Economia
Tarifaço de Trump contra o Brasil é descaradamente ilegal, diz Nobel de Economia
Adversário contumaz da guerra comercial do magnata, Paul Krugman reforça críticas à intromissão na Justiça brasileira


Crítico mordaz da guerra comercial deflagrada por Donald Trump, o economista Paul Krugman classificou como “descaradamente ilegal” a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos às importações de produtos brasileiros. O motivo: as justificativas do magnata para a sanção não se encaixam nas normas previstas.
A legislação norte-americana, apontou o economista em sua conta no Substack, de fato concede ao presidente um amplo poder para fixar tarifas sem a necessidade de aval do Congresso. Essa autoridade, contudo, não é ilimitada – e sua aplicação precisa se encaixar nas situações previstas pela lei.
Na avaliação de Krugman, Trump descumpre principalmente a previsão de que o presidente tem amplos poderes para manipular as tarifas em um cenário de crise econômica. “Não há emergência econômica”, critica. “O próprio Trump afirma que as coisas estão ótimas.”
O economista destaca, contudo, que o tarifaço contra o Brasil não diz respeito à economia, mas à política: trata-se de uma tentativa de interferir nas instituições do Brasil, como Trump admitiu em sua carta ao presidente Lula (PT), na qual condicionou a decisão a uma revisão do processo contra Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal.
“Essa carta é basicamente uma confissão de que ele impôs uma tarifa por motivos não econômicos. E isso não é permitido”, ressalta o economista. “Um lembrete à grande imprensa: não, Trump não está ‘testando os limites de sua autoridade’ ou algum outro eufemismo. Está infringindo a lei. Ponto final. E deve ser noticiado desta forma.”
As críticas de Paul Krugman reforçam as reações internacionais contra a punição imposta por Trump aos brasileiros. Vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008, é um dos intelectuais mais influentes em sua área.
Krugman foi colunista do New York Times entre 2000 e 2024. Seu último artigo, publicado em 9 de dezembro, é intitulado Encontrando esperança em uma era de ressentimento. No texto, afirmou que talvez nunca recuperemos a fé que um dia tivemos em nossos líderes.
“Nem deveríamos”, pondera. “Mas se enfrentarmos a caquistocracia — o governo do pior — que surge neste momento, poderemos eventualmente encontrar o caminho de volta para um mundo melhor.”
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