Educação

Festa literária aborda periferias territoriais e existenciais

Em sua quinta edição, Festa Literária das Periferias, a FLUPP, discute racismo, feminismo, homofobia, entre outros temas

FLUPP|
A FLUPP foi vencedora do Prêmio Excellence Awards de melhor festa literária flupp festa literária periferia|
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“A periferia vai muito além da dimensão territorial, há também as periferias existenciais”. Com essa frase, o escritor Julio Ludemir explica a escolha de Caio Fernando Abreu como o grande homenageado da 5ª edição da Festa Literária das Periferias, a FLUPP, que acontece entre 8 e 13 de novembro na favela da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.

Homossexual e vítima de AIDS, o escritor gaúcho morto há 20 anos deu voz a uma das muitas minorias historicamente reprimidas em nossa sociedade. “Nunca tínhamos homenageado um escritor com uma literatura assumidamente gay. O Caio representa essa literatura e a existência do outro, do negro, do gay, do trans”, explica Julio, idealizador da festa ao lado do também escritor Ecio Salles.

Nesse escopo, racismo, feminismo, homofobia, transfobia, entre outros temas de relevância pautarão o encontro totalmente gratuito que também celebra os 50 anos da comunidade Cidade de Deus. Ao longo de seis dias, serão mais de 100 autores de 20 nacionalidades, envolvidos em shows musicais, espetáculos teatrais, realidade virtual, gincana literária e competições de poesia falada, chamadas de poetry slam.

Prestigiada internacionalmente, a FLUPP foi vencedora no ano passado do Prêmio Excellence Awards de melhor festa literária, conferido pela London Book Fair, superando eventos internacionais como o Open Book, da África do Sul, e o polonês Krakow Festival Office. “Quando se faz um evento como esse na periferia, a gente está incluindo, fazendo um diálogo em três camadas. Primeiro dentro da própria Cidade de Deus. Segundo, da favela com as demais periferias do Rio. E, por último, há um diálogo entre territórios periféricos e o mundo”, diz Julio.

Para ele, apesar de tantas manifestações artísticas terem como berço a periferia, a exemplo do rap, do samba e do cordel, há ainda um estranhamento de parte da população com a escolha da favela como palco de uma festa literária. “Por que é natural fazer uma festa literária em Paraty ou no centro do Rio e se a gente desloca a sede para a periferia as pessoas se surpreendem? Isso é revelador de uma situação excludente. Como se ninguém lesse, ninguém escrevesse na periferia. Quando a gente trabalha na Cidade de Deus, a gente trabalha com o reconhecimento de que existe um leitor e um narrador de potencial na periferia”, diz.

Esse ano, além da competição de poesia falada nas modalidades internacional e nacional, a FLUPP traz pela primeira vez a modalidade intercolegial. O FLUPP Slam Colegial será composto por poetas de escolas estaduais de cinco regiões populares do Rio de Janeiro.

“A FLUPP tem também essa dimensão de formação de autores. O público jovem adora o poetry slam. Percorremos as escolas com essa iniciativa e vimos os alunos replicando as competições nos auditórios, enfim, se apropriando dessa manifestação. O mundo precisa ver isso, esse jovem negro da periferia que escreve, que lê”, finaliza Julio.

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