Educação

Governo descumpre promessa e retira professores da fase 2 de vacinação

Compromisso havia sido firmado por iniciativa do MEC com o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais; docentes aparecem na fase 4

Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
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O plano do governo federal para a vacinação da população brasileira contra a Covid-19 demorou, mas saiu na quarta-feira 16. Apesar de críticas à falta de uma previsão assertiva de datas e à ausência de detalhes sobre a distribuição das doses, ficaram estabelecidos os primeiros grupos a serem imunizados.

Com isso, uma surpresa: ao contrário do que havia sido prometido pelo Ministério da Educação (MEC), os professores não aparecem na segunda fase do plano de vacinação.

O compromisso foi firmado por iniciativa do MEC com o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais (Consed), segundo relato do secretário de Educação da Paraíba, Cláudio Furtado, a CartaCapital. 

“A gente tinha ficado bastante animado porque tinha partido de algumas áreas do MEC essa questão de colocar os profissionais de educação no segundo lote”, afirma Furtado.

O grupo prioritário a ser vacinado na fase 1 é formado por trabalhadores da saúde, pessoas de 80 anos ou mais, pessoas com idades entre 75 e 79 anos e indígenas acima de 18 anos. Já a fase 2 é formada por pessoas entre 70 e 74 anos, 65 a 69 anos e 60 a 64 anos. A estimativa é que ambas as fases vacinem mais de 35 milhões de brasileiros.

Na fase 3, a previsão é imunizar cerca de 12,66 milhões entre pessoas maiores de 18 anos com comorbidades. Os professores estão incluídos na fase 4, ao lado de agentes de forças de segurança e salvamento e funcionários do sistema prisional.

Estados e municípios têm autonomia para definir as melhores condições para o retorno às salas de aula, já que o afastamento prolongado tem preocupado especialistas de educação, saúde, psicologia e demais áreas correlatas ao desenvolvimento infanto-juvenil.

Cláudio Furtado afirma que os profissionais da educação, em especial os docentes, se sentem mais seguros com a vacinação garantida.

“Dos docentes, o que a gente escuta é que existe uma segurança maior de voltar com a vacina. Algumas redes têm projeto de retorno e isso depende da dinâmica de cada estado, e vamos ver o tratamento da nova evolução da segunda onda da Covid”, disse.

Além da eficácia dos imunizantes, que ainda têm de passar pelo crivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o secretário destaca a necessidade de manutenção e atualização de protocolos de segurança nas escolas, já que a vacina não irá “eliminar” a doença no curto prazo. Furtado foi o responsável pela elaboração de um protocolo padrão para criar condições mínimas para a volta às aulas em agosto.

“Mesmo com a vacina, você vai ter que manter cuidados até que toda a comunidade esteja segura. Vários protocolos terão que ser obedecidos. Depois, iremos fazer uma atualização [de protocolos] a respeito de reforçar os cuidados”, diz.

O secretário afirmou que um diálogo com o MEC, o Ministério da Saúde e mais secretários estaduais de Saúde deve ser feito para entender as mudanças no plano.

Sindicatos e UNESCO também pedem priorização

“Se o governador quer tanto o retorno às aulas presenciais, por que não incluir os professores na primeira leva de vacinados?”.

A pergunta é da deputada estadual Professora Bebel (PT), presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), e foi direcionada ao governador João Doria (PSDB) após a divulgação de detalhes do plano paulista de imunização.

“A referida solicitação decorre da necessidade de se observar a mesma sistemática adotada até 2019 para a campanha de vacinação contra a gripe (influenza), que considerava os professores de escolas públicas e privadas como grupo prioritário em razão do risco de contágio existente em sala de aula, local de aglomeração de pessoas”, escreveu a deputada em um ofício.

No aspecto global, a chefe da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a Unesco, pediu em um vídeo publicado na segunda-feira 14 que os professores fossem incluídos entre os primeiros grupos prioritários.

“Ao ver os avanços positivos em relação à vacinação, acreditamos que os docentes e o pessoal de apoio à educação devem ser considerados grupo prioritário”, declarou Audrey Azoulay, em mensagem com o diretor da organização de docentes da Internacional da Educação (IE), David Edwards.

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