O povo abandonado

A larga maioria, a seu destino de ignorância e miséria

...multiplicou as vicissitudes da maioria resignada - Imagem: iStockphoto

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O debate de domingo dia 28 de agosto entre os candidatos das próximas eleições presidenciais organizado pela Band teve o mérito de nos oferecer o retrato do Brasil de hoje. Ali estavam dois amigos de longa data, pelos quais tenho o mesmo afeto, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva e o também candidato Ciro Gomes. Verifiquei que não há entre eles a aparente inimizade apontada frequentemente pela própria mídia. De fato, notei o sorriso a iluminar o rosto de ambos quando ficou clara a intenção do ex-governador do Ceará e ex-ministro do primeiro governo Lula de apoiar no segundo turno o candidato petista, o que soa como prova de coerência.

Havia ali personagens necessariamente secundárias porque não eram protagonistas do evento. Os perguntadores, constatei, não sabem perguntar e na ribalta campeia um energúmeno demente eleito tempos atrás para a Presidência da República. O clima do cenário montado pela Bandeirantes levava a pressupor que o marciano surgido repentinamente na plateia acreditaria presenciar a manifestação de uma democracia solidamente implantada. Não é nada disso, muito pelo contrário. Não somos uma democracia por razões óbvias, a começar pelo monstruoso desequilíbrio social que nos aflige sem perspectivas de solução.

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2 comentários

Natanael Oliveira do Carmo 3 de setembro de 2022 00h40
Texto perfeito, que transborda toda a estupefação, mas, também, a compreensão de que o povo brasileiro, vítima de toda uma história de violência perpetrada pelos que se assenhorearam do Estado para explorar, roubar e oprimir, é também vítima da profunda ignorância que, como mais uma face cruel da secular política de Estado aqui desenvolvida e implantada, perpetua a trágica condição desse povo.
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 2 de setembro de 2022 19h49
O povo brasileiro é vítima de si mesmo ou vítima de uma elite desalmada que só pensa em si mesma? A escritora Hannah Arendt chegou à conclusão sobre o mal de Eichmann que ele praticava que não era um mal demoníaco, mas um mal constante que fazia parte da rotina dos nazistas como instrumento de trabalho. A ascensão dos regimes totalitários está explicada na banalização do mal. Talvez nosso povo e uma certa classe média desmereçam o mal que fazem a si mesmos, ainda a acreditar em figuras como Bolsonaro e a acreditar numa mídia que vende inverdades para se manter viva perante um sistema excludente e uma elite que odeia o povo que governa direta ou indiretamente. Essa eleição de 2022 vai servir como experimento e análise da razão contra a demência de um povo que não possui autoestima e os beócios que desprezam a vida, as virtudes e a própria razão.

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