Esta noite tive um sonho, noite de meio verão. Logo aparece o amigo caríssimo – e uma vida não basta para tanta amizade – Raymundo Faoro, que em largas passadas desce pela Rua do Ouvidor – e como são compridas as pernas do amigo –, até mergulhar na atmosfera azulada do Rio Minho, emanada pelos ladrilhos portugueses. Estamos na fronteira do cais e Faoro do restaurante é frequentador assíduo, bem como de outro, também de cardápios lusitanos, em Botafogo. Digo: “O Lula escolheu seu parceiro de chapa, é Geraldo Alckmin”.
Agora Faoro está na cama do hospital. O fundador do PT ganhou as eleições e foi ao Rio para visitar o autor de Os Donos do Poder. Afirma o enfermo, ao se referir ao vencedor do pleito: “Ele já errou tudo”. O tom é aquele da Vacaria, onde a temperatura das altercações costuma subir de chofre. “Não é por aí que ele vai resolver os problemas de um país marcado por um desequilíbrio social monstruoso e pela ignorância do seu povo incapaz de reação.” De supetão entra o meu eterno parceiro Belluzzo e mitiga o espírito gaúcho: “Não há possibilidade – diz ele – de entrar de sola contra a casa-grande e os seus apaniguados da classe média. Tudo farinha do mesmo saco. E a cautela é altamente recomendável, até indispensável. Se formos com o discernimento e a habilidade que a situação exige, iremos longe, devagar e sempre”.
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