Meu caro amigo Ciro, com a franqueza que uma conversa entre nós há de ter, vou lhe dar a minha visão do problema que nos aflige, próprio de um país que não alcançou a modernidade, como escreveu o professor Belluzzo na edição celebrativa da Independência há cerca de um mês. Nosso problema é o país, cujo povo é abandonado ao seu destino de miséria e ignorância. São estas as condições em que o energúmeno demente é eleito para a Presidência da República. Enxergo o Brasil como uma obra inacabada, uma espécie de tela de Penélope feita de dia e desfeita à noite.
Somos o segundo colocado na classificação dos mais desiguais do mundo, encabeçada pela África do Sul, o país do apartheid, o que talvez configure a forma positiva de apresentar o problema, já que todas as nossas favelas, algumas com milhões de habitantes, são uma cópia de Soweto. Menos desigual, uma grande quantidade de países africanos. O desequilíbrio social monstruoso impede de saída uma democracia autêntica. De verdade, o País curvou-se diante das conveniências da casa-grande e dos sobrados senhoriais a consagrar a enorme discrepância entre poucos ricos, exageradamente ricos, e uma imensa multidão de miseráveis, vasculhadores de lixos nas madrugadas metropolitanas. Pouco ou nada se fez para encolher o abismo.
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