Educação

Debate marca lançamento de Carta Educação

Professora da rede pública, psicóloga especializada em família e pesquisador de Pedagogia discutiram os novos papéis da escola e da família no ensino

Lançamento do Carta Educação
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A partir de hoje está no ar oficialmente Carta Educação, novo veículo de CartaCapital que pretende tratar de educação não apenas no âmbito escolar, mas envolvendo toda a sociedade. Para iniciar a conversa, um debate com o tema “Educação: de quem é a responsabilidade?” ocorreu no dia 19 de outubro, em São Paulo, trazendo reflexões sobre os novos papéis da escola, sociedade e família na educação.

O coordenador de pesquisas do Cenpec, professor colaborador da Universidade Federal de Minas Gerais e convidado da Universidade Nacional de La Plata, Antonio Augusto Batista, começou traduzindo uma constatação em pesquisas. “A escola não se bica com as famílias das classes populares. Esta relação é um jogo de empurra”, afirmou.

Ele explicou que as classes médias, em geral, dão valor a escolarização. “O pai pensa que a melhor herança que pode deixar é o diploma e investe nisto”, exemplificou. Segundo ele, a escola espera o mesmo das classes populares e acaba olhando para elas “naquilo que não são, não fazem e não conseguem fazer” e não pelo esforço que empenham para que o filho vá a escola, apesar das dificuldades financeiras e culturais. Logo, enquanto a família de classe média faz um investimento, a das classes menos abastadas faz um esforço. “A escola é como o barraco deles, construído com o que se tem à mão. É preciso que a própria escola apresente a eles o valor da escola.”

A psicóloga e coordenadora do Laboratório da Família da Universidade de São Paulo, Belinda Mandelbaum, afirmou que estamos todos sendo continuamente educados e criticou o caráter “disciplinarizador” desta educação. “Se entramos no elevador, tem uma câmera para lembrarmos de nos portar de um jeito, para tudo tem um modo certo e tanto a família quanto a escola sofreram abalos na sua autoridade”, comentou.

Para ela, a desqualificação do saber das famílias, dos ensinamentos das avós, por exemplo, em nome de um saber “qualificado” faz com que pais procurem orientação demais sobre como educar os próprios filhos. “As famílias entregaram aquilo que era sua tarefa para outros, por não se sentirem especialistas. Hoje, os pais acham que não podem educar seus filhos sozinhos, precisam de psicólogos, psicopedagogos, que mostrem o caminho”.

Em relação às escolas, ela reforçou que os educadores não podem esperar uma família nuclear ou procurar em eventos familiares as respostas para desempenho pedagógico. Citando dados do Censo, ela desconstruiu o conceito de que o modelo de família nuclear é maioria. “Desde 2006, as famílias com pai e mãe juntos são só 49% do total. Preconceito contra diferentes arranjos, portanto, é excluir mais da metade das configurações”, disse. “É preciso que os encontros entre escola e família não sejam violentos e um caminho para isso é estudar, discutir na própria escola estes novos modelos”.

Falando em nome dos educadores que estão no “chão da escola”, a professora e atual coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Educação Infantil, Naíme Silva, falou das instituições públicas da cidade de São Paulo que fazem experiências de ocupação do território e mostrou um vídeo em que crianças ocupam a rua General Jardim, no Centro. “Estas escolas são um pólo de resistência. Em tempos de internet, com o conhecimento a um clique, a escola precisa rever sua relação com o conhecimento”, disse.

Para ela, os professores devem se tornar sistematizadores do conhecimento científico e fazer a articulação e a mediação. “A criança precisa ser vista como protagonista de sua aprendizagem e a cidade como um espaço educador. A família, a comunidade não podem só ser convidados para entrar na escola em dia de reunião ou festa. A escola deve se abrir para que a sociedade leve seus debates para dentro do seu espaço e levar seus debates internos para a cidade”, concluiu.

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