Economia

Salvar rating do País virou ‘obsessão’ em Brasília

Meta é atrair UE e Japão às concessões. Plano impôs ‘ajuste fiscal apressado e fácil’, diz economista

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, com Barbosa e Levy: missão é manter grau de investimento
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Preservar a boa nota do Brasil nas agências de rating, aquelas que classificam os países conforme a possibilidade de aplicadores e especuladores perderem dinheiro por insolvência do credor, tornou-se uma “obsessão” do Palácio do Planalto e da equipe econômica. O corte da nota seria fatal para a estratégia econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff, calcada em investimentos privados e capital estrangeiro. É o que explica o esforço para levar adiante um ajuste fiscal com medidas contrárias aos interesses de partidários da reeleição da presidenta, como os movimentos sociais que foram às ruas nesta sexta-feira 13.

Com os cofres públicos combalidos após um primeiro mandato defensivo, em que o orçamento foi manejado para proteger a geração de emprego e a redução da pobreza contra o refluxo da crise global, Dilma quer reativar a economia repassando bens e obras públicas a empresas. Estradas, ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias, basicamente. Comandante das chamadas concessões, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, diz que a ideia é realizar leilões ainda neste semestre.

O Planalto sonha em atrair para os leilões fatias de uma montanha de recursos que tem sido despejada na economia mensalmente por governos no mundo rico. Em especial, os 60 bilhões de euros da União Europeia e os 60 bilhões de dólares do Japão. Um plano difícil de vingar em caso de rebaixamento do Brasil pelas agências de rating e a consequente perda do “grau de investimento”

Certos fundos de pensão internacionais, por exemplo, são proibidos por seus estatutos de aplicar em lugares não-portadores de tal grau. “Por isso o grau de investimento é tão importante. E não é só para ter a confiança do mercado, é para não precisar da confiança do mercado como precisamos no passado”, disse em recente entrevista coletiva o chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante.

É com o ajuste fiscal que o governo espera convencer as agências de rating de que as contas nacionais estão sob controle, e o País ainda faz jus ao “grau de investimento”. Foi assim em conversas recentes, em Brasília, de autoridades com emissários da Standard and Poor’s. Por esta razão, afirma um assessor governamental, não se podem descartar nem mesmo cortes de gastos na área social este ano. Manter o rating, define ele, tornou-se uma “obsessão”.

A obsessão parece fazer o ministério da Fazenda sentir-se com “carta branca” para implementar um ajuste fiscal “apressado” e “fácil”, segundo o economista e consultor Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC de São Paulo. Por isso, diz ele, que o governo optou por restringir seguro-desemprego e abono salarial e nada propõe em cima dos mais ricos. Pior: o Banco Central não para de subir a Selic, o que eleva o peso da dívida pública. “A política monetária pode comprometer os resultados almejados na política fiscal”, afirma.

Salvar o rating, diz uma autoridade, é pré-condição para o capital estrangeiro vir ao Brasil, mas não garante que os leilões de concessão serão exitosos. As grandes empreiteiras são essenciais para tocar as obras, e quase todas estão enroladas na Operação Lava Jato. Só um acordo de leniência entre elas e a Controladoria Geral da União seria capaz de botá-las no jogo. Mas a possibilidade de selar os acordos, diz a fonte, tem sido criminalizada na mídia e pelo Ministério Público Federal.

Embora o ajuste fiscal seja a prioridade da hora na economia, e tal ajuste tem tudo para provocar uma recessão este ano, aos poucos o governo esboça uma tentativa de convencer a sociedade de que a crescimento ainda está no horizonte. Depois de chamar o momento atual de “travessia” em pronunciamento televisivo no domingo 8, Dilma declarou ter “obsessão” por emprego e crescimento, durante uma entrevista coletiva na quinta-feira 12. Segundo autoridades federais, o PIB voltará a crescer já no fim do ano.

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