Educação
O que a expansão dos institutos federais pode antecipar sobre o futuro do Ensino Médio no Brasil
O governo promete construir ao menos 100 novos institutos federais; professor defende a expansão do modelo para a rede convencional
Nesta terça-feira 12, o governo federal anunciou a expansão da rede de institutos federais pelo País. Segundo o presidente Lula (PT) serão construídos 100 novos institutos federais em todos os estados do País até o fim do atual mandato, em 2026.
Atualmente, o Brasil conta com 682 IFs em todos os estados, com pouco mais de 1,5 milhão de estudantes. Com a construção das novas unidades, a estimativa do governo é de abertura de 140 mil novas matrículas.
De acordo com o Ministério da Educação, 2,5 bilhões de reais serão usadas para as novas unidades. Mais 1,4 bilhão será destinado à reforma e construção de novas áreas, como ginásio e refeitório, em institutos já existentes.
Para o coordenador do Sindicato dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica em São Paulo (SINASEFE-SP) e professor no Instituto Federal de São Paulo, Rogério de Souza, a medida é um ‘grande feito’ do governo federal e um reconhecimento ao modelo de ensino praticado pela rede, entre eles o Ensino Médio Integrado ao Técnico.
“A principal aposta dos institutos federais é o que chamamos de Ensino Médio integrado, que procura desenvolver não só a dimensão acadêmica ou técnica, mas sim as várias dimensões dos educandos”, explica.
Esse modelo, reforça o educador, segue ganhando destaque nas avaliações educacionais de larga escala, como Pisa e Ideb — e isso é de suma importância, sobretudo no momento em que o País discute os rumos do Ensino Médio , e tenta chegar a um consenso do que fazer com o Novo Ensino Médio, herança do governo de Michel Temer (MDB).
“O governo deveria se inspirar na experiência do ensino médio integrado e adotá-la em todo o país.”. Há em todas as unidades da rede, por exemplo, aulas de teatro, música, atividade física, integrada às áreas do conhecimento e à formação técnica. “Trabalhamos com a ideia de que todo ser humano tem várias dimensões e que o papel das escolas é fomentá-las.”
Rogério lamenta que ainda prevaleçam concepções dualistas da escola — de que uma parte dos estudantes deve seguir a formação acadêmica, enquanto outra, a de cunho técnico. “O atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) vem incentivando a feitura, especialmente pelo filho do trabalhador, da parte técnica, excluindo a possibilidade de uma formação completa, integral, que possibilite a esse estudante ingressar no Ensino Superior, caso ele deseje”, critica.
A ampliação, nesse sentido, toca em um ponto importante, que é a de aumentar a capacidade de atendimento dos institutos federais, ainda pequena quando considerado o universo de estudantes do Ensino Médio no País.
“Quando pegamos o universo de estudantes de Ensino Médio no Brasil, de 8 milhões, não temos nem 5% deles atendidos pela rede federal”, constatou. “No estado de São Paulo, por exemplo, temos em torno de 1,2 milhão de estudantes no Ensino Médio, e não oferecemos nem 30 mil vagas”, pondera.
Só para o estado de São Paulo foram anunciadas 12 novas unidades, sendo na capital, Jardim Ângela e Cidade Tiradentes, além de Osasco; Santos; Diadema; Ribeirão Preto; Sumaré; Franco da Rocha; Cotia; Carapicuíba; São Vicente e Mauá (veja ao final da reportagem a lista completa).
Para o especialista, um dos entraves à ampliação do modelo oferecido pelos institutos federais esbarra no entendimento errôneo, inclusive por governos progressistas, de que o investimento por aluno é caro, já que é o dobro do aplicado aos alunos da educação básica.
“O nosso aluno da rede federal é basicamente o dobro da rede estadual de São Paulo no que diz respeito a investimento. Hoje, no estado de São Paulo, se investe em torno de 7,5 mil/8 mil reais por aluno. No Instituto Federal esse investimento é de 16 mil”, aponta. “Muitos governos, inclusive progressistas, avaliam que os institutos federais são caros quando comparados às escolas regulares, o que denota uma falta de prioridade à educação”, contesta.
