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Um oceano de energia

Entenda como a grande massa de água salgada, essencial à vida, é também elemento-chave na regulação do clima global

pescador
Pescador joga rede no litoral do Nordeste oceanos água salgada
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Vista do espaço, a Terra é azul. Isto ocorre porque 71% de sua superfície é recoberta por água. Em relação aos demais planetas do sistema solar, a Terra possui características únicas que favorecem o desenvolvimento das mais diferenciadas formas de vida. Uma delas é possuir água líquida em abundância.

A outra é receber a energia do Sol, que chega à superfície dos continentes e dos oceanos em intensidades diferentes, por causa da inclinação do eixo da Terra.

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Leia atividade didática baseada neste texto

Anos do Ciclo: 4º ao 7º

Área: Geografia

Tempo de Duração:
4 aulas

Possibilidade interdisciplinar:
Ciências

Objetivos de aprendizagem:
Interpretar os fenômenos ligados à circulação das correntes oceânicas e massas d’água; Entender as dinâmicas de circulação movidas pelas diferenças de densidade, de temperatura ou salinidade

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1)Leve o globo terrestre para a sala de aula. Faça uma sondagem inicial sobre o sistema solar e, principalmente, sobre a posição do Sol e da Terra e as consequências dessa proximidade na incidência dos raios solares nas superfícies da Terra. Se for necessário, explique os movimentos de rotação, de translação e, sobretudo, o eixo de inclinação da Terra e os trópicos. Esse conteúdo é fundamental para a compreensão do aquecimento diferencial das superfícies continentais e oceânicas e das zonas climáticas da terra.

2)Tomando como base a temperatura das águas superficiais dos oceanos, quatro grandes zonas geográficas se distinguem: a polar, em que variação da temperatura vai, aproximadamente, de 0 a 5 graus; a fria, de 5 a 10 graus; a temperada, de 10 a 20 graus e a tropical, acima de 20 graus. Proponha um exercício para consolidar essa informação. Divida a classe em grupos e distribua um Atlas Geográfico para cada grupo. Peça que procurem o planisfério no atlas para observarem a localização dos hemisférios Norte e Sul, a distribuição dos continentes e dos oceanos. Faça uma comparação entre o globo terrestre e o planisfério destacando, em ambos, a localização dos polos, dos trópicos e do equador. Em seguida, questione sobre as zonas climáticas da Terra e incentive a correlação entre elas e a temperatura das águas superficiais dos oceanos.

3)Observando ainda o planisfério, pergunte aos grupos onde estão situadas as águas oceânicas quentes e frias. Depois, questione também sobre as características físicas dessas águas (temperatura, densidade e salinidade) e sobre a circulação das mesmas. Aos poucos, construa a noção de corrente oceânica quente e fria. Para concluir, apresente aos grupos o mapa de correntes oceânicas do Atlas Geográfico e proponha um exercício sobre elas. Nele, os grupos devem, por exemplo, descrever as características como nome, temperatura e trajetória das correntes oceânicas que banham os litorais da América do Sul.

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Ela faz com que a faixa intertropical, entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, receba mais intensamente a radiação solar, já que ela atinge as superfícies de forma vertical.

Nos polos, os raios solares atingem a superfície obliquamente. Assim, a radiação solar incide sobre a Terra de maneira desigual e promove um aquecimento diferencial, com as regiões intertropicais mais quentes que as outras.

Esse aquecimento gera movimentos na atmosfera – assunto que será tratado no nosso próximo tema de aula – e nos oceanos, definindo as zonas climáticas da Terra. Calor e água são ingredientes indispensáveis para a vida no Planeta Azul. O calor vem do Sol, mas a água de onde vem?

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Os cientistas estimam que a idade da Terra seja de, aproximadamente, 4,56 bilhões de anos. Na sua origem, o planeta passou por fases de aquecimento e resfriamento intensos, seguida de uma vigorosa atividade vulcânica que expeliu de suas entranhas gases e vapor d’água.

O vapor condensado transformou-se em chuva torrencial que, por sua vez, encheu as terras baixas do planeta. Os cometas também contribuíram na formação dos oceanos, ao colidir seus corpos formados por gelo com a Terra nos seus primórdios, trazendo, com o impacto, imensos volumes de água.

Os primeiros mares datam de 3,8 bilhões de anos. Mas a distribuição das águas não possuía a configuração espacial que possui hoje, porque a disposição de continentes e oceanos evolui com a deriva continental. Há 200 milhões de anos, por exemplo, ao redor do Supercontinente Pangeia existia o Superoceano Pantalassa, ancestral do Oceano Pacífico.

Quando o Pangeia começou a se fragmentar em dois outros supercontinentes, o Mar de Tétis teria formado-se nas proximidades do Equador. Portanto, a distribuição dos continentes e oceanos nunca foi uniforme na Terra. Atualmente, eles recobrem 80% do Hemisfério Sul e somente 61% do Hemisfério Norte, onde está situada a maior parte das terras emersas.

Os oceanos são extensos e profundos corpos d’água salgada com livre circulação. Os mares são menos extensos, menos profundos, mais fechados e estão próximos dos continentes. Seguindo essa classificação, Pacífico, Atlântico e Índico são os maiores e mais profundos oceanos da Terra.

