Por Carol Scorce
Há um ano a menina Lara, hoje com 13 anos e moradora de Fortaleza, no Ceará, reivindica ser tratada no feminino em todos ambientes e meios formais da escola onde estuda, a Educar Sesc de Ensino Fundamental. Isso porque a menina passa pelo processo de transição de gênero. Na terça-feira (21), último dia do ano letivo, a mãe da adolescente, a jornalista Mara Betariz Magalhães, foi chamada na unidade para uma reunião, e então soube que a filha não poderia mais se matricular para o próximo ano.
“Eu achei que era uma conversa para discutirmos melhorias, maneiras de aprimorar a experiência da Lara na escola. Mas não, fui recebida por uma coordenadora regional do Sesc que eu nunca tinha visto na escola, e que me informou que a unidade não iria renovar a matrícula, me aconselhando a procurar outro espaço”, conta a mãe.
A menina estuda na mesma escola desde os dois anos de idade, e assim que os pais anunciaram à direção e coordenação sobre o processo de transição de gênero, todos se mostraram solicito. A escolha da unida, inclusive,foi motivada pela abordagem pedagógica construtivista, segundo Mara.
“Eles disseram que era o primeiro caso e que tudo era novo, mas que respeitavam e que iriam tentar se adequar.” Não foi o que aconteceu. A menina foi proibida de usar o banheiro feminino, e desde então vai ao banheiro na sala dos professores. Carteirinha e lista de chamadas não respeitam o nome social, contrariando resolução federal. “Lara se sentia constrangida, dizia que aquela não era ela. Nós conversávamos com a direção, e a resposta era sempre que eles iriam consultar o jurídico. Ainda assim eu não achei que fosse o caso de mudar de escola. Eu entendo que é uma situação nova para todos, acreditava que pudéssemos achar soluções juntos para questões novas.”
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Na contramão do corpo docente da escola, os colegas respeitaram e acolheram Lara. Nas últimas semanas de aula cartas foram penduradas no moral em apoio à menina, e parabenizando por ser uma “garota forte”.
Após a repercussão do caso – Mara publicou o relato da reunião de expulsão da filha nas redes sociais, classificando como traumática -, o Sistema Fecomércio-CE publicou uma nota pedindo desculpas à família e dizendo que a matrícula de Lara está mantida para 2018. “O vice-presidente deles me ligou pedindo perdão. Eu perdoo, mas não sei se vou manter a Lara lá não. Também mantive a manifestação em repúdio à escola e vou manter o processo por danos morais. Não há o que pague a dor que sentimos, e tudo que ela está passando, mas irei manter como atitude pedagógica.”
Mara ainda conta que com a publicação do relato nas redes sociais tem recebido uma enxurrada de mensagens, boa parte mensagens de ódio ao fato dela como mãe apoiar e acolher a filha transexual.
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