Educação
Professora do Mato Grosso do Sul é denunciada por ‘menosprezar agronegócio’ em aula
Em meio à acusação, a docente foi surpreendida por policiais na escola pública onde leciona; sindicato vê tentativa de censura


Uma professora de uma escola estadual do Mato Grosso do Sul teve sua aula de Geografia filmada por uma aluna e foi acusada de fazer militância em sala de aula — tendo, posteriormente, que se explicar à Polícia. O caso aconteceu na Escola Estadual Bonifácio Camargo Gomes, localizada no município de Bonito, no dia 19 de outubro.
O pai da estudante que filmou a aula fez uma denúncia ao prefeito do município, Josmail Rodrigues (PSB), alegando que a professora ‘menosprezou o agronegócio’, mencionando ainda o fato de a professora ser casada com um indígena, a quem se referiu como ‘cacique’. O prefeito, por meio da secretaria municipal de Educação, procurou a escola para obter explicações.
O caso também teve repercussão nas redes sociais. Uma página do Instagram sobre a cidade, por exemplo, mencionou o caso com o seguinte texto: ‘Tem prof geografia fazendo militância nas escolas, falando mal das empresas dak [daqui] e agronegócio’.
Uma semana depois, ao ministrar outra aula para a mesma turma do colégio, a professora pediu aos estudantes que guardassem seus celulares. A aluna que a havia gravado a aula anterior, contudo, se recusou a atender o pedido e saiu da sala. Ao fim da aula, a professora foi surpreendida pela presença de policiais na escola, que teriam sido chamados sob orientação do vice-prefeito do município, Juca Ygarapé. A alegação era de que a docente havia ‘coagido’ a estudante. Os agentes participaram de uma reunião junto com a direção e a família da jovem.
O caso foi levado ao sindicato da categoria pela docente. Em declaração ao site Brasil de Fato, o presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Maro Grosso do Sul, Jaime Teixeira, disse que no dia 15 será lançada uma moção de repúdio ao “setor organizado que segue defendendo a lei da mordaça”, no Mato Grosso do Sul, disse, referindo-se ao projeto “Escola sem Partido”, que defende a ideia de um “ensino neutro”. Especialistas em educação consideram o episódio como mais um de censura e coerção à autonomia dos professores em sala de aula.
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