Economia

Entenda os riscos de investir o saldo do FGTS na privatização da Eletrobras

Antes da rentabilidade em um período, precisamos considerar o tamanho do risco assumido

Joia. A Eletrobras, maior holding de energia da América Latina, lucrou 5,7 bilhões no ano passado e 2,7 bilhões no primeiro trimestre - Imagem: iStockphoto
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Quando falamos em finanças pessoais, é muito comum que as pessoas se deixem levar pela ideia de que o mais importante é a rentabilidade. Só que, muito antes disso, precisamos considerar o tamanho do risco que está sendo tomado em função do prêmio.

Especificamente, no caso de hoje, quero falar da possibilidade de alocar até 50% do saldo disponível do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para fundos que irão investir na privatização da Eletrobras. Nesse caso, assim como ocorreu com a Vale e com a Petrobras, existe a chance de um retorno bem mais alto, mas o risco envolvido também é muito alto.

Na prática, o que você estará fazendo é alocar uma parte da sua garantia trabalhista em um fundo mútuo de privatização, que investe apenas em ações da Eletrobras. A grande questão é que, nesse caso, o valor alocado fica sujeito às variações no preço da ação, que podem ser bastante altas e negativas no curto ou médio prazo.

Para isso, você pagará uma taxa de administração que remunera as pessoas responsáveis por manter o fundo funcionando. Grandes bancos como Itaú, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal oferecem opções que vão de 0,2%; 0,45% e 0,5% ao ano. No caso, é necessário ter conta em um desses bancos, ou naquele que oferecerá o fundo, para realizar uma reserva entre os dias 3 e 9 de junho.

Tendo em mente que o FGTS tem rendimento prefixado de 3% ao ano mais a taxa referencial (TR), que nos últimos doze meses soma um total de 0,26%. Considerando que a inflação está na casa dos dois dígitos, o rendimento do FGTS perde com folga para a inflação e para investimentos tradicionais como a poupança. Considerando que não há muita opção para mudar o retorno oferecido, muita gente considera que as ações da Eletrobras são uma opção interessante.

O risco de investir na Eletrobras

O grande problema é que ao introduzirmos no cálculo do FGTS apenas uma ação, no caso da Eletrobras, estamos introduzindo um grau muito grande de risco nos rendimentos de um fundo que, por definição, serve para uma emergência. Isto porque esse dinheiro lhe será dado em caso de demissão para poder se sustentar até conseguir uma nova fonte de renda. Nessa eventual situação, uma desvalorização das ações poderá ter um impacto potencialmente desastroso na capacidade de proteção provida pelo FGTS.

Do ponto de vista financeiro, sabemos que nunca é indicado ter uma posição grande numa única empresa, porque trata-se de um risco sem prêmios potenciais. Isto é, você não ganha nada por assumir o risco daquele empreendimento, cujo preço flutua de forma imprevisível. Daí que, em finanças modernas, sempre recomendemos uma carteira globalmente diversificada.

Vale a pena investir na privatização com o FGTS?

Na visão das finanças modernas e da minha atuação como consultor de valores mobiliários, só vale a pena investir um recurso que não fará falta na composição do FGTS como um todo. Nesse caso, o valor mínimo para aplicação é de R$200, que pode ser interessante a título educativo, mas mais do que isso pode ser um problema.

Embora a iniciativa de flexibilizar o retorno do FGTS seja louvável, na prática esse modelo não beneficia trabalhadores e trabalhadoras, que podem ter péssimas surpresas a depender do quanto alocarem nessa privatização. Por outro lado, as instituições que irão gerir esses recursos terão uma excelente fonte de renda, visto que a captação de recursos deve ser bem alta.

Qual o melhor caminho?

Embora seja muito importante ter um fundo de garantia disponível, no caso do FGTS é melhor optar pela segurança do que pela chance de um retorno mais alto, que pode muito bem se tornar um prejuízo. Nessa medida, o ideal é guardar, na medida do possível, uma parcela do próprio salário e investir em ativos de baixo custo com bom retorno.

Por exemplo, através de títulos do tesouro nacional atrelados à Selic, que atualmente paga 12,75% ao ano. Outra opção são títulos bancários como CDBs, que tenham alta liquidez, e paguem uma porcentagem superior a 100% do CDI. Nos dois casos, opte sempre por títulos pós-fixados, que não oscilam tanto com mudanças na taxa de juros e por isso são mais seguros.

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