Só podemos atribuir aos fados da antiga Grécia a cilada histórica a que assistimos neste momento. De um lado, a ameaça latente de uma intervenção militar, a lembrar os golpes de Estado que já sofremos desde a Proclamação da República. Do outro, a presença de uma seleção brasileira de futebol no campeonato mundial em andamento no Catar. Os fados mandavam no destino, auxiliados por três parcas: Cloto tecia o fio da vida de cada homem, Láquesis determinava o comprimento do fio, Átropos cortava o fio da vida. Outra auxiliar havia e chamava-se Fortuna, a sorte, tinha olhos vendados, em uma mão segurava um limão, símbolo do acaso. O destino era entendido na Grécia antiga como uma força cósmica superior à vontade dos deuses e dos homens. Quem ousasse se sobrepor aos desígnios dos fados precipitaria o mundo no caos inicial.
Os lugares-comuns que o País se vê obrigado a frequentar em perfeita concomitância, a ameaça de um golpe militar e o campeonato mundial de futebol não poderiam esconder a intervenção superior dos fados. A primeira personagem que comparece no palco desta encenação é o general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, que publica a seguinte nota: “O acurado trabalho da equipe de técnicos militares na fiscalização do sistema de votação, embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraudes ou inconsistências nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login