Economia

Trump e a ofensiva no agronegócio

O presidente dos EUA avança, mas a agropecuária brasileira está sem inovação e altivez para se defender

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A continuar a série semanal de ações escabrosas contra a democracia e os trabalhadores brasileiros perpetradas pelo governo usurpador, não é de duvidar que o próximo golpe ocorra em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro presidente do Brasil, Lula preso ou morto.

Os mais sabidos, por enquanto, traduzem essa ansiedade com um cover chique, Doriana Júnior, mas querem mesmo é Brucutunaro.

Se isso vier a acontecer, durante pelo menos dois anos teremos inimigos de minorias populacionais presidindo EUA e Brasil. Lá um pele-laranja tosco, aqui um cara-pálida simulacro do falecido delegado Fleury. Tema para duelo de repentistas.

Assim caminha a Federação de Corporações. Economistas rentistas da vergonha alheia, agora ocupados em maldades para ferir o agronegócio, um dos poucos setores em crescimento na economia.

Entre as pragas do Egito estiveram gafanhotos devastando plantações. Aqui bastou um Grillo, da subfamília Mauricius moscardis, para atrasar anos o complexo brasileiro de carnes.

Para a agropecuária brasileira, no entanto, mais do que do intestino, o produto fecal virá de fora, nós Genis, com nome e endereço: Donald Trump, 1600 Pennsylvania Ave., Washington DC.

O pele-laranja enviou no começo de março para o Congresso documento com leis e regras que permitem aos EUA ações de comércio unilaterais. Muitas já existiam, mas se preferia participar de acordos multilaterais e discutir os contenciosos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Não mais. O documento é eivado de centralismos, como direitos unilaterais de retaliação, elevação de tarifas, suspensão de importações, imposição de sanções comerciais. No todo, é a OMC indo para o espaço.

Na semana passada, conversando com grandes e tradicionais produtores de grãos paranaenses, não percebi qualquer preocupação. Talvez influência da lição de moral que Curitiba passa ao País.

Esse pequeno olhar sobre o que acontece no planeta faz do Brasil uma paróquia de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, valiosa por suas riquezas tantas. Altares minerais, santos esculpidos nas melhores madeiras, jardins verdejantes, pias batismais com água benta por luz, frescor e fiéis pedindo trabalho e cidadania.

Alguém poderá observar: muita lira para pouca AK-47. Relaxante para o que vem agora.

Máximo, mínimo ou médio, o Brasil é um Estado-nação, e como tal deveria cuidar de cidadãos e soberania, defender seus altares com unhas e dentes. O agronegócio é um deles.

Erro 1: pensar que agronegócios são apenas os grandes produtores de commodities que usam sementes transgênicas, fertilizantes químicos, plantadeiras, agrotóxicos, rapidez nas colheitadeiras e precisão digital que, ao cabo, depende de danças indígenas para influenciar o clima. Tecnológicos como também primitivos.

Erro 2: não incluir aí 85% de propriedades agropecuárias produtivas que, apoiadas e bem orientadas, fortalecem o mercado interno e diversificam o perfil das exportações.

Erro 3: não apoiar a ampliação de destinos das exportações de alimentos, fibras, madeiras e biocombustíveis.

Erro 4: burrice, umbigo e prepotência.

No momento em que um isolacionista e ilusionista de pele laranja assume a presidência dos EUA, encontra a agropecuária brasileira sem inovação e altivez para sua defesa.

Antes do temeroso golpe, o Brasil adquiriu proeminência ímpar no planeta. Além dos resultados tecnológicos e econômicos, vieram a nós os comandos de FAO e OMC. Batemos duro e cumprimos metas ambientais, abrimos vários mercados, criamos demanda interna que favoreceu exportadores quando em baixa na gangorra das cotações mundiais, enfrentamos contenciosos contra subsídios escandalosos, fortalecemos o Mercosul, privilegiamos blocos alternativos como a África, de futuro óbvio.

Descontadas as trapalhadas internas, a que já nos acostumamos, as garras dos EUA já apontam para nós.

Em 40 anos, a área plantada com trigo no Brasil caiu 33%. Há dez anos a produção está estagnada em torno de seis milhões de toneladas. Não atendem ao consumo, o que nos torna grande importador. MAS, os EUA entraram de sola contra nós na OMC pelos subsídios dados ao produto. Querem fornecer o pão nosso de cada dia.

Os mais idosos devem lembrar-se de personagem da atriz Kate Lira e do bordão “como americano é bonzinho”? POIS É, desde que foi elaborada a nova lei agrícola (Farm Bill), em 2014, os subsídios aos agricultores norte-americanos pularam de 200 milhões de dólares para 4,5 bilhões de dólares.

Enquanto isso, em rincões brasileiros plantadores de grãos festejam fascinados com o fim da corrupção (então tá). Não percebem soberania, economia e direitos sociais escoando pelo ralo neoliberal.

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