Educação
‘Nos impedir de alcançar a educação é um crime’
O Nobel da Paz Kailash Satyarthi condenou a existência de 168 milhões crianças trabalhadoras infantis
“Todos nascem com o direito ao aprendizado como um ser humano livre. Logo, tudo que nos impede de alcançar a melhor educação possível é um crime, uma violência”. As palavras ditas pelo Nobel da Paz, Kailash Satyarthi, em visita à São Paulo, na terça-feira 26, resumem sua concepção de educação: um direito inalienável, para muitos a diferença entre a vida e a morte.
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Nascido em Vidisha, na Índia, Satyarthi é engenheiro de formação, mas ganhou reconhecimento internacional ao liderar o resgate de mais de 80 mil crianças que trabalhavam como escravas em seu país e reinseri-las na sociedade por meio da educação. O feito lhe rendeu o Nobel de 2014, honraria que então compartilhou com Malala Yousafzai, a garota paquistanesa que se tornou símbolo da luta pelo direito das meninas à educação após ser baleada, em 2012, pelo grupo fundamentalista islâmico Talebã quando ia para a escola.

Satyarthi é também responsável pela Campanha Global pela Educação e pela Marcha Global contra o Trabalho Infantil, maior articulação mundial da sociedade civil contra a exploração infantil, integrada por ONGs, organizações de professores e sindicatos.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), hoje 168 milhões de crianças são trabalhadoras infantis. Destas, 85 milhões estão em condições de extremo risco, isto é, trabalhando como escravas, soldados infantis, na prostituição, etc.
Na visita ao Brasil, organizada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o ativista indiano reiterou a importância de garantir o acesso e a equidade educacional para combater esse problema. “Trabalho infantil e analfabetismo são os dois lados da mesma moeda. A educação é um meio de progresso, é a chave para abrir o futuro. Por isso, digo que a educação é o direito humano fundamental, pois é o que leva à conquista de todos os outros direitos”, disse.
Satyarthi também criticou a crescente privatização do ensino, apontando a necessidade de erradicar as desigualdades educacionais para acabar com outras formas de injustiça como a miséria. “Conhecimento é poder. Então se você coloca esse conhecimento na mão de poucos, vamos continuar a ter disparidades pelo mundo. Se a educação vira commodity, que é o que vemos hoje, o que temos é uma comercialização de um direito fundamental humano”.
Também estiveram presentes no evento alunos da Escola Estadual Fernão Dias Paes, ocupada contra a tentativa de reorganização escolar promovida pela Secretaria da Educação de São Paulo. Satyarthi elogiou a atitude dos estudantes paulistas. “Vocês são heróis, o mundo precisa de jovens como vocês. Agora, precisam ocupar o mundo todo, não só as escolas”, disse a eles.
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