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Gelo, um escultor do relevo

As marcas deixadas pela neve e pelas geleiras nas paisagens da Terra

As maiores geleiras continentais estão localizadas nas regiões polares
As maiores geleiras continentais estão localizadas nas regiões polares Geleiras
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A neve é um fenômeno meteorológico raro no Brasil, um país predominantemente tropical. Esse fenômeno é mais frequente nas latitudes polares, localizadas em regiões de clima temperado ou no alto das montanhas, já que a temperatura cai ao subirmos em altitude.

A neve é uma atração turística de importância econômica que poderia ser incentivada nos municípios das serras catarinense e gaúcha, onde ela ocorre. Mesmo sem haver grande acumulação ou longa permanência no solo, uma paisagem recoberta pela neve se modifica. Tudo nela se transforma: as cores, os volumes, os sons, um verdadeiro convite para novas descobertas.

[bs_row class=”row”][bs_col class=”col-xs-2″][/bs_col][bs_col class=”col-xs-10 azul”]Atividade didática | Montanha e gelo, como funcionam?[bs_citem title=”” id=”citem_5422-8f97″ parent=”collapse_e98f-4f2c”]

1. Introduza o assunto falando das zonas climáticas da Terra: altas, médias e baixas latitudes. Mostre-as no globo terrestre, explique a incidência dos raios solares e o aquecimento diferencial. Em seguida, discorra sobre o clima das altas montanhas e localize no globo terrestre as principais cadeias montanhosas. Certifique-se de que os alunos assimilaram a influência da altitude no clima das montanhas e dê exemplos da zona tropical, como os Andes, por exemplo.

2. Explique por que ocorre a preipitação de neve e por que ela se acumulanas montanhas. Depois, defina simples e claramente o que é uma geleira, um iceberg, uma banquisa etc. Ainda usando o globo terrestre, mostre onde se localizam, atualmente, as geleiras continentais e as geleiras de vale. Insista na diferença entre esses dois tipos de geleiras.

3. Por fim, peça para que os alunos, em grupo ou individualmente, preparem uma pesquisa sobre as geleiras. Eles devem escolher um geleira e descrever suas principais características (localização, altitude, situação atual etc.). Metade da classe deve pesquisar sobre geleiras continentais, a outra sobre geleiras de vale e, para concluir, devem apresentar suas pesquisas aos colegas.

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A neve é uma atração turística confirmada em várias regiões do mundo. Exemplo disso são as famosas estações turísticas e de esportes de inverno na Europa, América do Norte e América do Sul, com os exemplos da argentina Bariloche e da chilena Valle Nevado.

Mas como a neve é criada? Sua formação ocorre dentro de nuvens frias, cuja temperatura é inferior a zero grau Celsius. Entre zero e -10 graus Celsius, as nuvens são formadas por água líquida super-resfriada. A água suspensa no ar só congela em torno de -40 graus Celsius. Entre -10 e -20 graus Celsius, gotículas de água super-resfriada e cristais de gelo coexistem nas nuvens.

Abaixo dessa temperatura, partículas sólidas funcionam como núcleos de congelamento sobre o qual as gotículas se agregam e se inicia o processo de congelamento, em um mecanismo similar ao da condensação. Dentro da nuvem, gotículas de água e cristais de gelo se deslocam, entram em contato por choque ou por sublimação, quando as gotas de água evaporam sobre os cristais de gelo. É dessa maneira que eles aumentam de tamanho, de densidade e precipitam na forma de neve.

Na descida podem ainda aumentar de tamanho ao interceptar gotículas super-resfriadas que se congelam sobre eles. Dependendo da temperatura de sua formação, os flocos de neve assumem diversas formas: estrelas de seis pontas, plaquetas, colunas, agulhas etc. (Veja o vídeo indicado no Saiba Mais.)

Anualmente, a precipitação de neve ocorre em extensas áreas, mas só há acumulação se o degelo for menor que a precipitação. Isso acontece, sobretudo, nas regiões polares e nas montanhas altas, onde se formam as geleiras, grandes massas de neve e gelo.

As maiores geleiras continentais existentes na Terra localizam-se nas regiões polares do Ártico e da Antártica (temas trabalhados nas CF n° 59 e 60, respectivamente). Outras, bem menores, ocorrem em regiões subpolares, como na Islândia.
Quando a acumulação de neve acontece no alto das montanhas, a geleira é denominada alpina ou de vale. Nela, a massa de gelo flui das montanhas vizinhas e acumula entre as vertentes do vale, formando uma língua. Dependendo de sua posição no relevo, ela pode ser chamada de geleira de anfiteatro, de nicho ou de piemonte.

As geleiras não ocorrem somente nas regiões frias e temperadas. Estão presentes também nas regiões tropicais, como nos Andes, no Himalaia e no Kilimanjaro, respectivamente, nos continentes da América do Sul, Ásia e África.

O volume e a forma de uma geleira variam no tempo e no espaço em resposta às alterações climáticas mais significativas, como verões muito quentes ou invernos extremamente frios. Chama-se ablação o processo que leva à perda de massa de uma geleira por derretimento, evaporação, avalanche, erosão eólica ou desprendimento – quando a geleira atinge o mar e perde um pedaço originando um iceberg. O processo inverso é a acumulação, que representa o ganho de massa pela geleira por meio de precipitação, condensação ou avalanche.

