Educação

Com ameaças, MEC tenta pressionar desocupação das escolas

Ministério informou que cancelará Enem nas escolas e institutos ocupados e pediu lista com nome dos manifestantes

Com ameaças, MEC tenta pressionar desocupação das escolas
Com ameaças, MEC tenta pressionar desocupação das escolas
As escolas devem ser espaços neutros em matéria de religião e politicamente plurais
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Faltando duas semanas para o Enem, que acontece nos dias 5 e 6 de novembro, o Ministério da Educação (MEC) protagoniza mais um conflito. Na quarta-feira 19, em coletiva de imprensa, o ministro Mendonça Filho anunciou que o exame será cancelado nas escolas e institutos federais ocupados caso a situação não se reverta até o dia 31 de outubro.

Segundo o MEC, 181 unidades onde a prova será aplicada estão atualmente ocupadas, das quais 145 estão no Paraná. Os estudantes se manifestam contra a Medida Provisória da reforma do Ensino Médio, a PEC 241, entre outras políticas de sucateamento da educação pública.

Logo após o anúncio, o MEC encaminhou um ofício circular aos dirigentes das instituições federais de ensino solicitando que identificassem e encaminhassem ao governo federal os nomes dos manifestantes das unidades ocupadas. O texto requisitava a “manifestação formal acerca da existência de eventual ocupação dos espaços físicos das instituições sob responsabilidade de Vossas Senhorias, procedendo, se for o caso, a respectiva identificação dos ocupantes, no prazo de 5 dias”.

Na quinta-feira 20, após reunião ordinária do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), na qual o ofício foi debatido, os representantes dos institutos acordaram em comunicar os campi ocupados e disseram que a decisão de informar ao MEC o nome dos alunos envolvidos nas ocupações caberá a cada instituição.

“Assim sendo, obedecendo o prazo de cinco dias, as instituições apresentarão à Setec o levantamento de quais unidades estão ocupadas pelo movimento estudantil. Com o intuito de garantir a livre expressão dos estudantes, bem como assegurar o funcionamento das instituições, a ocupação de alguns campi também foi assunto de reunião com a secretária de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Eline Nascimento, nessa terça-feira, 18/10”, disse o conselho por meio de sua assessoria de imprensa.

Após a repercussão negativa, o MEC, em nota oficial, se defendeu dizendo ter solicitado “informações sobre a situação dessas ocupações, cumprindo sua responsabilidade legal de zelar pela preservação do espaço público e de garantir o direito dos alunos de acesso ao ensino e dos professores, de ensinar”. Mesmo com o aumento da pressão, os alunos mantêm as ocupações.

Para Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, resoluções como essas evidenciam o caráter autoritário do governo que se instaurou. “Tenho visitado escolas ocupadas e vejo que eles estão abertos ao diálogo. Esse caminho do constrangimento e da ameaça só mostra que o governo não tem capacidade de dialogar. Cancelar Enem nas escolas ocupadas e a criação de listas com nomes dos manifestantes só prova esse caráter de perseguição”, diz.

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