O país do absurdo

Enquanto casa-grande e senzala ficam de pé, a minoria rica divide a torta do poder

Ela entendeu as responsabilidades do poder – Imagem: Ichiro Guerra

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Certo dia remoto, disse a Lula, velho amigo, que a situação no Brasil só seria resolvida por muito sangue nas calçadas. Reagiu ele com bonomia, mas convidou-me a alimentar a esperança. Em quê exatamente não declinou. Evitei falar dos meus mestres de vida, de Kant a Antonio Gramsci, passando por Spinoza. Algo é certo: esperança não tenho em relação ao futuro de um país que não somente é tão desigual, mas também primitivo, complexado, ignorante. Nestas condições, o resultado é tão fatal quanto inelutável. Fiquemos, no entanto, no curto espaço das nossas vidas.

Desde o início, cometeu-se o pecado original ao seguir pelo caminho da conciliação: por aqui se destina simplesmente às desavenças entre as elites na hora de cortar o bolo do poder. Refiro-me à minoria rica a habitar a casa-grande, enquanto os pobres, maioria fluvial de comportas rompidas, haverão de se conformar com sua miséria de largo espectro. Daí sermos aferrados à Idade Média da casa-grande e da senzala, ainda e implacavelmente de pé. Aliás, a dicotomia daninha é cada vez mais evidente.

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3 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 13 de agosto de 2023 04h53
Em lições de ética , Immanuel Kant nos ensina que, o sentimento de respeito se baseia num valor interno e concede mais segurança do que o sentimento de amor diante das outras pessoas. A exigência de respeito não se baseia em considerações de utilidade , vantagens ou outros tipos de propósitos, mas da consciência do valor próprio. É certo que antes de assumir o poder, no calor do discurso político, parece que o candidato Lula se diferencia do político Lula, pois os homens que estão no entorno do poder se comportam como hienas a espera dos restos mortais, da presa que o caçador apreende. Desse jeito, o presidente não pode ficar refém para não dizer submisso às vontades de um Arthur Lira, de um Campos Netto e de um Mercado feroz que tudo quer e nada quer dividir. Quando Lula em encontro recente no Rio de Janeiro com Arthur Lira e o governador Cláudio Castro, em que foram vaiados pela plateia, os dois últimos, veio em seu socorro, dizendo que eram os dois seus adversários políticos, mas um representava o presidente da câmara dos deputados e o outro, o governador do Estado do Rio de Janeiro, tentando aplacar a ira do povo a se colocar como um presidente democrático, bem diferente do seu antecessor, Bolsonaro. O fato é que o presidente não pode fazer essa política de conciliação nacional, eis que esses senhores são os verdadeiros responsáveis pela imensa desigualdade em que vivemos. Eles não têm ética nem consciência nem de respeito pelo povo que sofre. O presidente Lula sabe disso, mas o seu espírito democrático precisa ter limites de fato, prezado Mino.
ricardo fernandes de oliveira 16 de agosto de 2023 10h14
Michel temer era um corrupto que participou durante 14 anos do pode como vice presidente. Durante esse tempo, foi um anjo?
ricardo fernandes de oliveira 16 de agosto de 2023 13h26
Corrigindo: Michel temer foi vice durante 10 anos e participou ativamente do poder junto com o pt e outros partidos corruptos. Ele só virou vilão quando Dilma caiu? Antes era um anjo?

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