Pergunto em vão aos meus botões como haveria de qualificar o general Mauro Lourena Cid, intermediário da venda de um relógio Rolex presente do soberano da Arábia Saudita ao então presidente Jair Bolsonaro. Fatos passíveis de acontecer somente em terra brasileira, murmuram entre melancólicos e desalentados. Ocorre-me recordar o ditador Ernesto Geisel: levou os presentes recebidos como chefe de Estado para a mansão que construía a caminho de Petrópolis e pretendia decorar com objetos variados doados pelos potentados estrangeiros. Havia, inclusive, dois enormes vasos chineses de elevado valor.
Geisel foi um grande hipócrita a quem Elio Gaspari dedicou quatro volumes editados pela Companhia das Letras, para enaltecê-lo, ao enxergar nele o autor da chamada “distensão”, destinada a se concluir com a devolução do poder aos civis. Me vem à mente a figura de Golbery do Couto e Silva, tido e outrora celebrado como criador do SNI, algo assim como o embrião de uma KGB nativa. A bem da sacrossanta verdade, tratava-se de um cidadão muito arguto e bom conhecedor da alma nativa. Nem por isso deixou de cometer graves enganos. O primeiro deles foi não ter percebido, naquele momento da história mundial, não haver confronto entre o Bem e o Mal. Frente a frente estavam duas formas de imperialismo, ambas malignas, a despeito dos entendimentos manifestados por quem se arvorava a escolher uma ou outra.
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