Economia

Soluções a bordo

Os investimentos podem chegar a 93 bilhões de reais para suportar mais de 200 milhões de passageiros até 2020

Foto: Jose Patrício/Estadão Conteúdo
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Por Arnaldo Comin

Estamos trabalhando a todo vapor, não temos nem um minuto a perder”, diz, em tom agitado e com números na ponta da língua, Guilherme Ramalho, sobre os desafios da Secretaria de Aviação Civil (SAC) do governo federal, da qual é o secretário-executivo. Egresso do Ministério do Planejamento e próximo à ministra Miriam Belchior, Ramalho é o número 2 da pasta, que há duas semanas foi -ocupada pelo ex-governador do Rio Moreira Franco. Depois de deixar a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) para um cargo de maior “visibilidade”, Franco desembarca na área de aviação com discurso de quem pretende acelerar as metas, dando mais poder de fogo às concessões.

 

 

Se comparada a outros segmentos de transporte, onde as brigas por cargos e a ineficiência do Estado tornam o cenário mais preocupante, a SAC -aparentemente tem a casa mais arrumada. A pressão, por sua vez, não poderia ser maior: os aeroportos brasileiros têm ganhado visibilidade mundial nos últimos anos pelas filas enormes, atrasos sistemáticos nos voos, quilômetros de reclamações de usuários e altas tarifas, que são incompatíveis com a qualidade do serviço.

O desafio imediato é adaptar a estrutura dos grandes aeroportos. No ano passado, o governo deu o primeiro passo, ao assegurar uma injeção de 24,5 bilhões de reais em concessões para Guarulhos (16,2 bilhões), Brasília (4,5 bilhões) e Viracopos (3,8 bilhões). A SAC corre agora contra o tempo para levantar mais 11,4 bilhões de reais com as concessões do Galeão (6,6 -bilhões) e de Confins (4,8 bilhões). A meta é fechar até o fim de abril a primeira proposta do edital e marcar o leilão para setembro. Em paralelo, a Infraero trabalha em um plano de 5,6 bilhões de reais para adequar à -demanda os terminais das 12 cidades-sede da Copa do Mundo.

O secretário da SAC assegura que as concessões estão cumprindo as expectativas: “As empresas já fizeram uma série de melhorias desde o ano passado. O terminal 3 de Guarulhos está a pleno vapor, -assim como o segundo terminal de Viracopos. A ampliação de Brasília também está -ocorrendo dentro do prazo e já temos a sinalização de que, até 2014, os concessionários vão investir mais que o previsto no edital para cumprir as metas de qualidade”.

O caos aeroportuário que expõe a fragilidade da infraestrutura brasileira é um reflexo direto da ascensão da nova classe média. Na última década, o fluxo de passageiros triplicou, de 32 milhões em 2002 para 98 milhões em 2012. Até 2020, esse volume dobrará, superando 211 milhões, conforme calcula a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), entidade fundada no ano passado para defender os interesses das empresas de aviação civil e melhorar a comunicação com o governo.

Trocar o ônibus pelo avião, em um -país com as distâncias do Brasil, é boa notícia para a população. O problema é dar conta do recado. A Abear calcula que a indústria deverá investir até 93 bilhões de reais em ampliação da infraestrutura. Dessa fatura, de 26 bilhões a 36 bilhões de reais virão da cota das empresas, que precisam expandir a frota atual de 450 aeronaves para quase mil aparelhos em sete anos.

Do governo sairá outro pacote de 42 bilhões a 57 bilhões de reais, para ampliar e modernizar 478 terminais, além da reativação e construção de outras 169 instalações. A meta da SAC é ainda maior: reaparelhar 689 aeroportos somente na esfera regional, de um total de 720 aeródromos existentes no País. Menina dos olhos da presidenta Dilma Rousseff, o plano de integração aérea tem recursos disponíveis de 7,3 bilhões de reais e está trabalhando no mapeamento dos 270 primeiros terminais, com destaque para regiões isoladas da Amazônia e do Centro-Oeste.

“Esse projeto é uma mudança de paradigma na aviação regional. O setor tornou-se um sistema de transporte de massa e queremos assegurar que cada brasileiro tenha acesso a uma pista de voo em um raio de 100 quilômetros”, afirma Ramalho. Por trás do projeto estão duas prioridades: garantir a integração das cinco regiões do País e criar um ambiente de negócios favorável à formação de novas empresas de menor porte para atender o interior. Como é um mercado de baixa viabilidade econômica, o subsídio do governo virá do Fundo Nacional da Aviação Civil (Fnac), que gerencia a arrecadação com as grandes concessões e tarifas aéreas.

As primeiras cidades na lista foram escolhidas pela importância socioeconômica, pelo potencial turístico e pela carência de acessibilidade. Eduardo Sanovicz, presidente da Abear, endossa o projeto: “O modal aéreo formará as veias por onde passará esse sangue-novo na economia do interior do País. A presidenta Dilma tem se mostrado muito sensível e interessada nos problemas que afetam a aviação civil”.

A pressão agora recai sobre o ministro Moreira Franco, que tem sobre os ombros a responsabilidade de garantir que os aeroportos façam bonito na Copa e, por tabela, ampliar a fatia da iniciativa -privada nos investimentos em infraestrutura. A expectativa do mercado é de que a lista de concessões de Confins e Galeão ganhe novos nomes nos próximos meses.

O especialista Adalberto Febeliano, consultor técnico da Abear, acredita que será mais difícil para o governo fechar a conta das novas concessões. O principal motivo é a complexidade de ampliação de alguns aeroportos importantes, o que torna mais delicado o equilíbrio financeiro para os investidores. “Em Salvador há várias restrições ambientais para a construção de uma nova pista. Já o terminal do Recife está encalacrado dentro da cidade e o ideal seria a construção de um novo aeroporto. Manaus também tem dificuldades de expansão e representa um importante terminal de carga”, afirma.

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