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O descaso com os rios

Vitais para a alimentação e o desenvolvimento,
 as águas que delimitam o ambiente urbano não são bem tratadas no Brasil

Rio poluído|Rio
A expansão urbana do Brasil mudou e sepultou os rios das cidades |rio cidade urbano tratamento poluição abastecimento alimentação desenvolvimento
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O rio é o elemento definidor na história da maioria das cidades brasileiras, o traço mais expressivo de sua paisagem: ele proporciona o acesso, a concentração, a condensação, o crescimento demográfico, o ir e vir. É por isso que a disponibilidade de suas águas se constitui num dos principais fatores para o estabelecimento dos citadinos.

Nas cidades brasileiras, o lento escoar do rio marca o seu tempo. Rege seu cotidiano. Durante o nosso processo de urbanização, no entanto, os rios nem sempre foram tratados com o merecido cuidado. No artigo a seguir, contaremos um pouco dessa história.

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Leia atividade didática de História inspirada neste texto
Anos do ciclo:
5° e 6°
Área: História
Possibilidade interdisciplinar: Geografia
Tempo de duração: 10 aulas
Objetivos de aprendizagem: Coletar informações de textos variados, imagens, plantas, mapas etc; reconhecer a presença e a ausência de serviços urbanos e sua relação com a ocupação de localidades por diferentes grupos e classes sociais
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1- A maior parte das cidades brasileiras surgiu às margens dos rios. Reúna seus alunos e pesquise em jornais, bibliotecas, internet, associações ou entreviste pessoas mais idosas para descobrir a história do rio de sua cidade, sua importância para o ambiente urbano, para a economia, para a integração da região. Levante as relações da população com o rio no passado e no presente. Identifique a importância ambiental do rio urbano. faça uma visita in loco e registre a paisagem.

2- Divida o grupo de alunos da sala em subgrupos, de três ou quatro membros para levantar e discutir assuntos dos resultados da pesquisa. Apresente as questões para discussão. Esclareça que todos devem anotar as ideias, os levantamentos da pesquisa e as conclusões do grupo para transmiti-los aos demais grupos. O professor poderá dividir os assuntos da pesquisa e distribuí-lo entre os grupos.

3- Reorganize os alunos em três ou quatro grandes grupos, de tal forma que cada membro dos primeiros grupos fique separado em cada grupão. Assim, cada grupo poderá conhecer as ideias levantadas pelos demais e apresentar as conclusões em conjunto.

4- Explique ao grupo o funcionamento da técnica, o papel e as atitudes esperadas de cada membro e o tempo disponível.

5- Faça um sumário das conclusões dos grupos e permita que essas sejam discutidas para se chegar a um consenso.
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A água dos rios é vital para a alimentação, para a indústria e para a navegação. Tem função ligada aos meios de comunicação, à possibilidade de contato e de circulação, como via de transportes e estrada líquida. A proximidade da via navegável a fontes de valiosas matérias-primas torna-se critério de igual importância, assegura a fenda de prosperidade e a organização do espaço de cada uma das cidades recém-nascidas. O rio é o ponto de partida seguido consequentemente do comércio, muitas vezes, por ele viabilizado.

Os rios que preexistem e persistem, do ponto de vista físico, participam intimamente de modo geral das cidades. Em verdade, na sua vastidão aparece como elemento constituinte de sua forma e tem papel efetivo na dinâmica da cidade. Além de forma é modelo de desenvolvimento. Em suas margens estabeleceram-se núcleos, constituíram-se engenhos, fizeram-se penetrações horizontais e verticais do território. Eles foram colaboradores fundamentais às bandeiras, missões, entradas, tarefas de domesticação dos índios, descobertas de ouro e pedras preciosas, agroindústria do açúcar, desenvolvimento da pecuária e ampliação da lavoura de gêneros alimentícios, povoamento e cidades.

Origem das cidades
Os municípios brasileiros são historicamente capazes de explicar e mobilizar as atitudes dos indivíduos e dar sentido às suas ações, mas também são um lugar que favorece as reações em cadeia. Elas nascem das necessidades sociais humanas e multiplicam tanto os seus costumes como os seus meios de expressão.

É lugar de residência, de trabalho, de formação, de cultura, de lazer e de encontro. A sua complexidade traduz-se cotidianamente na vida da população. Enfim, a natureza de uma cidade está envolvida nos processos vitais das pessoas que a compõem. Já a linha de evolução é o resultado de relações dialéticas entre múltiplas forças. Nesse movimento há um processo com dois aspectos, crescimento e desenvolvimento, produção econômica e vida social. A evolução de uma cidade não é de forma alguma o desenvolvimento de uma função, mas de uma situação. A situação urbana é, sem dúvida, uma situação histórica.

