Educação

Por que ouvir a comunidade escolar?

Iniciativas mostram que a escuta sensível é fundamental para ressignificar a educação

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|Fábio Arantes/ Secom/ PMSP |
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Repensar a educação infantil e torná-la mais significativa às comunidades escolares do município de Rio Piracicaba, em Minas Gerais. Esse foi o desafio colocado para a Fundação Vale, quando a instituição iniciou a articulação junto à gestão municipal, no segundo semestre de 2016.

O projeto piloto que se desenhou junto às seis escolas da rede utilizou como estratégia central a escuta ativa junto a cada um dos atores escolares – professores e corpo docente, estudantes e seus familiares. “Esta etapa foi fundamental para alinhar a iniciativa às expectativas de quem de fato vivencia as escolas”, coloca a gerente de parcerias intersetoriais da Fundação Vale, Andreia Rabetim.

O instrumento utilizado foi o diagnóstico situacional participativo, implementado pela Solidariedade França-Brasil, instituição que atua na defesa e promoção dos direitos de crianças e adolescentes.

“A metodologia foi fundamental para que pudéssemos conhecer as necessidades e as potencialidades, as práticas cotidianas e as dinâmicas estabelecidas na realidade que queríamos transformar”, conta a gerente de projetos sociais da Solidariedade França-Brasil, Suzete Younes Ibrahim.

Foram realizadas entrevistas, questionários individuais, discussões coletivas e registros de imagens. Depois da coleta, foi possível desenhar um plano de ação junto aos gestores municipais e elencar as prioridades para as escolas. Atualmente, a Fundação Vale segue com o projeto para o município de Itabira, com previsão de término da fase de diagnóstico em dezembro de 2018.

Na prática

A escuta permitiu ao projeto ter uma atuação mais assertiva, como conta Andreia. “As principais demandas foram relativas à formação de professores e intervenção nos espaços escolares.”

Além de pensar uma condução formativa às equipes pedagógicas das escolas – entre professores, coordenadores, porteiros, merendeiros e demais funcionários -, também foi possível sugerir alterações na dinâmica espacial das unidades.

As escolas foram contempladas com mobiliário específico para as crianças, bebedouros, laboratórios para atividades investigativas e recursos que apoiam o trabalho pedagógico, como livros, jogos e fantasias, possibilitando um trabalho lúdico com os estudantes.

“Após o projeto, muitas escolas incorporaram a escuta com as crianças em suas práticas por entenderem que isso figura entre os direitos delas”, acrescenta Suzete.

Ouvir para mudar

Trajetória parecida trilhou uma escola da rede municipal de São Paulo. A EMEF Dama Entre Rios Verdes, localizada na zona leste de São Paulo, também contou com a participação de sua comunidade para promover intervenções em prol da melhoria de sua educação.

A unidade foi uma das participantes do Projeto Territoriar, iniciativa desenvolvida pela Rede Marista de Solidariedade através do Centro Marista de Defesa da Infância, que tem como mote o repensar das relações escolares a partir da oferta de ambientes educativos.

A escola que, segundo o diretor Marco Antônio Mattos de Abreu, já acumulava repertório na cultura participativa com os estudantes, se organizou para os momentos de escuta com toda a comunidade.

“Vimos que a ideia que tínhamos para os espaços da escola era totalmente diferente do que pretendia a comunidade”, conta Marco. “Tínhamos um projeto inicial de ofertar salas de leitura e a principal demanda foi referente à área externa da escola, local em que os estudantes passavam o intervalo”.

Projeto Territoriar: EMEF Dama Entre Rios Verdes

O amplo espaço não tinha atrativos para a convivência dos estudantes e entrou na pauta de reformulação proposta pelo Territoriar. A área ganhou parquinho, mesas e bancos, demarcação de tabuleiro de xadrez e paisagismo. Hoje, configura-se como um local de permanência dos alunos.

Outro ponto de destaque para o diretor é que os estudantes se organizam para gerir a área. “São eles que determinam as regras de uso e as responsabilidades de cada um. O projeto despertou neles um maior senso de pertencimento à escola”, relata.

O analista do Centro Marista de Defesa da Infância, Vinícius Gallon, reforça que os ambientes atuam como elementos educadores. “Por isso, quanto maior as referências oferecidas, como texturas, cores, e ambiências, mais complexas as vivências das crianças. E defende: “os espaços não podem ser dissociados dos projetos políticos pedagógicos das escolas e precisam permitir a criação, a participação da infância.”

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