O capataz vestiu farda

Como se deu a criação de um exército de ocupação interna em lugar de zelador das fronteiras

A escravidão criou o monstro – Imagem: Jean-Baptiste Debret/Coleção Itaú Cultural

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Qual seria a data mais adequada para iniciar este texto? Escolho o momento da chegada ao Brasil de D. João VI, rei de Portugal em fuga na iminência da invasão do país pelas tropas napoleônicas comandadas pelo general Junot. As vitórias colhidas pelo Corso, dos Alpes às pirâmides, como escreveu Alessandro Manzoni, espalharam pelo planeta a lição redentora da Revolução Francesa. O soberano luso, ao transferir a corte de Lisboa para a sua maior colônia, simboliza a recusa da contemporaneidade mundial naquele exato instante, a perdurar até hoje.

Deodoro, segundo a hagiografia fardada – Imagem: Henrique Bernadeli/Acervo da AMAN

Além de jamais tomar banho, D. João VI marcava sinistramente aquela discrepância que o tempo não curaria. Estabeleceu-se assim a escravidão mais duradoura da História e o primado da chibata dos capatazes e dos capitães-do-mato a serviço da casa-grande, incumbidos de capturar escravos fugidos e matar índios. A demonstração tão peremptória da ferocidade colonizadora está claramente na origem dos futuros comportamentos de um exército de ocupação chamado para garantir a ordem interna em lugar das fronteiras da imensa colônia. A ordem figurava na visão positivista de progresso.

Quando a tropa napoleônica alcançou Portugal, D. João VI exportou seu atraso para o Brasil – Imagem: iStockphoto e Acervo da Biblioteca Nacional

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7 comentários

PAULO SER noGIO CORDEIRO SANTOS 27 de agosto de 2023 00h01
Exatamente isso, caro Mino Carta, após a invasão por Napoleão Bonaparte a Portugal, D. João VI refugiou-se no Brasil e trouxe toda a sua corte contrastando com a povo da colônia, em que o que mais causou espanto para os visitantes foram os negros escravizados e açoitados de forma até naturalizada pelos seus habitantes. Tempos depois vemos a figura de um Luís Alves de Lima e Silva, o famigerado Duque de Caxias, ser exaltado pelos militares e até por alguns historiadores brasileiros. Este tomou prestígio através da Guerra do Paraguai ou “Guerra do Açougue do Paraguai”, devido ao massacre impiedoso que a chamada Tríplice Aliança composta pelo Brasil, Argentina e Uruguai. O Brasil, ao invés de enviar o seu exército de fato, enviou ex-escravos para se evitar o alistamento forçado dos brancos. A guerra do Paraguai foi uma verdadeira carnificina e assim se fez o Exército brasileiro passando pelos anos de chumbo e horror da ditadura de 1964 até esses tempos de general Heleno, Braga Neto, Pazuello, Coronel CID e seu pai general reformado Lourena Cid, dentre outros, das maracutaias e roubos de joias e das benesses do bolsonarismo. Está na hora de Lula e todos os homens de fato de pensamento democrático reformarem o quadro de promiscuidade do meio militar, separarem o joio do trigo do mundo militar, além de propostas a mudança do tal artigo 142 da CF, visto que sua redação foi de uma certa imposição dos militares em relação aos políticos civis quando da elaboração do texto da própria carta magna. Caso contrário viveremos sempre sob a égide de um medo sem sentido de golpe militar ad aeternum como uma república bananeira de fato.
ricardo fernandes de oliveira 30 de agosto de 2023 09h14
um texto confuso, com ataques para todos os lados. caxias não foi um genocida só por causa da guerra do Paraguai. para todas as revoltas que foi convocado, valeu-se da degola de cidadãos brasileiros. não houve golpe, mas impeachment, previsto em lei. o processo ocorreu dentro da lei. se foi golpe contra Dilma, foi golpe contra collor. essas alegações são ridículas. temer passou 14 anos como aliado do pt no poder e não era corrupto nesse período? só se tornou corrupto depois? que raio de raciocínio obtuso e esse? moro e dellagnol são juristas. pode-se dizer que são bons ou maus em suas profissões, mas não se pode negar um fato.
ricardo fernandes de oliveira 30 de agosto de 2023 10h12
seria interessante o autor ler “como se coloca a direita no poder”, de Paulo Schilling, para entender porque o pt caiu do poder.
ricardo fernandes de oliveira 30 de agosto de 2023 10h13
se houve um golpe em 2016, porque o pt voltou ao poder e está de novo governando com os golpistas? masoquismo?
ricardo fernandes de oliveira 30 de agosto de 2023 10h14
se existe uma separação amorosa ou o fim de um acordo , colocar a culpa exclusivamente no outro e falta de maturidade emocional ou politica
ricardo fernandes de oliveira 30 de agosto de 2023 10h16
sim., os militares brasileiros so servem para matar, torturar, mutilar e saquear os brasileiros. mas qual governo pretendeu ou pretende mudar isso? o atual ministro da defesa tinha até parentes no acampamento em frente aos quartéis
PAULO SERGIO RANGEL 2 de setembro de 2023 11h46
Com a Constituição, conseguimos reformar o Legislativo e o Executivo, postergamos para o futuro, disputas sociais. O Judiciário praticamente não foi mexido, sendo prerrogativas de juízes, mesmo pegos em crimes, aposentar com seus vencimentos. Triste simetria com as forças Militares, suas Doutrinas não sofreram abalo, continuando praticamente como quarto poder, criando a morte fictícia do herói para salvar a viúva. O problema são as Castas!

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