Economia

Setor de alimentos é um dos que mais cresce no Brasil e no mundo

No mundo, o setor de alimentos foi o que mais cresceu nos primeiros meses de 2015. No Brasil, o agronegócio cresceu 3,4%, enquanto a indústria recuou 0,8% e os serviços 0,4%

A 3G Capital, do bilionário brasileiro Jorge Lemann, é um exemplo do investimento em redes de alimentos e bebidas
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Vistas assim do alto ou com a lupa, as pinimbas campesinas são tantas que sinto difícil escolher um só tema para comentar. E olhem que há pouco tempo o agro se queixava de ausência nas folhas e telas cotidianas.

Carpideiras, que ainda não perceberam como ocorreu a história da industrialização mundial, nos dois últimos séculos, continuam lamentando o Brasil exportador de bens primários e crendo que neles não há qualquer adição de valor. No mínimo, valeria lembra-los de um filósofo barbudo alemão, que mostrou trabalho ser valor.

Sim, precisamos rever nosso perfil econômico, perseguir inovações tecnológicas. Mas não adianta derramar lágrimas por um passado secularmente proibido a países pobres e mal geridos para a modernização. E assim tem sido o que temos para ontem e hoje.

Proponho três discussões no “FB Caboclo”.

De que adianta a maior biodiversidade do planeta?

Em outubro de 2014, na Coreia do Sul, realizou-se a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, a 12ª COP, para evoluir no Protocolo de Nagoya, difícil acordo sobre o uso de recursos genéticos e repartição justa de seus benefícios.

Embora signatário, o Brasil não participou do evento, e terminou impedido de palpitar e votar. O tratado foi assinado ou ratificado por 51 nações, inclusive a União Europeia. Países importantes ficaram de fora, como Estados Unidos e China, adoradores de muros e muralhas quando o assunto é clima e preservação do planeta.

Aqui a batatada veio do indescritível e poupado Congresso Nacional, que deixou de votar proposta enviada, em 2012, pelo Ministério do Meio Ambiente.

De péssima matemática ao defender patrimônios nacionais, como as diversidades biológica e cultural, precisa na hora de proteger os próprios interesses, a bancada ruralista temeu prejudicar a agropecuária no custo de acesso à genética contida em moléculas de agrotóxicos, sementes transgênicas, por aí.

Como se já não pagassem os tubos por isso, embutidos em royalties, preços extorsivos, dosagens que excedem necessidades, também por aí.

O Senado acaba de aprovar um texto básico para aprovação na Câmara. Tenta-se um avanço. Nele, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), do Ministério do Meio Ambiente, permite cadastro voluntário de instituições de pesquisas e empresas, o que diminui a burocracia antes existente.

Na proposta, reserva-se 1% da receita líquida obtida com produtos desenvolvidos a partir do conhecimento tradicional aos povos indígenas e comunidades locais.

Acho pouco. Mesmo assim duvido que passe.

Na contramão, o Brasil também compra

Na coluna anterior, a propósito do câmbio e de exageros opinativos que enfraquecem o Brasil aos olhos estrangeiros, discutimos o país em barato total.

Embora eu veja mais provável o sertão virar mar do que o mar virar sertão (salve, Sérgio Ricardo), há movimentos no sentido contrário de grupos brasileiros comprando ativos no exterior.

Cá como lá e acolá, as negociações de aquisição e fusão focam setores ondem crescem consumo e produção.

Segundo o Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês), da consultoria britânica Markit, no informe de Assis Moreira, correspondente do Valor em Genebra, os setores de alimentos e bebidas foram os que mais cresceram e receberam encomendas no primeiro trimestre de 2015. Nada mudou. O desempenho dos alimentos se repete desde 2009, quando o índice começou a ser calculado.

Mais: no plano nacional, segundo a Serasa Experian, em fevereiro, a atividade industrial recuou 0,8% e a de serviços 0,4%, descontados os efeitos sazonais. O setor agropecuário avançou 3,4%.

O fato confirma o que se repte na coluna sobre a tendência positiva para produtos originados da agropecuária nos próximos cinco anos.

E se comentaristas empertigados acham Insuficientes os argumentos destas Andanças Capitais, basta olhar para os setores em que o grupo brasileiro 3G Capital, de Lemann, Telles e Sicupira, vem investindo no exterior.

Lembram-se? Inbev, Anheuser Busch, Burger King, Heinz, Tim Hortons, Kraft. Com isso, o valor de mercado do Grupo chega hoje a US$ 260 bilhões.

Barato nenhum, certo?

A tecnologia e o melhor amigo do homem

Os leitores mais empolgados com avanços tecnológicos e que sofrem por eles serem ralos em nossa Federação de Corporações e vigorosos em países desenvolvidos, provavelmente, gostaram de saber da existência de tratores com menor potência, equipados com GPS, analisadores de solos, o siri e o cacete (grato, Bosco e Blanc), destinados aos pequenos e médios agricultores.

O que dizer então de drones australianos e neozelandeses sendo usados para substituírem vaqueiros e cães de pastoreio?

A notícia chegou aqui, no último dia 13/04, através do site do Wall Street Journal: “Cães de pastoreio perdem o emprego: drones vigiam ovelhas”.

Não só ovelhas, mas também bovinos. Não houve menção aos crocodilos do falecido Dundee.

Imagino a cena. Dannevirke, Nova Zelândia. Tarde fria. Sob gigantesca árvore de kauri, Mr. Joseph Thornton afaga a cabeça de Buddy, seu velho e inteligente Australian Cattle Dog: “Do not worry my friend, they can fly, but will not barkin’& howlin’ these beautiful songs we know“.

No dia seguinte, esquadrão de robôs voadores, comprados a US$ 500 cada, levantará voo para arregimentar um grupo de confusas ovelhas, que aguardava a desabalada corrida e os latidos do velho Buddy.

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