Educação

Acabou a mamata? Na Educação, não (e graças ao próprio Weintraub)

Combate ideológico permitiu a Weintraub bancar uma espécie de ação entre amigos, o que seguidores de Bolsonaro chamariam de “mamata”

O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Foto: Evaristo Sa/AFP
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O ministro da Educação, Abraham Weintraub, é inimigo das pesquisas de pós-graduação. Em 2019, sua pasta cortou quase 12 mil bolsas de mestrado e doutorado. Neste ano, o órgão do MEC que financia esses estudos, a Capes, terá 600 milhões de reais a menos, um total de 3,6 bilhões. No orçamento original desenhado pelo governo, a perda era de 2 bilhões.

O combate ideológico a essas pesquisas permitiu a Weintraub bancar uma espécie de ação entre amigos em cargos federais sob sua jurisdição. Uma situação que os seguidores de Jair Bolsonaro chamariam de “mamata”, se tivesse ocorrido na era PT.

Além do ministro, os protagonistas dessa história são Heloísa Candia Hollnagel, diretora de Relações Internacionais da Capes, e Matheus Ghitti Baione, coordenador-geral de Acompanhamento e Monitoramento de Resultados da mesma diretoria. Uma dupla egressa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde Weintraub era professor.

 

Baione foi nomeado em 4 de março, com salário de 10.373,30 reais. Sua designação foi assinada pela Secretaria Executiva do MEC. Só não foi pelo próprio Weintraub porque, em fevereiro, o ministro baixou uma portaria a terceirizar certas admissões. A nomeação exigiu a demissão de um funcionário de carreira da Capes, Adi Balbinot Junior, servidor concursado há 20 anos.

A função de Baione será controlar e decidir todas as parcerias internacionais de pesquisas do Brasil. Possui credenciais para tanto? Difícil. Aos 24 anos, formou-se há menos de dois, em 2018, em Ciências Contábeis, na Unifesp.

No currículo enviado à Capes, ele não indica histórico acadêmico além da graduação. Aponta três experiências profissionais, entre 2015 e 2019. Desenvolvedor de rotinas administrativas e contábeis na Bpak Embalagens. Estagiário na área comercial da Cargill. E auditor-assistente na Deloitte.

A Bpak é do seu pai, Robson de Andrade Baione. A fim de reforçar suas credenciais para entrar no governo, Matheus mandou à Capes uma declaração do próprio pai, datada de 17 de fevereiro. CartaCapital obteve uma cópia.

No CV, Baoine informou ainda, como atividade extracurricular, ter publicado um artigo acadêmico em 2018 na Revista Brasileira de Previdência, intitulado “Whistleblowers: Um instrumento moderno de combate às fraudes e o papel do contador”. O texto tem um segundo autor. Quem? Abraham Weintraub. Há um Weintraub também na revista, Arthur, irmão do ministro e assessor especial de Jair Bolsonaro. Arthur é editor-assistente e membro do conselho editorial da publicação.

Eis outras credenciais de Baione para o cargo: relações com a família Weintraub.

A reportagem questionou o MEC sobre a indicação de Baione, sobre a experiência dele para o cargo e sobre a relação dele com ministro, mas a assessoria de imprensa da pasta não respondeu.

A escolha de Baione para o cargo partiu, segundo outros documentos obtidos por CartaCapital, de Heloísa Hollnagel, a diretora de Relações Internacionais da Capes. Em 12 de fevereiro, uma assessora dela, Livia Paes de Barros, submeteu a escolha ao RH da Capes. Uma hora e meia depois, o presidente do órgão, Benedito Guimarães Aguiar Neto, despachava a nomeação ao MEC.

Na Capes, comenta-se que Heloísa deve o cargo à amizade com o ministro e a esposa dele, Daniela. As duas são professoras da Unifesp também. Weintraub nomeou Heloisa diretora em 30 de janeiro. O salário dela naquele mês foi de 21,9 mil. Sua designação para o cargo exigiu a demissão de um servidor concursado da Capes, Mauro Luiz Rabelo, no serviço público desde os anos 1980.

Heloisa chegou à Capes em julho de 2019, três meses após a posse de Weintraub no Ministério. Era chefe de bolsas e projetos da Diretoria de Relações Internacionais. Fontes do órgão dizem que desde o início Heloisa foi autoritária com servidores e passava por cima do então diretor, Mauro Rabelo.

Em uma reunião no fim de 2019 com o Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós Graduação, Heloísa teria se referido ao presidente do grupo, Carlos Henrique de Carvalho, como “aleijadinho”. Reitor da Universidade Federal de Uberlândia, Carvalho é cadeirante. Na mesma reunião, Heloisa teria pronunciado a expressão “aqueles pardinhos” para se referir a pessoas negras.

O episódio teria sido o estopim para uma espécie de rebelião na Capes. Servidores cobraram a degola dela. Informado, Weintraub não só bancou a permanência dela, como resolveu promovê-la, a diretora de Relações Internacionais. A reportagem questionou Heloísa Hollnagel, através da assessoria de imprensa da Capes, sobre esses acontecimentos e sobre a nomeação de Matheus Baione, mas não obteve resposta.

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