Nos interiores das cidades há profundas marcas de transformações consequentes de uma cultura social heterogênea. Os citadinos informados e submetidos pelos meios instantâneos de comunicação, libertos pela mecanização, inquietos e deslocando-se cada vez mais rapidamente alargam a origem e o fundamento do desenvolvimento urbano. Equivale dizer que toda ocupação humana é tributária dos mesmos “bens naturais”, mas a densidade concentrada, a multiplicidade de atividades, as técnicas e o poder dos capitais nos lugares urbanizados tornam o uso e a concorrência desses espaços mais acerbados para o seu domínio.

Vale dizer que a urbanização, movimento de desenvolvimento simultaneamente espacial e numérico das cidades, é vista como um dos problemas cruciais de nossa época.

Em cada cidade há um rio que passa e que a delimita, embora ele seja ora negado, ora querido. Com efeito, este, a um só tempo, confere a cada cidade sua mais bela vestimenta. É uma espécie de mapa das suas histórias que carregam consigo os indícios para se ler e compreender as transformações de tal forma vertiginosa, velozes e/ou brutais dado ao espaço vivido. Estão ali rios e cidades dispostos a se deterem diante de centelhas de vida que merecem um lampejo de atenção. Contudo, muitas vezes são despercebidos. Eis que o uso indevido do espaço/rio, somado ao menosprezo ou à ignorância das condições oferecidas pela “natureza”, leva as cidades àquelas catástrofes ligadas aos fenômenos naturais.

No decurso do tempo, muitas floriram e ultrapassaram largamente o quadro urbano preciso. À medida que se fez sentir o crescimento demográfico, juntamente com o progresso técnico, elas ultrapassaram suas divisas. Nessa expansão, os rios urbanos tornaram-se uma das principais preocupações ou o próprio fundamento do mecanismo urbano.

Os rios se prestam ao desenvolvimento de inúmeros processos nos quais se ancora a sociedade citadina. O ambiente por onde nasceram as cidades, porém, teve suas paisagens profundamente alteradas. O rio que foi sua base, a espinha dorsal do seu surgimento, torna-se de acesso perigoso, contato proibido, água imprópria ao consumo, canal de escoamento de esgotos. Tudo isso resulta em um grave conflito em que se aponta como causa a desordenada presença humana. Reflete a carência de esgotos e a imprevidência de muitas famílias e empresas que lançam nos rios toda sorte de poluentes químicos e lixo doméstico.

Aqueles mesmos rios de água doce, dádiva primordial concedida às coletividades humanas, estão hoje a tal ponto degradados que refletem a devastação em contraposição ao florescimento da vida. Eis um quadro suscetível de ser modificado, numa sequência de pontos e contrapontos sem interrupção.

Os rios urbanos no Brasil vêm passando por transformações históricas. A poluição compromete a vida urbana, trazendo malefícios às sociedades. Eles têm suas condições agravadas pela precariedade do saneamento básico e pela ocupação irregular de suas margens. Não bastando o prejuízo ambiental há, também, um distanciamento que enfraquece a influência que eles exercem nas relações e hábitos do cotidiano urbano. A relação rios e cidades muda constantemente em consequência dos sistemas hidráulicos de abastecimento e sanitário. Eis um quadro suscetível de ser modificado numa sequência de pontos e contrapontos sem interrupção.

Em verdade, a prática de estruturação das cidades, o modo de expansão urbana utilizou e mudou os rios a seu modo. Cortaram suas curvas, afundaram seus leitos, os canalizaram para servir ao sistema de esgoto. Paredes verticais de concreto os demarcaram. Colocaram-nos em canos, canalizaram e sepultaram os rios urbanos. Soterrados, estão ali nas cidades exercendo o papel de escoadouros de detritos, longe do campo de visão das pessoas que nem sequer notam sua existência. Outros nem menos receberam esse tratamento e são verdadeiros canais de “esgoto a céu aberto”. Suas várzeas, espaços úmidos e alagadiços, impróprios para a construção, passaram a ser utilizadas para construir avenidas, marginais.

As cidades brasileiras, surgidas face a face aos rios, viraram-lhes as costas, mas, em contrapartida, tornaram-se sinônimo de “catástrofes ambientais”. Tendo como referência o agravamento dos problemas e as crescentes poluições dos rios urbanos, o desafio das cidades centra-se em ações governamentais que dinamizem e conscientizem os citadinos da importância em preservar os rios.

*Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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