Educação

Entenda a transposição do Rio São Francisco

Por que o desvio de parte das águas do Velho Chico para o semiárido nordestino é tão polêmico?

Inauguração da Estação de Bombeamento
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O que é o Rio São Francisco? Por que ele é tão importante?

Também conhecido como Velho Chico, o rio São Francisco é um dos mais importantes do Brasil. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, atravessa a Bahia, Pernambuco e faz a divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas antes de desaguar no Atlântico. Pela sua extensão e relevância, também é chamado de rio da integração nacional e escoa por paisagens muito diversas, incluindo os biomas da Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. É também muito importante do ponto de vista econômico. Devido sua característica perene, isto é, que nunca seca, propicia agricultura irrigada, pecuária e pesca, sendo o grande responsável pelo desenvolvimento das comunidades do seu entorno. Atualmente, a região destaca-se pela produção de frutas tropicais e também pela produção de vinho.

No que consiste sua transposição?

É um projeto em andamento, sob a responsabilidade da federação, com o objetivo de direcionar parte das águas do rio para o semiárido nordestino. Apesar das obras terem se iniciado em 2007, a ideia da transposição é muito mais antiga: começou a ser discutida em 1847 por intelectuais do Império Brasileiro de Dom Pedro II. No modelo atual, prevê o desvio de 1% a 3% das suas águas para abastecer rios temporários e açudes que secam durante o período de estiagem. Para isso, conta com a construção de mais de 700 quilômetros de canais que farão o desvio do volume. A obra divide-se em dois grandes eixos. O Eixo Norte se encarrega de captar as águas em Cabrobó (PE) e levá-las ao sertão de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O Eixo Leste, por sua vez, realizada a captação das águas em Floresta (PE) a fim de beneficiar territórios de Pernambuco e Paraíba.

Qual é a situação atual das obras? Por que o projeto virou um embate entre Lula, Dilma e Temer?

A obra foi iniciada em 2007, mas vários contratempos a adiaram para 2015. O projeto, portanto, saiu do papel durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). No entanto, o Eixo Leste da transposição foi inaugurado no início de março deste ano, isto é, pelo atual governo Temer. Como as diferentes etapas de implementação do projeto acabaram coincidindo com governos distintos, uma verdadeira batalha pela “paternidade” da obra vem sendo travada. Alguns dias após Temer inaugurar oficialmente a conclusão do eixo Leste, Lula e Dilma fizeram uma “reinauguração”. A previsão é que o Eixo Norte, que já tem 94,5% das obras concluídas, seja entregue até o fim do segundo semestre de 2017.

E por que transpor o Rio São Francisco? Quais os benefícios?

A segurança hídrica para a região semiárida brasileira é, sem dúvida, o maior dos proveitos. O aumento do abastecimento das áreas secas culminaria na elevação da produção de alimentos, queda da mortalidade de rebanhos e, portanto, favoreceria diretamente a produtividade e vida no campo. O impacto também se estenderia à saúde dos moradores da região, já que as águas do Rio São Francisco são de qualidade superior àquelas existentes nas bacias receptoras, diminuindo assim a incidência de doenças ligadas ao consumo de água imprópria.

Então, por que tantas pessoas são contra?

O tema é controverso porque uma obra desse porte induz uma série de novas interações e impactos ambientais. Grande parte das críticas referem-se aos impactos negativos que a alteração traria para o ecossistema da região ao intervir no habitat natural de muitas espécies. Há também a possibilidade de salinização e erosão dos rios receptores devido ao volume de água repassado e o estado de fragilidade dos afluentes que alimentam o São Francisco. Logo, a transposição poderia ameaçar a sobrevivência do rio. Outro argumento é o de que a transposição serviria para expandir as fronteiras do agronegócio, beneficiando, sobretudo, latifundiários, pois grande parte dos canais passa por fazendas. Apenas 4% da água será destinada à população local, 26% ao uso urbano e industrial e 70% para irrigação da agricultura.

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