Educação

Mapa evidencia segregação racial na USP

Projeto de aluno de Geografia mostra como a presença de negros ainda é escassa nos cursos mais concorridos

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Há mais negros entre os funcionários terceirizados da limpeza, alimentação e segurança da Universidade de São Paulo (USP) do que entre alunos e professores. A constatação é de um trabalho elaborado por Hugo de Gusmão, estudante de Geografia da instituição, que realizou um mapeamento étnico-espacial da maior universidade pública do País.

Publicado sob o título “Onde estão os negros da USP?” no blog Desigualdades espaciais, mantido pelo estudante desde agosto de 2015 com o propósito de denunciar a segregação e desigualdade racial por meio da cartografia, o mapa mostra também que nos cursos mais concorridos, isto é, com maior nota de corte, a quantidade de negros é pífia, revelando a desigualdade racial que persiste no acesso à universidade. “Quem passa [nestes cursos] estudou em ótimos colégios e fez cursinho, um aluno negro de escola pública não terá o mesmo preparo para passar”, avalia Gusmão.

A ideia de criar o mapa sobre a distribuição dos negros na USP surgiu após o estudante começar a pensar sobre novas formas de usar os mapas de pontos. “Conversando com amigos que também são da Geografia sobre a ausência de professores e alunos negros e o desconhecimento e falta de interesse deles sobre a situação do negro e a questão racial no Brasil, a ideia foi tomando forma. Comentei com eles a ideia de fazer o mapa da USP e todos gostaram, acharam que era fundamental levantar esse debate”.

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Cabelo bom

Na metodologia utilizada, cada aluno ingressante na USP é representado por um ponto no mapa e esses pontos são distribuídos pela área da faculdade onde estudam. Cada etnia é marcada por um cor diferente. Brancos são pontos azuis, indígenas são roxos, negros, vermelhos e assim por diante. Os dados raciais usados como referência para sua composição vieram do Questionário de Avalição Socioeconômica da Fuvest e os mapas da USP, do IBGE e da Prefeitura de São Paulo.

mapa brancos usp

mapa negros usp
Os resultados surpreenderam Gusmão. “A desigualdade foi maior do que eu esperava, porque na Geografia há uma quantidade grande de alunos negros e de baixa renda em comparação com restante da USP. Assim, tinha a falsa impressão de que as coisas haviam melhorado, o que não é verdade”, conta.

Em relação à presença de outras etnias na universidade, Gusmão constatou que a quantidade de indígenas também é muito baixa na USP. Em 2010, por exemplo, apenas 12 alunos com este perfil entraram na instituição. Em contrapartida, os asiáticos, que representam pouco mais de 1% da população do estado de São Paulo, ocupam cerca de 10% das vagas da universidade.

“Há mais asiáticos do que negros em todos os cursos da USP com exceção da Geografia, o que demonstra a desigualdade racial gritante. A quantidade de asiáticos e pardos na USP são bem próximas; 9,54% e 10,6% respectivamente, ainda que os asiáticos cheguem a 1,4% da população do estado e os pardos a 10,6%”.

Desigualdades como estas, defende o estudante, mostram como a política de cotas raciais é importante para equilibrar a representação de outros grupos raciais dentro da universidade. “Os programas de inclusão social da USP são insuficientes, incapazes de reduzirem as desigualdades no acesso. Eu os vejo como algo para inglês ver, apenas para dizer ‘nós temos uma política de inclusão social’, quando na verdade passa longe de ser uma política que de fato promova a igualdade”, diz.

Gusmão refere-se aos programas de inclusão hoje adotados pela USP, como o Programa de Inclusão Social da USP (INCLUSP) e o Programa de Avaliação Seriada (PASUSP).

“Há um estudo da Anna Carolina Venturini do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da UERJ (GEMAA) muito importante que os analisa. Após ler o estudo, fica claro que os programas de inclusão sociais da USP são extremamente falhos e que desde a sua criação em 2006 não houveram avanços significativos, já que não incluem cotas nem critérios de renda familiar, apenas um critério racial que concede um bônus adicional de 5% na nota final, o que é um porcentagem muito baixa e insuficiente para ter algum resultado significativo no sentido de igualar as oportunidades”, diz.

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