Educação

Alckmin recua e adia a reorganização escolar

Após queda na popularidade, cenas da PM agredindo adolescentes e posicionamento até das torcidas de futebol, governador diz que ‘recebeu o recado’

Alunos comemoram|
Estudantes comemoram anúncio de suspensão da reorganização escolar na ocupação do Colégio Estadual Fernão Dias Paes Fernão Dias
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O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou, na tarde da sexta-feira (4), que a reorganização escolar proposta por ele e que causa protestos e ocupações há dois meses está suspensa até o ano que vem.

Depois de uma manhã de repressão policial televisionada aos protestos na Avenida Paulista e na Praça da República, no centro de São Paulo, com direito a Tropa de Choque e bombas de gás, o governador tucano afirmou que “recebeu o recado”.

As ocupações de quase 200 escolas por todo o estado receberam apoio de artistas, como Criolo e Arnaldo Antunes, que programam uma “Virada Educação” para o fim de semana e até das torcidas Gaviões da Fiel, do Corinthians, e Independente, do São Paulo.

Antes, as faculdades de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), já haviam se posicionado a favor das ocupações, assim como instituições como Cenpec, Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Todos Pela Educação.

“Recebi a mensagem e respeito a mensagem dos estudantes e dos seus familiares com as suas dúvidas e preocupações em relação a reorganização das escolas aqui no nosso estado de São Paulo. Por isso nós decidimos adiar a reorganização, de rediscutí-la, escola por escola, com a comunidade, com os estudantes e, em especial, com os pais dos alunos”.

Alckmin convocou imprensa ao Palácio para anunciar adiamento Alckmin convocou imprensa ao Palácio para anunciar adiamento

Ouça: Áudio da fala do governador sobre adiamento

Segundo Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo o governador também aceitou o pedido de demissão do secretário Heman Voorwald. Ainda não há posicionamento oficial da pasta sobre o secretário, afastado das decisões sobre o assunto há 10 dias.

Em nota, o movimento Não Fechem Minha Escola comemorou: “É preciso comemorar! Pela segunda vez na história recente do Estado de SP, a juventude dobra a espinha de um governador truculento. Só nós sabemos o quanto lutamos para finalmente desmoralizar Alckmin, convencer toda a sociedade e derrotar a reorganização.”

Sobre a desocupação, a posição ainda é de cautela: “Imediatamente, nossa postura deve ser a de não desocupar as escolas e não desarticular nossa mobilização. Primeiramente, é preciso aguardar um parecer jurídico oficial que ateste que Alckmin não está manobrando o movimento e a publicação no Diário Oficial. Além disso, antes de desocupar, precisamos de outras garantias importantes, como a liberdade de todos os manifestantes atualmente presos e a não punição de ninguém envolvido na luta. Consolidando nossa vitória, nada será como antes para nossa luta em 2016, que deve continuar. Nós, estudantes, provamos o poder que temos!”

Leia também: “Alckmin também vai escapar da crise da reorganização?” 

No domingo passado o chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Fernando Padula, havia comandado uma reunião com áudio vazado pelos Jornalistas Livres em que afirmava que a pasta iria lutar e ganhar a guerra. Ele dizia que “nem passa pela cabeça de Alckmin voltar atrás na reorganização”.

Durante a semana, a polícia começou a reprimir os estudantes nas ocupações e, em resposta, os manifestantes foram para a rua e pararam o trânsito com carteiras escolares. A polícia reprimiu também estas manifestações.

No pronunciamento desta sexta, Alckmin reforçou que está convicto de que a reorganização é a uma medida importante para a melhoria do ensino porque as 1.500 escolas com ciclo único teriam resultado “resultado melhor do Idesp, quase 15% a mais que a média” e por separar alunos de faixas etárias diferentes. Especialistas de diferentes instituições questionam esta argumentação. Veja alguns posicionamentos oficiais:

Campanha Nacional Pelo Direito à Educação:

“A rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que há 16 anos luta ininterruptamente pela garantia do direito à educação no país, manifesta seu apoio aos estudantes paulistas que ocupam suas escolas, legitimamente amparados pelo sistema de justiça, que até aqui tem negado – quase sempre – os pedidos de reintegração de posse ao Governo do Estado. Os estudantes estão dando uma verdadeira aula de cidadania e luta pelo direito à educação.”

Todos Pela Educação

Fazer uso eficiente dos recursos é fundamental para uma boa gestão pública, mas isso não pode justificar decisões arbitrárias, especialmente na área da Educação, na qual as políticas públicas têm impacto direto no dia a dia e no futuro de milhares de crianças e jovens e também de suas famílias. É absolutamente legítimo que os e alunos se manifestem contra uma política que aparentemente não está pautada por evidências claras de garantia de melhor aprendizagem, mas sim por uma redução de recursos em um momento em que  não somente há de se incluir mais alunos na escola, para atender à uma determinação constitucional, como a Educação pede mais qualidade. Usar de violência para reprimir os jovens que estão defendendo suas direitos, negar-lhes o diálogo, além de antidemocrático, é ir na contramão do protagonismo que esperamos deles.

Gaviões da Fiel

“Os Gaviões da Fiel Torcida, entendendo seu papel histórico além das arquibancadas, como movimento social que também é, vem a público declarar seu total apoio à juventude estudantil que hoje ocupa centenas de escolas por todo o estado, em protesto contrário à reorganização imposta pelo Governo Estadual.”

Torcida Independente

“A Torcida Independente, ressaltando seu engajamento social, que ultrapassa as barreiras da arquibancada e as portas de sua sede, comunica completo apoio às ocupações realizadas por jovens estudantes nas centenas de escolas do estado de São Paulo em manifestação à reorganização proposta pelo Governo.”

Cenpec

“Toda reorganização das redes de ensino tem como objetivo último garantir a qualidade do ensino ofertada aos alunos. A aprendizagem é o ponto primordial nesta discussão. Separar alunos por níveis e faixa etária pode ou não ser uma boa escolha. Quem decide isso não é a secretaria sozinha, mas o conjunto dos envolvidos: alunos, professores, famílias. Esta é uma premissa dos planos de educação.”

Unifesp

“A força crescente do movimento de repúdio e resistência é proporcional aos danos que estão sendo engendrados por essa iniciativa da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Para além disso, a utilização de espaços educacionais sem a pressão dos grandes números e da complexidade que advém de salas sempre lotadas parece ser ocasião mais que adequada para incremento do equipamento público com recursos e projetos que possam atender expectativas até hoje não atendidas justamente com o argumento da falta de estrutura física disponível.”

Faculdade de Educação da Unicamp

“Nós, estudantes, professores e pesquisadores da Faculdade de Educação da UNICAMP, nos colocamos ao lado dos estudantes, pais e professores que saem as ruas defendendo a escola pública para questionar esse projeto de reorganização da escola paulista, exigindo transperência, diálogo, bem como a mudança de seu rumo.”

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