A corporação atiçada

Enquanto a transição procura escolher um civil para a pasta da defesa, os militares fazem questão de lembrar seu passado de exército de ocupação

Dois entre os ministros que serviram a contento durante os governos de Lula: Nelson Jobim e Waldir Pires - Imagem: Marcello Casal Jr./ABR e Celso Júnior/Estadão Conteúdo

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Só podemos atribuir aos fados da antiga Grécia a cilada histórica a que assistimos neste momento. De um lado, a ameaça latente de uma intervenção militar, a lembrar os golpes de Estado que já sofremos desde a Proclamação da República. Do outro, a presença de uma seleção brasileira de futebol no campeo­nato mundial em andamento no Catar. Os fados mandavam no destino, auxiliados por três parcas: Cloto tecia o fio da vida de cada homem, Láquesis determinava o comprimento do fio, Átropos cortava o fio da vida. Outra auxiliar havia e chamava-se Fortuna, a sorte, tinha olhos vendados, em uma mão segurava um limão, símbolo do acaso. O destino era entendido na Grécia antiga como uma força cósmica superior à vontade dos deuses e dos homens. Quem ousasse se sobrepor aos desígnios dos fados precipitaria o mundo no caos inicial.

Os lugares-comuns que o País se vê obrigado a frequentar em perfeita concomitância, a ameaça de um golpe militar e o campeonato mundial de futebol não poderiam esconder a intervenção superior dos fados. A primeira personagem que comparece no palco desta encenação é o general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, que publica a seguinte nota: “O acurado trabalho da equipe de técnicos militares na fiscalização do sistema de votação, embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraudes ou inconsistências nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”.

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2 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 29 de novembro de 2022 02h47
Celso Amorim enquadra-se bem no perfil de ministro da defesa, além de ter sido também um dos melhores na pasta do Ministério das Relações Exteriores, tivemos, de fato, excelentes ministros como o falecido Waldir Pires e Nelson Jobim. São fortes os sinais que indicam o ressurgimento da interferência dos militares na cena pública do país, a nossa democracia se revela cada vez mais instável e fraturada politicamente pela intolerância dada pela ignorância. Urge aquietar os ânimos dos militares para que os civis possam trabalhar em paz. O presidente Lula, certamente terá em sua mente um nome de renome que fará o trabalho de transição do autoritarismo recente para uma democracia futura. Nesse contexto convém lembrar um pouco Maquiavel no príncipe como um conselho para o presidente Lula: “São teus inimigos todos aqueles que se sentem ofendidos pelo fato de ocupares o principado e também não podes conservar como amigos aqueles que te puseram ali, pois estes não podem ser satisfeitos como precisavam.”
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 29 de novembro de 2022 02h45
Celso Amorim enquadra-se bem no perfil de ministro da defesa, além de ter sido também um dos melhores na pasta do Ministério das Relações Exteriores, tivemos, de fato, excelentes ministros como o falecido Waldir Pires e Nelson Jobim. São fortes os sinais que indicam o ressurgimento da interferência dos militares na cena pública do país, a nossa democracia se revela cada vez mais instável e faturada politicamente pela intolerância dada pela ignorância. Urge aquietar os ânimos dos militares para que os civis possam trabalhar em paz. O presidente Lula, certamente terá em sua mente um nome de renome que fará o trabalho de transição do autoritarismo recente para uma democracia futura. Nesse contexto convém lembrar um pouco Maquiavel no príncipe como um conselho para o presidente Lula: “São teus inimigos todos aqueles que se sentem ofendidos pelo fato de ocupares o principado e também não podes conservar como amigos aqueles que te puseram ali, pois estes não podem ser satisfeitos como precisavam.”

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