Governador de SP minimiza falta de professores: ‘Se tem 22% de aulas não dadas, tem 78% de aulas dadas’

'É de uma irresponsabilidade monumental', critica professor em entrevista a CartaCapital

O governador Rodrigo Garcia (PSDB). Foto: GOVSP

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O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), minimizou a falta de professores no Ensino Médio e o acúmulo de aulas sem atribuição, o que impacta a aprendizagem dos estudantes.

“Vamos olhar o copo meio cheio. Se tem 22% de aulas não dadas, tem 78% de aulas dadas”, disse o tucano durante sabatina realizada pelo BandNews TV. “Expandimos o ensino integral de 100 mil alunos para 1,1 milhão de alunos. É natural que vai faltar, muitas vezes, professor.”

 


A Secretaria da Educação de São Paulo estimava, até abril deste ano, que 19.996 aulas no Ensino Médio estavam sem atribuição de professores, daí os 22% citados pelo governador.

Considerando que cada turma escolar tem cerca de 35 alunos, é possível projetar que a falta de aulas atinge um contingente de 700 mil alunos. A Seduc-SP atualizou os dados e afirmou haver cerca de 17% de aulas não atribuídas, o que pouco melhora o cenário: são 15.406 aulas sem professor, as quais atingem 539.200 estudantes.

O doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC Fernando Cássio condenou, em entrevista a CartaCapital, a declaração do governador.

“É inadmissível. Como um governador pode ir para um canal de televisão naturalizar uma situação como esta, de ter um quinto dos estudantes da rede estadual com um dia a menos por semana de aula?”, criticou Cássio. “É de uma irresponsabilidade monumental, porque é dever do Estado garantir o direito à educação. Diante do não cumprimento, o governador ainda vai fazer graça.”

Fernando Cássio ainda defendeu que o Poder Legislativo, o Tribunal de Contas e o Ministério Público se manifestem sobre o caso, “porque o governador não pode se portar dessa forma, com esse cinismo”.

Cássio é autor, em parceria com as pesquisadoras Débora Goulart e Ana Paula Corti, de um estudo lançado nesta sexta 3  que aponta incoerências sobre a implementação da Reforma do Ensino Médio no estado, que passa por falta de investimentos nas escolas, precarização na formação e na valorização docente e inexistência de uma oferta educacional de qualidade e equânime entre os estudantes.

Garcia é pré-candidato ao governo de São Paulo e tem 7,3% das intenções de voto, segundo dados do Paraná Pesquisas divulgados em maio. O pré-candidato pelo PT, Fernando Haddad, desponta na liderança, com 28,6% das intenções de voto, seguido por Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 17,9%, tecnicamente empatado com Márcio França (PSB), que merca 17,7%.

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