Uma noite de meio verão

Mino Carta conta o seu sonho que ao cabo, torna-se pesadelo. Comparecem Raymundo Faoro, Lula, Luiz Gonzaga Belluzzo, Jair Bolsonaro, Alckmin e muitos outros

Faoro, herdeiro do espírito da Vacaria - Imagem: Luiz Alberto/Agência O Globo

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Esta noite tive um sonho, noite de meio verão. Logo aparece o amigo caríssimo – e uma vida não basta para tanta amizade – Raymundo Faoro, que em largas passadas desce pela Rua do Ouvidor – e como são compridas as pernas do amigo –, até mergulhar na atmosfera azulada do Rio Minho, emanada pelos ladrilhos portugueses. Estamos na fronteira do cais e Faoro do restaurante é frequentador assíduo, bem como de outro, também de cardápios lusitanos, em Botafogo. Digo: “O Lula escolheu seu parceiro de chapa, é Geraldo Alckmin”.

Agora Faoro está na cama do hospital. O fundador do PT ganhou as eleições e foi ao Rio para visitar o autor de Os Donos do Poder. Afirma o enfermo, ao se referir ao vencedor do pleito: “Ele já errou tudo”. O tom é aquele da Vacaria, onde a temperatura das altercações costuma subir de chofre. “Não é por aí que ele vai resolver os problemas de um país marcado por um desequilíbrio social monstruoso e pela ignorância do seu povo incapaz de reação.” De supetão entra o meu eterno parceiro Belluzzo e mitiga o espírito gaúcho: “Não há possibilidade – diz ele – de entrar de sola contra a casa-grande e os seus apaniguados da classe média. Tudo farinha do mesmo saco. E a cautela é altamente recomendável, até indispensável. Se formos com o discernimento e a habilidade que a situação exige, iremos longe, devagar e sempre”.

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4 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 1 de fevereiro de 2022 21h57
Concordo em termos com o leitor, Francisco Pedro Gonçalves da Rocha, pois Lula tinha a faca e o queijo nas mãos com a alta popularidade e um Congresso favorável á época do seu primeiro mandato e também no segundo mandato. O fato é que era incipiente no governo, não conhecia os personagens políticos, havia pressão de todos os lados, embora a conjuntura econômica na época fosse mais favorável do que é agora. Agora, Lula tem que fazer um governo voltado quase que exclusivamente para os mais necessitados, para os que sofreram perdas com a pandemia e com os golpes das Reformas neoliberais que o país sofreu. Lula tem uma vantagem, a credibilidade dos seus eleitores que sabem que ele é o único capaz de desfazer os males desde Temer e do atual. A plutocracia tem que entender que agora é hora do sacrifício deles, do sacrifício dessas ditas elites que sempre ganharam, nos tempos de bonança como nos tempos de crise.
FRANCISCO PEDRO GONCALVES DA ROCHA 1 de fevereiro de 2022 12h06
Se o Lula, com a faca, o queixo e uma popularidade de 85% não realizou uma única reforma nas muitas estruturas moldadas pela casa-grande, como irá fazer agora? O Lula não é apenas um político bastante envolvido simpático com a manutenção de privilégios de ricos pai dos pobres, mamãe dos ricaços, mas também se mostrou um cara lambão. Dos nove ministros do Supremo que indicou, nenhum presta. Com inúmeras infraestruturas e engenharias a fazer, deixou 14 estádios da Copa nenhum é sensacional, todos foram superfaturados pelos ricaços e o forte desejo de um Trem Bala ridículo. Enfim, é fácil para a Carta Capital fazer pose de revista civilizada ao copiar o primeiro mundo declarando-se apoiadora do Lula...Difícil é exercitar a crítica.
LUIZ CARLOS TEIXEIRA DO NASCIMENTO 29 de janeiro de 2022 14h42
Genial. Parabéns
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 28 de janeiro de 2022 16h49
Entre sonhos e pesadelos com figuras sinistras e , outras, notáveis e admiráveis, Mino esboça um pouco do nosso passado recente e do presente tão trágico como alvissareiro. Recentemente Dilma Rousseff escreveu sobre o sincericídio tardio de Miriam Leitão a respeito do golpe de 2016 travestido da palavra impeachment sabidamente engendrado por políticos corruptos, tal qual Michel Temer que nos levou a tragédia de um Bolsonaro. Golpe este que foi articulado pelos donos do poder título do livro do genial Raymundo Faoro, pela Globo, Veja, maior parte da mídia nativa, parte do judiciário que deu sustentação aos operadores da Lava Jato, que decididamente foi desmascarado pelo Hacker de Araraquara e por Gleen Greenwald a tempo. De personagens arrependidos a outros que ainda cometem crimes, só nos restam os nossos heróis que lutaram e lutam pela democracia, mas é assim mesmo, um sonho parece que não tem pé nem cabeça, mas vem do nosso inconsciente e, parece que não, mas tem significado bastante salutar, basta um bom analista e ficarmos quietos ao acordarmos para atiçar a memória.

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