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Agentes do mal

Arthur Lira, confirmado por Lula na presidência da Câmara, e Jair Bolsonaro conspiram contra o Brasil

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A tragédia Yanomâmi não combina com as lágrimas do ex-capitão. Ele chora porque sua primeira-dama foi eleita presidente do PL Mulher – Imagem: Fernando Frazão/ABR e Redes sociais
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Vivemos no país das infinitas apurações, sem que em seguida a decisão final seja tomada. Cabe perguntar aos nossos pacientes botões por que Jair Bolsonaro, hóspede de Walt Disney nos Estados Unidos, promete seu retorno para assumir a liderança da oposição. Há motivos de sobra para processar e condenar o ex-capitão, desde o genocídio dos ­Yanomâmis até a tentativa de golpe praticada, no dia 8 de janeiro, contra Lula, legitimamente eleito faz três meses, desde o atraso na vacinação do povo brasileiro contra a Covid-19 até a glorificação da cloroquina como um elixir da longa vida, desde a descoberta de um plano golpista escrito na própria residência do então ministro da Justiça Anderson Torres, desde etc. etc. etc.

Até parece que a demora corresponde a uma consequência da democracia, quando na verdade muito mais significa a atitude de um país equivocado, quando não masoquista. Enquanto o Brasil patina, o povo morre de fome. Por sua atual postura de pacificador do mundo, não se exclua que Lula alcance algum resultado positivo na sua iminente visita à China, já inclinada ao fim de uma guerra inútil que a rigor só serviu para enriquecer o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, e a condenar Vladimir Putin como criminoso de guerra pela Corte de Aia. Se bem-sucedido, Lula tiraria a hóstia da boca do papa Francisco e o mundo mais uma vez se curvaria, comovido pela picardia nativa.

Há quem diga que este senhor tem poderes muito além daqueles de presidente da Câmara – Imagem: Marina Ramos/Ag.Câmara

Vale lembrar que a ação do Tribunal Penal Internacional não é reconhecida por alguns países, e entre eles figuram os Estados Unidos, com seu peso e in­fluência notórios. De todo modo, no caso do Brasil, a crença na defesa da democracia carece, infelizmente, de provas convincentes. Já nos perguntamos como é possível a democracia onde vigora uma desigualdade social pavorosa, além do mais acentuada pela realidade de um povo esfomeado. Nunca a separação entre ricos e pobres, entre casa-grande e senzala, implacavelmente ainda de pé, foi tão evidente. E tampouco pode-se ignorar que o País carece de um sólido arcabouço democrático.

Os poderes da República agem como corpos celestes de uma galáxia pronta a despencar num buraco negro, cada uma das Casas a atuar por conta própria, primeira entre elas o STF, ao qual caberia a tarefa de vigiar a respeito do cumprimento da Constituição. O nosso Judiciário chega ao ridículo no controle da execução das demandas constitucionais. Em qualquer país que se diga Democrático de Direito obra em silêncio, ao contrário deste da nossa esdrúxula democracia, em sessões diárias transmitidas pela televisão, a comprovar o exibicionismo infantil dos togados. E o vácuo de seu debate baseado na precariedade da sua pretensa sabedoria, e ao mesmo tempo empolados em disquisições tão caudalosas quanto inúteis, sem contar os descaminhos tomados nas mais diversas oportunidades.

A situação não oferece alívio em outros terrenos, a começar pelo Congresso, amiúde empenhado em solapar a autoridade do Executivo. O Brasil já padeceu com a presença daninha de lideranças que ali estavam para lhe infernizar a vida, e todos certamente recordam aquele parlamentar disposto a prometer a correlação entre os verbos dar e receber. No momento, líder é Arthur Lira, de reeleição aprovada por Lula, figura poderosa a ponto de ser tido como o influenciador mais aguerrido da política parlamentar, e algo mais até. O atual líder do Senado, Rodrigo Pacheco, é certamente personagem confiável, mas uma única andorinha não faz o verão. Para cultivar o nosso espanto, propomos dar ouvidos a Calderón de la Barca: a vida é sonho. •

Publicado na edição n° 1252 de CartaCapital, em 29 de março de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Agentes do mal’

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