Livro do escritor Marçal Aquino é retirado de universidade após polêmica com deputado bolsonarista

O deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) classificou a obra 'Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios' como pornográfica

Créditos: Reprodução

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A Universidade de Rio Verde (UniRV), de Goiás, decidiu retirar de sua lista de vestibular uma obra do escritor Marçal Aquino. O caso aconteceu depois que o deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) fez campanha contra o livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, por considerá-lo ‘pornográfico’.

“Por que pé de maconha, xoxota e pau estão fazendo parte de um livro, um conteúdo literário, para que seja feita uma prova para ingressar na faculdade?”, questionou o parlamentar em uma de suas publicações contra a obra.

Em nota publicada em seu site no dia 26 de abril, a universidade confirmou que a exclusão foi devida à polêmica gerada acerca da obra. Esclareceu ainda que a indicação das obras literárias aos vestibulares fica sob a responsabilidade de uma banca de professores atuantes em escolas públicas e particulares de todo o país.

“A estes professores compete a indicação das obras literárias e elaboração das questões, observando o conteúdo programático das disciplinas do núcleo comum do ensino médio”, diz o texto.

“Em relação ao livro do autor Marçal Aquino, trata-se de uma obra da literatura brasileira contemporânea, trabalhada nos principais cursinhos pré-vestibulares e presente na lista obrigatória de diversos concursos do país, motivo pelo qual a banca o teria indicado para o vestibular da UniRV. Porém, a Coordenação do Vestibular, ao tomar ciência do conteúdo do livro e da polêmica gerada, decidiu pela exclusão imediata da referida obra da lista literária indicada para o vestibular”, justificou a universidade.

O romance foi publicado em 2005 pela editora Companhia das Letras que se manifestou nesta segunda-feira contra a decisão, que considerou como ‘censura’.


“O livro explora temas como amor, traição, violência e redenção. A escrita de Marçal Aquino é poética e evocativa, retratando com detalhes a atmosfera e a paisagem da região amazônica”, diz um trecho do posicionamento.

“A Companhia das Letras repudia qualquer tipo de censura e, diante de uma situação como essa, declara seu apoio a Marçal Aquino, autor vencedor do prêmio Jabuti e com obras lançadas na Alemanha, Espanha, França, México, Portugal e Suíça”, completou a editora.

 

O livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” retrata o envolvimento do fotógrafo Cauby com Lavínia, mulher de um pastor evangéluco que a tirou das ruas e das drogas. Situada no Pará, a trama é povoada por personagens do sub-mundo, como garimpeiros, comerciantes inescrupulosos, prostitutas e assassinos de aluguel. A obra já tem mais de 20 edições e inclusive já foi adaptada para o teatro e para o cinema, em filme de 2011 dirigido por Renato Ciasca e Beto Brant, com Camila Pitanga no papel principal.

Ao O Globo, o autor do livro questionou o papel técnico do parlamentar para julgar a obra e disse que o caso é marcado por falta de debate e censura.

“Acata-se a opinião de um deputado, que não é a pessoa mais apropriada para julgar se o livro é adequado ou não para o vestibular. Se a pressão de um deputado é maior do que sua própria comissão avaliadora, então colocaram sob suspeição todos os demais livros do vestibular. Recusam o debate e simplesmente censuraram. A cara do Brasil de hoje”.

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