O carnaval chega sempre. Já foi capaz de movimentos bem mais intensos, de chegadas impetuosas, muito do antigo elã apagou-se. E, de fato, refiro-me a outros tempos. Os Carta haviam chegado em São Paulo fazia pouco tempo, moravam no último sobrado de uma rua de terra, travessa de uma artéria ignorante do conhecimento de seu próprio futuro como avenida imponente entre palácios altivos. Não ia além, então, de um calçamento de paralelepípedos, mas era o meu caminho na direção do Clube Pinheiros, onde figurava como militante de natação infantojuvenil.
No primeiro carnaval a alcançar a família, houve um capítulo reservado à invasão da casa paterna por parte dos vizinhos em festa, de inopino entraram aos berros e vasculharam dançando a vivenda, de fio a pavio. O dono da casa ficou profundamente perplexo e somente se refez muito lentamente, coisa de vários dias. Em compensação, os alegres vizinhos acharam tudo muito natural, não perceberam o espanto do dono da casa e logo ofereceram um passeio no seu Ford 1946 pela avenida principal da cidade, a São João, para participar de um evento chamado Corso.
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