Educação

Escola Sesc do Rio de Janeiro promove demissão em massa de professores

Docentes e sindicato criticam o processo e avaliam que a dinâmica serve a um projeto de precarização da educação

Foto: Sinpro - Rio Créditos: Sinpro - Rio
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A trajetória de 14 anos da professora Regina Marcia Barbosa Lucas na Escola Sesc de Ensino Médio, no Rio de Janeiro, chegou ao fim na última quinta-feira 9. Ela integra um grupo de pelo menos 20 docentes demitidos no mesmo dia. O total de dispensados, no entanto, passa dos 30, quase a metade do atual quadro de professores.

 

O processo de demissões, iniciado no fim de novembro, decorre de uma ‘mudança do plano de negócios’ da escola anunciado pela Direção Nacional do Sesc. Os professores têm se manifestado contra os desligamentos e, no início deste mês, divulgaram uma carta aberta em defesa do projeto da escola, que, segundo grafam’, ‘corre o risco de chegar ao fim’.

“O projeto aposta na potência da educação como um caminho para a transformação da vida de jovens oriundos de camadas sociais vulneráveis de todas as unidades federativas, com o apoio de todos os departamentos regionais do Sesc. Depois de catorze anos de resultados extraordinários sobejamente divulgados e atestados pelos alunos desta instituição, hoje profissionais de sucesso e potentes cidadãos, transformadores da sociedade, espalhados por todo o mundo, o projeto corre o risco de chegar ao fim”, aponta o grupo, que ainda critica a forma como o processo vem sendo conduzido e entende que a mudança se dá em prol de uma educação de caráter economicista.

“Um novo modelo de escola impõe-se de forma unilateral, interrompendo, abruptamente, o caráter nacional do projeto. Em consequência das mudanças desse ‘novo modelo de negócio’, que considera a educação na lógica economicista, iniciou-se um processo de demissão em massa de professores, de forma desrespeitosa e antiética, interferindo, inclusive, nas atividades pedagógicas em curso“.

Os docentes também lamentam o fato de terem sido excluídos do processo de mudança em curso para a unidade. A categoria é acompanhada desde o início do processo pelo Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região, que promove assembleias e tenta barrar as demissões, sem sucesso. Além de atos nas unidades, há um abaixo-assinado para pressionar pela reversão das demissões.

O diretor jurídico do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região, Elson Paiva, critica os direcionamentos dados pela Direção Nacional do Sesc, comandada por José Carlos Cirilo, que tem história no Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio, também integrante do ‘sistema S’.

“O que a gente vê é a educação sendo tratada como mercadoria, como um produto de prateleira, então você vai lá, corta pela metade, sem um lastro com a qualidade”, dispara Paiva, referindo-se ao enxugamento das vagas ofertadas aos estudantes.

Criada em 2008, a Escola Sesc de Ensino Médio nasceu como uma escola residência, onde os estudantes tinham a experiência de morar, assistir às aulas e participar de itinerários formativos e atividades culturais. A tônica de residência prevaleceu até 2019, com 100% das vagas ofertadas no modelo, inclusas as despesas relativas a instrução, material didático-pedagógico, hospedagem e alimentação. O edital ofertava 169 vagas.

A partir de 2020, os editais passaram a prever um modelo híbrido, com vagas para residência e outras em regime externo. No edital do ano passado foram ofertadas 160 vagas; no de 2021, 90 vagas, mesmo número do de 2022.

Em nota, o Sesc reconheceu que a escola ‘está passando por um período de restruturação desde 2020’ e que até 2025 deixará de operar com o regime residencial, atendendo apenas alunos no Rio de Janeiro em sistema de externato, sem que isso afete a qualidade da educação ofertada. Ainda de acordo com a instituição, a mudança ‘representará um aumento expressivo de matrículas, em regime integral e gratuito’.

“Para tanto, parte do corpo docente precisou ser desligado, pois a mudança acarreta também modificações no regime de trabalho profissional.”

Para a professora Regina Lucas, uma das demitidas, a narrativa não convence. Tradicionalmente, os editais de vagas para a escola previam quatro etapas de seleção: prova objetiva, redação, análise dos critérios do edital e entrevista. Nos últimos dois anos, devido à pandemia, a seleção foi feita por sorteio. “Com isso, tivemos a caracterização de um grupo de estudantes de perfil socioeconômico mais baixo, os que antes não passavam na prova conseguiram entrar.”

“Entendo que está em curso uma substituição dos profissionais por uma mão de obra mais barata que possa atender a essa população de baixa renda. Isso é lastimável, só corrobora com a lógica desse governo de que, para pobre qualquer coisa serve.”

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