Educação

Escola sem Partido tenta anular critério de redação do ENEM

Movimento quer retirar critério que invalida redações que desrespeitam os direitos humanos

Escola sem Partido tenta anular critério de redação do ENEM
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O Escola sem Partido, movimento criado pelo procurador do estado de São Paulo Miguel Nagib, protocolou uma ação pública requerendo o cancelamento de um dos critérios de avaliação da redação do ENEM.

A ação pública nº 0064253-55.2016.4.01.3400 questiona o critério que prevê a anulação das redações que desrespeitarem os direitos humanos, disseminando mensagens de ódio ou qualquer tipo de preconceito.

Além de considerar o critério subjetivo e injusto, por entender que a legislação sobre os direitos humanos não está entre os temas cobrados dos candidatos, a ação entende que “o próprio INEP desrespeita os direitos humanos propriamente ditos, uma vez que as liberdades de pensamento e opinião, além de garantidas pela Constituição Federal, estão previstas na Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

Procurado pelo Carta Educação, o INEP alegou que o processo está sendo acompanhado por sua Procuradoria-Geral Federal. Segundo o acompanhamento, a ação interposta em dezembro de 2016, teve liminar indeferida em 1º juízo, e novo recurso apresentado em abril de 2017, novamente rechaçado pelo Tribunal. Atualmente, a ação está em andamento no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.

Sobre o conteúdo da ação, o INEP alega que “a prova de redação do Enem sempre assinalou que o participante respeitasse os direitos humanos”, e que a obrigatoriedade surgiu após a publicação das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, em 2013.

Após a data, como reforça, o exame passou suscitar discussões sobre o assunto, a partir dos temas: Publicidade infantil em questão no Brasil, em 2014; A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira, em 2015; Caminhos para Combater a Intolerância Religiosa no Brasil/Caminhos para Combater o Racismo no Brasil, em 2016.

Uma questão de pedagogia

Para a socióloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Maria Victoria de Mesquita Benevides, a ação é completamente descabida.

“Ir contra os direitos humanos em nome da liberdade de expressão é algo que já vem sendo exaustivamente discutido. É sabido que os direitos humanos tem como matriz o direito a vida com dignidade, não uma simples sobrevivência. Isso significa que os princípios da igualdade, liberdade, justiça e solidariedade são parte fundamental desta agenda. Não existe liberdade de expressão acima do respeito aos direitos humanos”.

A especialista também critica a agenda do Escola sem Partido que prega uma educação neutra, inexistente. “É preciso entender o que significa a palavra partido. Não estamos defendendo que a escola defenda partidos políticos, mas que tenha sim uma posição, que parta de um conjunto de princípios, valores, visões de mundo, e que isso permeie todo o seu trabalho pedagógico”, afirma.

Maria Victoria entende que isso é fundamental para que a escola cumpra com sua obrigação oficial que é de preparar para a cidadania, para além de só transmitir conteúdos.

“Ao adotar esse conjunto de princípios, valores e metodologias a escola assume uma posição pedagógica, ideológica, moral e política, ou seja, não é neutra”, explica.

A especialista ainda relembra que as escolas têm respaldo das normas regimentais da educação para este trabalho e que seus planos político pedagógicos devem se adaptar às singularidades de cada contexto, do meio social predominante, e ainda dialogar com as diretrizes tais como Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Plano Nacional de Educação, entre outros.

“Partindo disso, toda escola tem um partido, o que difere muito da questão doutrinária que é erroneamente divulgada pelo movimento”, finaliza.

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