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Por suas características singulares, a eles pode-se acrescentar o Oceano Austral, que circunda o Continente Antártico abaixo de 60 graus de Latitude Sul e para onde convergem as águas do Pacífico, Atlântico e Índico. O Mar Ártico, rodeado por imponentes massas continentais, é mais fechado e, por isso, é considerado mar por alguns autores.

Toda essa imensidão de água espalhada pelo planeta é essencial para a vida. Além de abrigar inúmeras espécies, ser fonte de alimento, servir de rota comercial entre países e absorver o gás carbônico da atmosfera, ela também regula o clima global. A circulação geral dos oceanos é responsável pela distribuição do calor pelo planeta.

É por meio dela que as correntes oceânicas movimentam as águas e transportam a energia de um lugar do oceano para o outro, transferindo o calor acumulado nas regiões mais quentes do planeta para as mais frias.

Elas têm o poder de mover tanto águas superficiais quanto águas profundas formando, dessa maneira, um sistema integrado de circulação que movimenta constantemente as águas oceânicas e distribui o calor pela superfície do planeta.

As correntes que movem as águas superficiais são geradas pelos ventos. Elas são classificadas segundo a região de origem, isto é, quando originadas nas regiões quentes do planeta são denominadas de correntes quentes.

O oposto ocorre com as correntes frias. A corrente do Golfo, das Monções, a Norte Equatorial e a Sul Equatorial são correntes quentes. A corrente do Labrador, da Groenlândia, de Humbolt, das Malvinas, de Benguela e a Circumpolar Antártica são correntes frias.

A costa brasileira é banhada pela corrente Sul Equatorial, que flui de Leste para Oeste, e, ao atingir a costa Nordeste do Brasil, bifurca-se ao Sul na corrente do Brasil e ao Norte na corrente das Guianas, que segue em direção ao Caribe. Associados aos ventos, esses movimentos geram enormes giros de massas d’água nas principais bacias oceânicas.

A origem dos giros está, portanto, vinculada à distribuição de ventos na atmosfera global e também ao movimento de rotação da Terra. Esse movimento gera a força de Coriolis que desvia a trajetória das massas d’água, girando-as no sentido horário no Hemisfério Norte e no anti-horário no Hemisfério Sul.

Globalmente, existem seis grandes giros que movimentam os oceanos: o giro do Pacífico Norte, do Pacífico Sul, do Atlântico Norte, do Atlântico Sul, do Oceano Índico, além da corrente Circumpolar Antártica que gira pelo entorno do Continente Antártico.

As correntes oceânicas que movem as águas mais profundas são forçadas pela variação de temperatura e salinidade, daí a denominação circulação termo-halina. De modo geral, nas regiões frias, ao congelar, a água do mar expulsa o sal. Com isso, abaixo da camada congelada existe concentração de sal, a água torna-se mais densa e afunda. Assim, a água fria e com alta salinidade das regiões polares desce para o fundo oceânico e, num movimento lento, inicia um circuito pelos oceanos do planeta.

Já nas regiões equatoriais, as águas se aquecem com o calor do Sol e movem-se superficialmente pelos oceanos. Nesse circuito, as águas quentes viajam para as regiões frias e perdem, gradativamente, o calor.

O contrário acontece com as águas frias que se aquecem à medida que se movem para as regiões mais quentes do planeta. Com esse movimento inicia-se um enorme sistema integrado de circulação dos oceanos, formando uma gigantesca “esteira rolante” que move as águas oceânicas numa grande volta pelos oceanos do planeta.

De modo geral, as águas quentes originadas nas regiões equatoriais fluem para o Norte e para o Sul até atingirem as duas células que estão na origem do sistema de circulação termo-halina.

Ao fluir para o Norte, a massa d’água chamada Água Profunda do Atlântico Norte (Apan) passa pelos mares do Labrador, Groenlândia, Islândia e Noruega, que perdem calor, resfriam, submergem e retomam, juntamente ao fundo oceânico, o caminho em direção ao Sul.

Ao chegarem nas proximidades do Continente Antártico, a Apan encontra a chamada Água de Fundo Antártica (AFA), a outra célula da circulação termo-halina. Nesse encontro, as massas de água ficam muito frias, densas e espalham-se pelas profundezas dos oceanos Pacífico e Índico.

Ao longo desse trajeto, ao atravessar as regiões equatoriais do planeta, sofrem um progressivo aquecimento. Nesse circuito, a circulação termo-halina leva, por exemplo, o calor das regiões equatorais até o litoral da Europa, fazendo com que os invernos do Oeste europeu sejam relativamente amenos, se comparados às mesmas latitudes do Canadá, no outro lado do Atlântico Norte e muito mais frio.

Dessa maneira, a circulação global termo-halina possui um papel fundamental na distribuição do calor, impedindo que as regiões frias fiquem cada vez mais frias e as quentes, tórridas.

As correntes superficiais e profundas possuem escalas temporais diferentes. As superficiais levadas pelos ventos se movimentam rapidamente. As profundas, que dependem do aquecimento ou resfriamento progressivo das águas, é lenta, muito lenta. Para fazer a volta dos oceanos do planeta as águas carregadas pela circulação termo-halina podem levar séculos ou até mesmo um milênio!

Saiba mais

Vídeo
Animação da Nasa mostrando a circulação das correntes oceânicas pelo planeta.

* Andrea de Castro Panizza é doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo
** Publicado originalmente em Carta Fundamental

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