FZ0UB9qee— Abraham Weintraub (@AbrahamWeint) May 29, 2020
Weintraub segue condenando a operação de busca e apreensão feita pela Polícia Federal na quarta-feira 27 que envolveu empresários e apoiadores do presidente. Entre os alvos, aliados do presidente Jair Bolsonaro, como o ex-deputado federal Roberto Jefferson; o empresário Luciano Hang, dono da Havan; e os blogueiros Allan dos Santos e Winston Lima. A ação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga “notícias fraudulentas”, ofensas e ameaças que “atingem a honorabilidade e a segurança” da Corte, de seus membros e de familiares.
Parlamentares também são alvo da investigação. Os deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Daniel Silveira (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), Junio Amaral (PSL-MG) e Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP) serão ouvidos no inquérito por determinação do ministro do STF. Integram a lista os deputados estaduais Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP).
Comunidades judaicas reagiram às publicações
O ministro também rebateu as manifestações contrárias às suas publicações feitas por comunidades judaicas. “Tenho direito de falar do holocausto! Não preciso de mais gente atentando contra a minha liberdade”, escreveu em publicação feita na quinta-feira 28.
Não falem em nome de todos os cristãos ou judeus do mundo. FALO POR MIM! Tive avós católicos e avós sobreviventes dos campos de concentração nazistas (foto). Todos eram brasileiros. TENHO DIREITO DE FALAR DO HOLOCAUSTO! Não preciso de mais gente atentando contra MINHA LIBERDADE! pic.twitter.com/mMBEKY2RBq
— Abraham Weintraub (@AbrahamWeint) May 28, 2020
Entidades judaicas condenaram a atitude do ministro da educação desde que ele fez a primeira publicação da série associando a operação da Polícia Federal à Noite dos Cristais, episódio que marcou o início do Holocausto. A publicação foi feita em suas redes sociais na quarta-feira 27.
O Comitê Judaico Americano, uma das principais organizações da comunidade judaica nos Estados Unidos, afirmou, pelo Twitter, que o governo brasileiro “precisa parar imediatamente”. “O repetido uso político de termos referentes ao Holocausto por parte de membros do governo brasileiro é profundamente ofensivo à comunidade judaica e um insulto às vítimas e sobreviventes do terror nazista”.
Enough is enough!
The repeated political weaponization of Holocaust language by Brazilian government officials is profoundly offensive to world Jewry and an insult to the victims and survivors of the Nazi terror.
It needs to stop immediately. https://t.co/u83oO4hblJ
— American Jewish Committee (@AJCGlobal) May 28, 2020
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) também se pronunciou por meio de nota afirmando que a comparação de Weintraub é “totalmente descabida e inoportuna” e minimiza “de forma inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que culminou na morte de seis milhões de judeus, além de outras minorias”. Para a entidade, “não há comparação possível”, já que as ações do inquérito “se dão dentro do ordenamento jurídico, assegurado o direito de defesa, ao qual as vítimas do nazismo não tinham acesso”.
O coletivo Judeus pela Democracia também se posicionou sobre o caso em suas redes sociais criticando a comparação feita pelo ministro. “A Noite dos Crsitais não foi virtual, mas foi o linchamento real a judeus. O objetivo de hoje foi tentar evitar que novas “noites dos cristais” aconteçam com outros povos e pessoas”, escreveu.
A ação a mando do STF visa buscar quem financia Fake News e evitar novos linchamentos virtuais.
A Noite dos Cristais não foi virtual, mas foi o linchamento real a judeus.
O objetivo de hoje foi tentar evitar que novas “noites dos cristais” aconteçam com outros povos e pessoas. pic.twitter.com/pXsPCiGZFy
— Judeus pela Democracia – Oficial (@jpdoficial1) May 27, 2020
Soma à lista de reações negativas o Museu do Holocausto de Curitiba que considerou a analogia de Weintraub como “inoportuna”. A instituição ainda ofereceu materiais de leitura para ampliar os conhecimentos sobre a Noite dos Cristais.
Apresentamos conteúdos básicos em língua portuguesa, de fácil leitura e adequados para pessoas com qualquer grau de erudição ou de escolaridade. Acesse: https://t.co/2XwkC22g7g
— Museu do Holocausto (@MuseuHolocausto) May 27, 2020
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