Educação
Chefe de gabinete do MEC disse à CGU que pastor lobista foi vetado na pasta, mas agenda mostra encontros
Djaci Vieira de Sousa, que prestou depoimento a auditores, atuava com Milton Ribeiro e foi mantido no posto por seu sucessor Victor Godoy
Em depoimento prestado à Controladoria-Geral da União (CGU), o chefe de gabinete do Ministério da Educação, Djaci Vieira de Sousa, disse que o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, parou de receber o pastor lobista Arilton Moura assim que tomou conhecimento das suspeitas envolvendo pedidos de propina. Mas a própria agenda oficial da pasta contradiz essa versão.
Djaci concedeu depoimento aos auditores da CGU no dia 4 de novembro do ano passado e disse que Ribeiro pediu para vetar a presença dos pastores lobistas em eventos do MEC.
— Quando teve essa informação que chegou aqui, que foi relatada à CGU, de imediato o ministro pediu já pra suspender mesmo a participação desse senhor nos eventos. A nossa linha aqui é bem severa com isso — afirmou.
Os registros públicos das agendas do MEC mostram que Ribeiro se encontrou com Moura ao menos cinco vezes após ficar sabendo das suspeitas de irregularidades e pedir à CGU para apurar o caso.
Além das cinco agendas oficiais com Milton Ribeiro registradas no MEC após a denúncia feita à CGU, Moura ainda teve encontros com o então ministro em um hotel de luxo em São Luís, no Maranhão, em setembro do ano passado, e também em um jantar reservado em um apartamento em Brasília no mês de dezembro de 2021.
Procurados, o MEC e Moura não comentaram.
O chefe de gabinete também negou que o pastor Arilton Moura tivesse influência no agendamento de encontros com Milton Ribeiro, apesar de os próprios prefeitos terem relatado que era necessária a intermediação dos pastores para obter uma agenda no ministério.
Nessa investigação, que teve duração de setembro de 2021 a março deste ano, a CGU não chegou a colher o depoimento do então ministro Milton Ribeiro a respeito dos fatos. Ele só foi ouvido depois que o caso foi reaberto, após prefeitos relatarem que os pastores eram responsáveis por intermediar agendas com o ministro.
Após ter ouvido apenas integrantes do ministério e nenhum prefeito, a CGU chegou à conclusão de que não houve suspeita de corrupção envolvendo funcionários públicos, mas que pode ter havido crime por parte do pastor Arilton Moura. Por isso, recomendou o envio do material à Polícia Federal.
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