Ainda na linha orçamentária, o governo tem outros desafios, como recompor o orçamento dos institutos federais, em queda nos últimos 10 anos, garantir a melhoria das unidades existentes e promover a valorização profissional de professores e técnicos, perseguindo a manutenção da qualidade da educação ofertada.
“Nos últimos 10 anos, especialmente depois de 2016, tivemos uma redução significativa do orçamento dos institutos. Hoje, temos cerca de 40% a mais de estudantes na rede, mas com o orçamento de 2015”, nota o educador, destacando os problemas de estrutura física e de pessoal enfrentados pelos institutos federais.
“A verba anunciada pelo governo, de 1,4 milhão, não cobre tudo o que a gente precisa e não restitui a verba que a gente tinha em 2015. Aplaudimos a expansão, tem que expandir mais ainda, mas também garantir condições para as unidades existentes“, completa, destacando também, entre as necessidades, a correção da defasagem salarial dos servidores.
“Nós, servidores, estávamos sem reajuste há quase 7 anos, no caso dos técnicos, e há quase cinco, no caso dos professores. No começo do ano passado, o governo Lula deu um reajuste de 9%, mas a nossa defasagem está em torno de 30% no caso dos professores, e 40% no caso dos técnicos. Promover os investimentos necessários no modelo é uma forma de investimento futuro”, defende.
Veja onde serão construídos os novos IF’s:
Nordeste (38)
- Bahia (8):
Itabuna;
Macaúbas;
Poções;
Remanso;
Ribeira do Pombal;
Ruy Barbosa;
Salvador; e
Santo Estevão.
- Ceará (6):
Campos Sales;
Cascavel;
Fortaleza (2);
Lavras de Mangabeira; e
Mauriti.
- Pernambuco (6):
Águas Belas;
Araripina;
Bezerros;
Goiana;
Recife; e
Santa Cruz do Capibaribe.
- Maranhão (4):
Amarante do Maranhão;
Balsas;
Chapadinha; e
Colinas.
- Paraíba (3):
Mamanguape;
Sapé; e
Queimadas.
- Alagoas (3):
Girau do Ponciano;
Mata Grande; e
Maceió.
- Piauí (3):
Barras;
Esperantina; e
Altos.
- Rio Grande do Norte (3):
Touros;
São Miguel; e
Umarizal.
- Sergipe (2):
Japaratuba; e
Aracaju.
Sul (13)
- Paraná (5):
Maringá;
Araucária;
Cianorte;
Cambé; e
Toledo.
- Rio Grande do Sul (5):
Caçapava do Sul;
São Luiz Gonzaga;
São Leopoldo;
Porto Alegre; e
Gramado.
- Santa Catarina (3):
Tijucas;
Campos Novos; e
Mafra.
Sudeste (27)
- São Paulo (12):
São Paulo (Jardim Ângela e Cidade Tiradentes);
Osasco;
Santos;
Diadema;
Ribeirão Preto;
Sumaré;
Franco da Rocha;
Cotia;
Carapicuíba;
São Vicente; e
Mauá.
- Minas Gerais (8):
João Monlevade;
Itajubá;
Sete Lagoas;
Caratinga;
São João Nepomuceno;
Belo Horizonte;
Minas Novas; e
Bom Despacho.
- Rio de Janeiro (6):
Rio de Janeiro (Cidade de Deus e Complexo do Alemão);
Magé;
Belford Roxo;
Teresópolis; e
São Gonçalo.
- Espírito Santo (1):
Muniz Freire
Norte (12)
- Pará (5):
Barcarena;
Redenção;
Tailândia;
Alenquer; e
Viseu.
- Amazonas (2):
Santo Antônio do Içá; e
Manicoré.
- Rondônia (1):
Butiritis
- Tocantins (1):
Tocantinópolis
- Acre (1):
Feijó
- Amapá (1):
Tartarugalzinho
- Roraima (1):
Rorainópolis
Centro-Oeste (10)
- Goiás (3):
Cavalcante;
Porangatu; e
Quirinópolis.
- Mato Grosso (3):
Água Boa;
Colniza; e
Canarana.
- Distrito Federal (2):
Sol Nascente; e
Sobradinho.
- Mato Grosso do Sul (2):
Paranaíba; e
Amambaí.
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