Educação

O que tem pra lá do muro

Site ajuda professor a integrar seus alunos com a comunidade do entorno ao mapear centros culturais e educativos próximos a escolas

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Ao redor da escola, muitas manifestações culturais acontecem em bibliotecas, parques, praças e museus, mas nem sempre os conteúdos que ali são produzidos conseguem adentrar os portões e chegar à sala de aula. Para ajudar nessa transposição, o portal CulturaEduca, desenvolvido em parceria entre o Instituto Lidas e os ministérios da Cultura e da Educação, quer identificar essas iniciativas e incentivar que a comunidade escolar faça uso delas e, assim, ajude a fomentar a criação de políticas públicas em educação e cultura.

Para isso, o portal vai identificar espaços culturais e educativos, de educação não formal, nas proximidades de 15 mil unidades educacionais da rede pública que integram o Programa Mais Educação, do governo federal. De posse dos dados sobre centros de cultura e serviços públicos de saúde, esporte e assistência social, serão criados mapas com ferramentas de georreferenciamento (tecnologia similar a do Google Maps). Também haverá galerias de imagens e vídeos, painéis de indicadores e fóruns de debate para promover a integração entre educadores, agentes culturais, estudantes, gestores de políticas públicas, pesquisadores e interessados.

Serão catalogados os dados das áreas situadas em raios entre 2 e 5 quilômetros de distância das instituições de ensino, extensão que varia de acordo com a base censitária de cada região.

Para criar a plataforma, a equipe do Instituto Lidas, organização que desenvolve tecnologias de mapeamento para facilitar ao cidadão a apropriação de seu território de vivência, partiu de um banco de dados extenso. Porém, de acordo com Inaê Batistoni, diretora-presidente da entidade, o levantamento não dá conta de iniciativas importantes, mas pouco divulgadas. “A existência de um coral na igreja ou de uma roda de samba na praça são coisas relevantes que as informações oficiais não suportam.” A partir desses dados, a população poderá corrigir ou acrescentar informações livremente, criando assim uma rede colaborativa.

“O usuário será o sujeito das ações. A rede só pode existir com colaboração. Do contrário, ficamos restritos às informações oficiais, que são apenas um elemento da região, mas não sua totalidade”, explica Inaê. Para além da relação entre território educativo e escola, o projeto ainda prevê a criação de painéis para o cruzamento de dados de cultura e educação que permitam, por exemplo, relacionar as taxas de analfabetismo e leitura com a existência de bibliotecas em determinada comunidade – informações que podem incentivar a formulação de políticas públicas locais. “Com isso será possível identificar bolsões de necessidades e de possibilidades”, analisa.

entorno

Em fase de desenvolvimento, o site ainda não traz o mapeamento completo, mas já aceita registros de membros e conta com um fórum de discussões. Em dezembro, foi lançado o projeto piloto com os dados dos territórios educativos da cidade do Recife. Após a avaliação dos primeiros resultados, a totalidade dos mapas deverá estar disponível para consulta nos meses seguintes.

Segundo a diretora do Instituto Lidas, além das informações georreferenciais, o projeto também disponibilizará um conjunto de propostas pedagógicas a ser aplicadas pelos professores em sala de aula, com base nos elementos da plataforma. Em um primeiro momento, esses planos serão disponibilizados pelo próprio instituto, mas a ideia é que, a partir da troca de experiência entre os usuários, os próprios docentes criem e compartilhem planos de aula.

Em Matemática, Inaê afirma que os mapas permitirão ao educador trabalhar com medidas, distâncias e levantamentos estatísticos. A pesquisa da história da comunidade local e a reescrita dessa narrativa podem ser propostas interessantes para as aulas de História. Já os dados censitários da região, como as pirâmides etárias e a concentração populacional, podem ajudar os estudantes no entendimento de conceitos da Geografia. “Para o professor, esse é um salto importante, pois muitas das dificuldades acontecem justamente pelo distanciamento entre o aluno e o conteúdo das disciplinas.”

Para Inaê, o cruzamento de mapas, estatísticas e indicadores sociais de uma determinada área em uma plataforma online gratuita e colaborativa dá ao cidadão a oportunidade de entender sua comunidade e assumir papel ativo nas transformações sociais, sobretudo nas regiões mais pobres. “Conhecer e apoderar-se de seu território é o primeiro passo para a verdadeira cidadania. Trabalhar os espaços de vivência dos alunos dentro da sala de aula é também um meio de formar cidadãos.”

As propostas do portal querem dialogar com os princípios do Programa Mais Educação de constituir entornos educativos para o desenvolvimento de atividades de educação integral e de agregar políticas educacionais e sociais. As atividades do programa governamental começaram a ser implementadas em 2008 e hoje atendem 5,1 milhões de estudantes em 3.381 municípios de todo o Brasil. Dele participam unidades estaduais, municipais e distritais escolhidas pela Secretaria de Educação Básica do MEC, a partir de critérios estabelecidos a cada ano.

Em 2012, foram selecionadas instituições de ensino com Índice de Desenvolvimento da Educação Básica abaixo ou igual a 4,2 nas séries iniciais ou 3,8 nas séries finais. Também foram priorizadas as escolas localizadas em áreas atendidas pelo Plano Brasil Sem Miséria, unidades com 50% ou mais de estudantes cadastrados no Bolsa Família e instituições que participam do Programa Escola Aberta ou que estejam em zonas rurais.

*Publicado originalmente em Carta Fundamental

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