Economia

Trabalhadores denunciam calote de aplicativo que oferta vagas para ‘missões do dia’

A remuneração só acontece depois de um mês. Existem casos, porém, em que os usuários não receberam pelo período trabalhado

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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A informalidade do trabalho no País atingiu níveis recordes: mais de 38 milhões de pessoas fazem “bicos” para sobreviver, segundo o levantamento mais recente divulgado pelo IBGE. Com as relações trabalhistas cada vez mais asfixiadas, os brasileiros tendem a buscar uma nova modalidade de emprego: o trabalho por aplicativo.

Mas, o que fazer quando os famosos freelancers se tornam empecilhos para quem busca uma forma de sustento?

Criado com objetivo de promover a intermediação entre patrões e empregados, um aplicativo gerido pela Anthor Tecnologia virou uma pedra no sapato para dezenas de trabalhadores. Isso porque a empresa, além de cobrar uma taxa para contratar as pessoas, teria dado calote em colaboradores.

Funciona assim: o trabalhador entra no site da Anthor e faz o seu cadastro para “atuar em picos de demanda”, mas precisa pagar 55 reais para ter acesso às chamadas “vagas”. O pagamento é destinado à compra de um uniforme, segundo a empresa.

Comprada a camiseta, passa-se ao trabalho: o colaborador visualiza as diversas “missões do dia”, a exemplo de trabalhar por um dia como empacotador de supermercado, faxineiro, assistente de açougue, entre outros.

As demandas garantem, em média, um pagamento que gira em torno de 50 reais. A remuneração só acontece depois de um mês. Existem casos, porém, em que os usuários não receberam pelo período trabalhado.

Uma colaboradora, que pediu para ter a identidade preservada, prestou serviços para a empresa e até hoje não recebeu cerca de 400 reais. Depois de insistentes contatos, ela procurou o sindicato e deve ingressar com uma ação na Justiça por danos morais. Nenhum dos canais de atendimento da empresa responde aos contatos. Os telefones também não funcionam.

Nas redes sociais, não faltam comentários negativos sobre a companhia. “A Anthor não está pagando ninguém, estamos todos com pagamento atrasado, esse grupo de suporte do Whatsapp é mentira, ninguém vem dar uma satisfação pra gente de nada”, escreveu uma trabalhadora.

“Definitivamente a Anthor é pura enganação, você trabalha e se recebe, é quatro a cinco meses depois da missão que você fez”, emendou outra usuária da rede social. Mais um trabalhador, “Shumutz”, classifica a relação com a Anthor como “escravidão”.

Com sede em Curitiba, a Anthor Tecnologia responde a outras três denúncias no Ministério Público do Trabalho do Paraná por demissões em massa, ausência de depósitos de FGTS de funcionários e até um caso em que uma mulher foi demitida enquanto estava de licença-maternidade.

A empresa, criada em 2018, possui mais de 70 unidades espalhadas por quatro estados brasileiros. Procurada pela reportagem, a Anthor ainda não se manifestou. O espaço segue aberto.

Informalidade favorece a criação de aplicativos para ‘bicos’; governo atua para regularizar atividade

A criação de aplicativos para “conectar” trabalhadores às demandas cotidianas não é novidade. Neles, as pessoas muitas vezes são submetidas a condições degradantes de trabalho em busca de qualquer atividade que lhes garanta sustento.

Em um único dia, o trabalhador pode ser marido de aluguel, desenvolvedor de programas, profissional de saúde e tudo mais que a imaginação possa supor. Alguns sites chegam até a formalizar a relação trabalhista na condição de microempreendedor individual.

Em outra frente, o Ministério do Trabalho projeta enviar um projeto de lei ao Congresso para regulamentar o trabalho por aplicativos. A proposta deve prever a definição de remuneração para os trabalhadores das plataformas  baseada no salário mínimo atual , além de regras de proteção social e jornada de trabalho.

O Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação em São Paulo (Sindpd) também tem acompanhado o avanço da informalidade no setor – alguns sites criados recentemente oferecem ‘bicos’ para quem consiga resolver bugs de programação.

De acordo com o Sindpd, a fiscalização dessas atividades tem sido feita em conjunto com o Ministério Público do Trabalho com objetivo de “enfrentar essas formas de precarização de mão-de-obra, que contribuem para o crescimento da informalidade no mercado de trabalho brasileiro”.

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