Educação

Datas do Enem reforçam distanciamento do MEC com estudantes, avalia pesquisador

Para Ocimar Alavarse, calendário do exame foi definido pelos interesses de universidades privadas e secretários de educação com o ano letivo

Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil
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As datas anunciadas pelo Ministério da Educação e Inep para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não agradaram grande parte dos estudantes do País.

O novo calendário do exame desconsiderou o resultado de uma enquete, proposta pelo próprio MEC, em que os alunos apontaram qual seria o melhor período para a realização do exame.

49,7% preferiam fazer a prova em maio de 2021; 35,3%, em janeiro de 2021 e 15%, em dezembro de 2020. Mesmo diante o resultado, a prova foi marcada para os dias 17 e 24 de janeiro, na versão impressa; e para os dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro na versão digital.

A polêmica é mais uma “de ordem política” que recai sobre a pasta da Educação, na avaliação do doutor em Educação e especialista em avaliações educacionais, Ocimar Munhoz Alavarse.

“O governo se propôs a uma espécie de consulta com caráter de plebiscito mas, ao final, mostra que outros agentes definiram essas datas, independentemente dos respondentes”, avalia.

“As datas foram definidas pelas universidades privadas e estaduais e pelos secretário de educação que já têm como pétreo o início do ano letivo do Ensino Superior em março de 2021. E para que isso aconteça, é plausível que se tenham os alunos selecionados em meados de janeiro”, explica.

Para justificar a decisão, representantes do MEC e Inep utilizaram a soma dos estudantes que não escolheram maio como o período adequado, o que dá 50,3%. Ainda assim, Alavarse não compreende o raciocínio. “Se fosse para fazer valer uma média entre os estudantes que o exame fosse feito em março, por exemplo”, observa.

Em sua avaliação, a medida expõe mais uma vez a postura distante do MEC para com os estudantes. “Deixa claro quem pode interferir na tomada de decisão”, atesta.

Também corrobora, em sua análise, com a falta de política educacional do governo Bolsonaro. “O Enem está inserido dentro de um contexto de indefinições desse governo, basta ver as polêmicas iniciais sobre o adiamento ou não da prova em um contexto de pandemia, as trocas incessantes de ministros, e as projeções de assuntos secundários e até terciários para o conjunto da educação, como questões ideológicas e as escolas cívico-militares”, critica.

O pesquisador continua a favor do adiamento da avaliação do ponto de vista sanitário e também do ensino aprendizagem dos estudantes. “O Enem, como poucos eventos no mundo, concentra muita gente, e estamos diante de um vírus com transmissibilidade elevadíssima”, considera.

“Em segundo lugar, temos que falar sobre as condições de preparo dos estudantes para uma prova que vai medir proeficiências adquiridas por ensino e estudo. A pandemia comprometeu esses dois processos. Então, o adiamento faria com que os estudantes pudessem ter condições de disputar essas vagas”, completa.

Alavarse explica que as desigualdades educacionais não recaem entre os alunos de escolas públicas e privadas, dada a equiparação feita com as políticas de cotas, mas entre estudantes de mesmo grupo.

“Dentro do grupo de alunos de escolas públicas há diferenças socioeconômicas, bem como entre os da escola privada. Não são todos os estudantes que têm acesso a internet, materiais, com as escolas fechadas. E isso precisa ser considerado. Esse adiamento não resolve esse problema”, crava, ao reafirmar que a pandemia reforçou a importância de aprofundar o debate sobre as diferenças e desigualdades educacionais.

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