Educação

Em livro, jornalista orienta crianças a criarem grupos contra fake news

Autor do livro ‘Esquadrão Curioso’ defende que os boatos sejam abordados nas escolas como forma de contribuir com o senso crítico dos alunos

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O jornalista Marcelo Duarte partiu de uma situação bastante pessoal para decidir escrever sobre fake news. Um dia, ao chegar do trabalho, foi procurado pelo filho de 13 anos que trouxe a seguinte colocação: “Pai, olha essa notícia que eu vi na internet. Cheirar o pum de outras pessoas aumenta o seu tempo de vida”.

Ao dizer ao filho que se tratava de um boato, viu que o garoto não se convenceu. Isso porque ele tinha em mãos os supostos nomes da universidade e do cientista responsável pelo estudo.

A sua estratégia foi a de propor uma pesquisa conjunta, em que buscaram checar as informações trazidas pela suposta notícia, como o nome da faculdade e do pesquisador, que obviamente não existiam.

Naquele momento, o jornalista, que já é autor de outros livros direcionados ao público infanto-juvenil, como o Mistério da Figurinha Dourada, que aborda o tema ética, voltou suas atenções ao tema das fake news entre crianças e adolescentes. “No nosso imaginário, as notícias falsas só ocorrem entre pessoas mais velhas, e vi que não.”

Nasce o Esquadrão Curioso: caçadores de fake news

Para criar o livro, o jornalista consultou o site E-farsas, que se dedica a desmentir mentiras propagadas em veículos e redes sociais. Juntamente com o editor do site, Marcelo separou apenas fake news relacionadas ao universo de crianças e adolescentes. “Todas as notícias selecionadas foram publicadas no cenário nacional ou internacional, mas todas eram mentirosas. Daí veio a brincadeira que trago no livro, baseados em fatos reais, mas nem por isso necessariamente verdadeiros”, explica.

Na obra, o autor retoma vários desses boatos, como um ataque de discos voadores, um telefone celular com oitocentos anos de idade, uma capa que deixa qualquer um invisível e baleias despencando do céu. Os boatos são encarados pelos alunos do Colégio Pedro Álvares Cabral – Isa, Pudim, Léo e Débora – que se unem para desmenti-los e combater o vilão que as distribui, Fake Nilson, e seu assistente, Engodo.

Além do tom lúdico, o jornalista retoma alguns fatos que cercam as fake news, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016, promovida com base em boatos divulgados pelo então candidato.

As fake news e as escolas

Acrescida à demanda pessoal, trazida pelo filho, Marcelo percebeu que o tema não era abordado pela escola dele, assim como em muitas outras, fato que também o impulsionou a escrever a obra e estimular o debate em sala de aula.

“Fala-se muito em bullying, sobre casos de depressão e suicídio mas, as fake news, os boatos também são causadores dessas situações”, atesta.

Desde o lançamento do livro, em outubro de 2018, o jornalista tem sido convidado por algumas escolas particulares de São Paulo para abordar o tema. “Eu começo a palestra lendo uma carta do diretor, totalmente fake, dizendo que a partir de uma determinada data o intervalo da escola estará suspenso. Aí você vê o colapso das crianças. Depois, vou desconstruindo isso com eles, afirmo que se trata de uma mentira, um boato, e pergunto a eles se sabem de casos parecidos entre eles ou com familiares”.

Marcelo entende que o trabalho de orientar sobre pesquisa, sobre a validação de informações estimula o senso crítico de crianças e adolescentes. “É quase um trabalho jornalístico mesmo, de apurar, de não acreditar em tudo o que se lê”.

Para ele, o trabalho deve ser dividido entre escolas e famílias. “Eu até proponho no livro que os estudantes levem para as escolas a ideia dos esquadrões curiosos, que se unam em grupos para pesquisar a validade de determinadas notícias e contem uns aos outros o que descobriram. Essa é uma maneira de tornar o tema ativo em sala de aula e abordá-lo a partir do aspecto lúdico”, garante. A lógica também pode ser utilizada entre familiares.

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