Educação

Alunos se fantasiam de nazistas em atividade de escola cívico-militar do Paraná

Secretário de Ratinho Jr. diz que não se trata de apologia, mas ‘reflexão crítica’; Sindicato afirma que exposição reforça princípios nazistas

Foto: Reprodução/Redes Sociais
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Uma escola estadual na cidade de Arapongas, no interior do Paraná, publicou, na última sexta-feira 6, imagens de um trabalho escolar em que alunos do terceiro ano do ensino médio fazem uso de símbolos nazistas. O caso foi denunciado pela deputada federal Carol Dartora (PT-PR). 

Nas imagens divulgadas pela parlamentar, alunos da escola utilizam um boneco que imita o ditador Adolf Hitler, responsável pela promoção do Holocausto contra judeus e outras minorias na Segunda Guerra Mundial. As imagens também foram compartilhadas pelo Colégio Estadual Marquês de Caravelas, que promoveu o evento.

“Exigimos uma resposta contundente do Governador Ratinho Jr. [PSD-PR] e da Secretaria de Educação do Paraná”, afirmou Dartora, ao denunciar o caso em publicação na rede X, o antigo Twitter.

Em conversa com CartaCapital, Carol Dartora disse que o governo do estado tem que responder sobre o caso. “Isso aconteceu em uma escola cívico-militar. O governador tem que responder sobre isso. Já é hora do governo deste estado se pronunciar e ter ações concretas contra essa ideologia”, apontou. Segundo ela,  “não são ações isoladas no Paraná. Inclusive, estudantes vem sendo mortos em escolas por conta da apologia ao discurso de ódio”. 

Após a denúncia da parlamentar, a Secretaria de Educação do estado abriu um procedimento interno para investigar o caso em caráter de urgência. “Quaisquer doutrinas, partidos, ideologias e demais referências ao nazismo não são tolerados em qualquer escola da rede estadual, sendo a situação relatada em Arapongas, encarada com extrema gravidade”, afirma a pasta em nota.

O Sindicato dos Professores (APP-Sindicato) criticou a exposição dos símbolos nazistas e dos próprios alunos. A organização destacou que se trata de uma escola cívico-militar.

“A princípio, nossa primeira reação foi de espanto. É uma questão que a gente já vem acompanhando, dada a presença de núcleos nazistas no Paraná, como já foi comprovado em pesquisas”, explica Vanda Bandeira Santana, secretária educacional da APP Sindicato, a CartaCapital.

O Núcleo Regional de Educação de Apucarana, cujo perfil curtiu a publicação da escola nas redes, disse que a ideia não era fazer uma apologia ao Nazismo, mas “prevenir a repetição de tragédias como o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial”.

De acordo com o órgão, os alunos do terceiro ano do ensino médio foram divididos em grupos. Cada um seria responsável por retratar um tema sobre a Segunda Guerra – incluindo nazismo. “Este trabalho não apenas detalhou os horrores do passado, mas também buscou inspirar uma reflexão crítica sobre como podemos promover a tolerância, a compreensão, a paz no presente e no futuro”, afirmou a Secretaria Estadual de Educação.

O argumento é rebatido pela APP-Sindicato, que diz que “fazer a exposição do jeito que foi feita está muito mais para reforçar aqueles princípios [ligados ao Nazismo], do que propor uma crítica”. Para o sindicato, o episódio reforça a necessidade de se refletir sobre os métodos de ensino no país.

“Há várias formas de fazer a crítica e buscar a reflexão sem fazer esse tipo de exposição. Ao fazer da forma como está colocada, acaba passando por apologia. Há, também, a exposição dos próprios estudantes. Não tem como não ser considerado apologia. Nós não tivemos acesso à exposição dos estudantes na feira, por exemplo”, aponta a APP.

Para a parlamentar petista, o “argumento do Núcleo assusta pela falta de argumento. A forma como o Núcleo se expressou já aponta desconhecimento. Há uma lei que tipifica o crime de apologia ao Nazismo. Entender que não houve apologia ali é naturalizar o discurso de ódio”. 

No Brasil, a Lei 7.716, de 1989, determina que é crime “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”.

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