Cultura

Festival gratuito aproxima e desmistifica ciência para o público

Programação acontece em mais de 80 cidades brasileiras nos dias 20, 21 e 22 de maio. Objetivo é aproximar a ciência da sociedade

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Nos dias 20, 21 e 22 de maio acontece em 85 cidades brasileiras o Festival Pint of Science, iniciativa que tem como objetivo estabelecer um canal de comunicação direta entre pesquisadores e cientistas e público sobre pesquisas e ciência. São bate-papos descontraídos em bares sobre os mais diversos temas científicos, como vacinação, mudanças climáticas, câncer, vida em Marte, modificação genética de bebês, entre outros.

Ao todo, 23 países organizam programações no festival, como Espanha, França, Portugal, Rússia, entre outros. No Brasil, a USP apoia o evento desde a sua primeira edição, em 2015. A jornalista do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, Denise Casatti, responsável por trazer o festival ao Brasil, fala sobre a oportunidade que o evento traz.

“Estamos conectados com a ideia de defender a ciência brasileira, os pesquisadores e as universidades pelo valor que trazem, não tem a ver com uma perspectiva ideológica ou partidária. A ideia é mostrar o que acontece na universidade, como as pesquisas são desenvolvidas e como elas chegam às comunidades via os projetos de extensão”, explica. Só em 2018, a USP atendeu 43 mil pessoas em 1.132 cursos oferecidos à população.

No ICMC, que fica em São Carlos, por exemplo, há um projeto de letramento digital para idosos, para que eles consigam utilizar dispositivos móveis. Além da formação, os pesquisadores desenvolveram um aplicativo para sanar as dificuldades do grupo e inseri-los nas tecnologias. “Isso é apenas o resultado prático de um de nossos projetos”, comenta Denise.

Cortes e perseguição

O cenário brasileiro atual é de cortes nos orçamentos das universidades federais, que podem impactar gravemente a continuidade de suas atividades, e de perseguição ideológica às instituições – USP, Unesp e Unicamp, por exemplo, estão sob a mira de uma CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo, que nasce sob uma alegada justificativa de investigar possíveis desvios de recursos e um possível aparelhamento de esquerda.

A coordenadora nacional do festival e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Natália Pasternak, reforça o papel da iniciativa de celebrar a ciência. “Os cientistas que vão aos bares bater papo com o público são docentes ou pós-graduandos. De maneira geral, a população não sabe o que faz um profissional de mestrado e doutorado, não entende que eles seguem uma carreira acadêmica que traz retorno à sociedade. E essa chance está colocada no Pint of Science. Nesse sentido, estamos muito preocupados com a questão dos cortes orçamentários, pois sabemos que é a pós-graduação que faz a ciência andar. Não existe laboratório que funcione ou docente que consiga seguir uma linha de pesquisa sem estudantes de iniciação científica – mais jovens, ainda na graduação -, e também os mestrandos e doutorandos, que já são profissionais formados. Isso acaba com a ciência no Brasil e demora uma geração para recuperar”, alerta.

Ela também rebate as acusações ideológicas que recaem sobre as universidades. “Beira o ridículo, como vamos explicar aos parlamentares que produzimos ciência e tecnologia, e não somos reduto de pessoas peladas, surubas e maconha? Ir ao festival, aliás, seria uma ótima oportunidade para entenderem”, ironiza.

A programação acontecerá em diversos endereços pelas cidades (veja a programação completa) e a participação é gratuita. Em São Paulo, por exemplo, estão previstos os temas “Como falar de ciência no grupo da família?, “Saúde mental: das mães aos filhos”, “Ciências pelas mulheres: experiências de gestão”, entre outros. No Rio de Janeiro, “Usos Medicinais da Cannabis”, “Evidências Científicas da Evolução”, “Mudanças Climáticas: o que a Ciência nos diz?”.

O festival Pint of Science nasceu de uma iniciativa dos pesquisadores do Imperial College London, Michael Motskin e Praveen Paul, em 2012. A iniciativa era levar pessoas para conhecerem o laboratório em que eles trabalhavam com pesquisa sobre doenças degenerativas. Assim, surgiu a proposta de sair da universidade e encontrar as pessoas, estabelecendo um canal direto de comunicação entre pesquisador e população. No Brasil, a iniciativa chegou primeiramente a São Carlos, a primeira cidade da América Latina a participar do Pint of Science.

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