Uma escola localizada no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, exibe duas placas, uma na parede frontal e uma no telhado, com os dizeres: “Escola, não atire”. A medida é uma tentativa da instituição de se proteger das constantes operações policiais no território e das trocas de tiro.
Na última ação deflagrada pela Polícia Militar, no dia 6 de maio, policiais atiraram de dentro de um helicóptero, levando pânico à comunidade. Oito pessoas morreram. A ONG Redes da Maré contabilizou 20 marcas de tiros no chão, em uma praça da Maré, disparados de cima para baixo. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), estava a bordo da aeronave.
Veja o vídeo do momento da ação:
As placas foram instaladas na escola em 2016, depois que a unidade foi metralhada. A ação foi decidida pela fundadora do Projeto Uerê, mantenedor da escola, Yvonne de Melo. A unidade atende cerca de 300 estudantes do entorno e oferece uma pedagogia desenvolvida para crianças e jovens em zona de risco, traumatizados pela violência e com sérios problemas de cognição.
“A violência aqui, infelizmente é corriqueira. Mas o que assustou foi a potência da última operação. Os helicópteros davam rasantes, soltavam rajadas de tiros”, conta a presidente do Uerê, Luciana Campos Ramos Marta. Ela conta que muitas crianças ficaram presas na escola no momento do tiroteio. Também foi registrado pânico na escola municipal Medalhista Olímpico Lukas Saatkamp. As crianças ficaram aglomeradas no corredor com seus professores até o cessar dos tiros.
Luciana afirma que as situações de violência causam uma regressão no desenvolvimento das crianças e adolescentes. “Há um impacto direto na parte instrutiva e cognitiva deles. Um dia após esses episódios, ninguém consegue estudar, eles não dormem, têm pânico, medo do futuro que se apresenta nada promissor.”
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