Educação

Bolsonaro recomenda obra do torturador Ustra a professora de esquerda

‘Fala pra ela ler o livro A verdade sufocada aí. Depois ela tira as conclusões. Lá são fatos, não é blá blá blá de esquerdista não’, disse

Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)
Apoie Siga-nos no

O presidente Jair Bolsonaro recomendou a um grupo de estudantes que fizessem uma sugestão de leitura a uma de suas professoras: a obra A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça, do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Os jovens esperavam o presidente para uma conversa, em frente ao Palácio da Alvorada, na manhã desta segunda-feira 30 e, em determinado momento, pediram que o presidente enviasse um abraço a uma de suas professoras, de esquerda.

“Fala pra ela ler o livro A verdade sufocada aí. Só ler. Depois ela tira as conclusões. Lá são fatos, não é blá blá blá de esquerdista não”, disse Bolsonaro.

Morto em 2015, o militar foi condenado em segunda instância por tortura na ditadura militar. Ustra comandou o Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações) em São Paulo, no auge da repressão militar.

Não é a primeira vez que Bolsonaro faz ode ao torturador. Antes de ser eleito ao cargo de presidente, em entrevista ao programa Roda Viva, no ano passado, ele afirmou que a obra de Ustra era seu livro de cabeceira.

Ela traz o ponto de vista dos militares sobre o que ocorreu durante a ditadura, focando sua maior parte nos atentados que eram praticados por grupos da esquerda durante aquele período. “Além dos relatos, procuro desfazer mitos, farsas e mentiras divulgadas para manipular a opinião pública e para desacreditar e desmoralizar aqueles que as venceram”, diz o coronel na descrição da obra.

Durante o processo de votação do impeachment da ex-presidenta Dilma, em 2016, Bolsonaro, então deputado federal  (PSC-RJ), citou de forma entusiástica o torturador antes de proferir seu voto favorável ao afastamento: “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff’’.

 

A ex-presidenta tinha declarado ter pavor do coronel, um dos mais temidos durante o período da ditadura e apontado apontado por dezenas de perseguidos políticos e familiares de vítimas do regime militar como responsável por perseguições, torturas e mortes.

Ustra era chamado nos porões da ditadura de “Dr. Tibiriçá”, sendo o único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça. O Dossiê Ditadura, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, relaciona o coronel a 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos dentro das dependências do Doi-Codi no período em que Ustra era o comandante, de 1970 a 1974.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar