Economia
Record demite apresentadora que antecipou entrevista com Lula a empresa da qual é sócia
Declarações do presidente sobre gastos e meta fiscal circularam no mercado financeiro antes de a emissora divulgar os primeiros trechos


A Record TV anunciou nesta quinta-feira 18 o desligamento da repórter Renata Varandas, dois dias após uma entrevista conduzida por ela com o presidente Lula (PT), em Brasília.
Na terça 16, respostas específicas de Lula sobre a agenda fiscal do governo passaram a circular no mercado financeiro antes mesmo de a emissora divulgar os primeiros trechos da entrevista.
A agência Bloomberg revelou, em sua edição em inglês, que as declarações do petista constavam de um documento da Capital Advice mais de uma hora antes de a Record publicá-las. A empresa diz trabalhar com “informação e análise política para investidores”.
Renata Varandas tem uma ligação direta com a agência. No LinkedIn, ela se apresentava como “repórter política do Jornal da Record e sócia da Capital Advice Análise Política”.
Procurada por CartaCapital na terça, a Record informou ter tomado conhecimento do vínculo entre a repórter e a companhia naquele dia.
Os vazamentos irritaram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que viu uma especulação desnecessária sobre a política fiscal do governo.
Em um dos recortes que geraram repercussão, Lula dizia: “É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Este País é muito grande, este País é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes deste País e a cabeça de alguns especuladores”.
Haddad afirmou, por sua vez, que Lula reforçou seu compromisso com o arcabouço fiscal, desenhado pelo atual governo como substituto do teto de gastos de Michel Temer (MDB).
A contenção de danos prosseguiu na quarta 17, quando o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), disse que Lula tem um “compromisso inegociável” com a regra fiscal.
“O pedido foi explícito: faça o que for necessário para garantirmos o cumprimento do arcabouço fiscal”, disse o responsável pela articulação política, em entrevista à CNN Brasil.
Trata-se de uma reação coordenada para, entre outros objetivos, evitar um novo repique do dólar, tema amplamente explorado pela oposição entre o fim de junho e o início de julho.
No dia da entrevista, a moeda americana acelerou até o início da tarde. Após a Record divulgar o trecho da resposta sobre gastos e meta fiscal, o movimento do dólar mudou e ele fechou em queda de 0,30%, cotado a 5,42 reais.
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