Apesar da aparência imóvel, ao ganhar em espessura, a geleira inicia seu movimento vertente abaixo, devido à ação da gravidade. A parte basal da geleira, que pode ser úmida ou seca, vai determinar o mecanismo que intervém nesse movimento. Na geleira de base úmida é o deslizamento, pois a água do degelo basal funciona como um lubrificante entre a geleira e o substrato rochoso. Na geleira de base seca é a deformação interna, pois sem o degelo basal ela adere ao substrato e se deforma.

Ao se deslocar, a geleira deixa traços na paisagem, uma vez que o gelo tem força para marcar as rochas e moldar os relevos. Essas formas podem ser identificadas nas paisagens atuais e seu estudo evidencia atividades glaciais pretéritas (veja o quadro). Por exemplo, o substrato rochoso em contato com a geleira torna-se liso e, dependendo do tipo de rocha, chega a ser até polido.

Ele também pode apresentar estrias, já que na parte basal da geleira há muitos fragmentos de rocha que ficaram presos no gelo. Sob a pressão da geleira e o atrito do deslocamento, esses fragmentos sulcam o substrato rochoso. Uma geleira pode também arrancar e transportar enormes blocos de rocha, os chamados blocos erráticos, que são geologicamente diferentes do seu entorno, porque foram levados para longe.

O poder erosivo das geleiras é muito grande e no seu movimento vertente abaixo ela vai acumulando detritos. Esse acúmulo de fragmentos de rocha recebe o nome de moraina. Ela forma-se em diferentes posições em relação à geleira, podendo ser lateral, terminal ou central, quando ocorre na junção de duas geleiras. As morainas laterais estão em contato direto com as paredes do vale, gerando forte atrito e moldando-as em forma de U. Assim, os vales glaciais possuem uma forma bem diferente dos outros vales, que têm a forma de V.

Diversamente do que acontece com a água e o vento, o gelo não é capaz de selecionar o tamanho dos sedimentos que transporta, carregando seixos grandes, pedregulhos, areias e pó fino de rocha triturada. Esses sedimentos também não são modificados pelo intemperismo químico, pois o frio preserva os minerais de alterações. O contrário acontece em climas quentes: quanto maior for a temperatura, mais rápidas serão as reações químicas do intemperismo.

Os detritos e os sedimentos depositados por uma geleira formam uma rocha não consolidada chamada “till”. Ao petrificar, ela forma o “tilito”, uma rocha sedimentar terrígena composta de sedimentos de granulometria diversa, isto é, com partículas de diferentes tamanhos dispostas numa matriz de lama. Essa rocha é encontrada em várias regiões brasileiras.
Outro exemplo é o varvito de Itu (SP), formado pela alteração do till no momento do recuo da geleira por degelo. Neste caso, trata-se de uma sedimentação fluvioglacial, na qual a água foi o agente principal, e caracterizada por camadas alternadas de sedimentos claros e escuros e de diferentes tamanhos.

Glaciações

O nosso planeta tem uma longa história de vida. Os cientistas estimam a idade da Terra em 4,5 bilhões de anos. Por isso, para tentarmos entender sua evolução, precisamos mudar de escala de tempo: da humana para a geológica. Atualmente, as mudanças climáticas estão em pauta e muitos a tratam como algo inédito. Mas ela não é. Os fenômenos meteorológicos com duração de dias, semanas, meses, anos, até mesmo décadas ou séculos, são considerados fenômenos naturais, se lidos na escala do tempo geológico.

No passado, o clima da Terra foi diferente do atual e no futuro também será. Por quê? Porque nada no planeta Terra é imutável. As paisagens não são imutáveis, o meio ambiente e o clima também não. Da mesma forma, os organismos vivos e as sociedades humanas evoluem constantemente. O clima possui uma variabilidade cíclica e essas variações afetam profundamente as paisagens e as formas de vida terrestres.

Os períodos glaciais e interglaciais são exemplos disso. Durante os períodos glaciais, mais frios que o atual, as geleiras se expandiram e durante os períodos interglaciais elas recuaram. Essas oscilações seriam ocasionadas por variações sazonais e latitudinais da radiação solar, que alterariam a quantidade de calor que a Terra recebe do Sol em intervalos de, aproximadamente, 100 mil anos.

Em 1938, o sérvio M. Milankovitch elaborou uma teoria baseada nas variações cíclicas de três elementos. Grosso modo, a Teoria de Milankovitch demonstra que: 1. Mudança na orientação do eixo de rotação da Terra que altera o dia dos equinócios. 2. Alteração na inclinação desse eixo que gera invernos mais frios e verões mais quentes. 3. Variação da órbita da Terra em relação ao Sol, ora a órbita é mais elíptica, ora mais circular, o que gera uma diferença na insolação.

A teoria fornece um modelo matemático que correlaciona as diferenças latitudinais de insolação e as temperaturas da superfície terrestre com os períodos glaciais. Depois de muita contestação, décadas mais tarde essa correlação foi comprovada por meio do estudo dos sedimentos do fundo oceânico.

*Andrea de Castro Panizza é doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo e autora de Como Eu Ensino Paisagem (Melhoramentos)

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