Economia

Produção de veículos cresce, mas setor luta para recuperar estágio pré-pandemia

Alta em março foi de 37% na comparação com fevereiro; no 1º trimestre, quase 30% dos veículos foram para locadoras

Fábrica da Volkswagen em Taubaté (SP). Foto: Volkswagen do Brasil/Divulgação
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A produção de veículos no País se manteve limitada no primeiro trimestre deste ano, segundo um balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores nesta segunda-feira 10. Apesar da evolução na produção registrada em março, com alta de 37% em comparação com fevereiro, os números mostram que o setor ainda opera abaixo do estágio anterior à pandemia.

Conforme o monitoramento da associação, o Brasil produziu 538 mil veículos de janeiro a março deste ano, o que representa um aumento de 8% em relação ao primeiro trimestre de 2022. Quase 30% dos veículos foram para locadoras. A produção acumulada no primeiro trimestre foi de cerca de 50 mil unidades a menos que o patamar pré-crise sanitária.

No caso dos veículos pesados, a redução foi de 30% no volume de produção em comparação com o primeiro trimestre do ano passado.

“Nesses três primeiros meses tivemos oito paralisações de fábrica e dois cancelamentos de turno, algo semelhante às paradas verificadas no início de 2022. A diferença é que no ano passado o motivo era somente a falta de componentes, enquanto agora já há outros fatores provocando férias coletivas, como o resfriamento da demanda”, afirmou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea. Segundo ele, novas paralisações estão marcadas para abril.

A indústria automotiva brasileira vem sendo afetada, pelo menos desde o início da pandemia, por problemas na cadeia de produção que envolvem a falta de semicondutores – chips responsáveis pela condução de correntes elétricas. Além disso, a produção de veículos é impactada pelo desaquecimento do varejo.

Historicamente, o principal instrumento para a compra de veículos no País é o financiamento, via instituições financeiras. Em 2011, por exemplo, quase 70% dos carros produzidos no Brasil foram adquiridos por meio dessa modalidade. O índice caiu para 39,6% em 2022. Atualmente, com as elevadas taxas de juros, os financiamentos vêm se tornando, de modo geral, impraticáveis para a maior parte da população. 

Esse é um dos fatores ressaltados por Leite, que coloca em dúvida a capacidade de sustentação do volume de produção. “A fotografia do momento seria pior se não fossem as boas vendas para locadoras em março, 28% do total”, afirmou. “Essas empresas ainda têm uma considerável demanda reprimida, mas isso não vai sustentar nossos volumes por tanto tempo caso não haja uma reação mais forte no varejo, o que depende de melhorias nas condições de financiamento, entre outras medidas para reaquecer o mercado.”

No acumulado, a venda de veículos no primeiro trimestre de 2023 chegou a 471 mil unidades. O número representa um crescimento de 16,3% em comparação com o mesmo período de 2022 e “poderia indicar sinais de recuperação”, segundo a Anfavea, “mas na verdade a base de 2022 é muito baixa, já que faltavam carros nas concessionárias”.

De acordo com informações do Banco Central, a taxa de juros média para financiamento de veículos novos, praticada pelas principais instituições financeiras que atuam no mercado, supera os 2%. 

A piora nas condições de financiamento tem feito com que as montadoras segurem a produção e afeta, também, os empregos no setor. Em 27 de março, cerca de cinco mil trabalhadores das fábricas das montadoras Volkswagen e General Motors em Taubaté (SP) e São José dos Campos (SP) entraram em férias coletivas, devido à desaceleração do mercado. Iniciativas semelhantes aconteceram, no primeiro trimestre deste ano, em fábricas da Hyundai, da Mercedes-Benz e da Sellantis.

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