Economia
Presidente do BC diz que inflação é ‘temporária’ e que só a confiança do consumidor é baixa
Em discurso alinhado ao do governo, Roberto Campos Neto afirma que ‘começa a haver estabilidade na parte de alimentos’
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, proferiu um discurso alinhado ao do governo de Jair Bolsonaro nesta sexta-feira 27, um dia depois de o Supremo Tribunal Federal decidir que é constitucional a lei que concedeu autonomia à instituição.
Durante seminário da Febraban e da Esfera, Campos Neto afirmou que “ruídos do dia a dia” atrapalham a percepção no exterior das “reformas” promovidas pelo Brasil. Também declarou que o avanço da inflação, um dos temas que mais preocupam os brasileiros neste momento, é “temporário”.
‘Tem uma parte da inflação que foi um choque global. Nos índices de preço ao produtor e ao consumidor a gente vê uma enorme alta no mundo inteiro”, disse o presidente do BC. Ao tentar justificar a escalada dos preços , afirmou que uma tese “muito usada” é de que as pessoas, devido à pandemia, “ficaram em casa”, o que levou a uma diminuição no consumo de serviços e a um aumento no consumo de bens.
“Se eu estou consumindo mais bens e as pessoas estão em casa, ao mesmo tempo eu estou produzindo menos bens. E se eu estou consumindo mais e produzindo menos, o preço sobe”, prosseguiu. Com a reabertura econômica, segundo ele, a tendência é de que cresça o consumo de serviços. “Então, parte da explicação é que esse movimento de reabertura da economia fará com que o efeito temporário da inflação de bens volte”, argumentou.
A alta nos preços dos últimos 12 meses, medida pelo IPCA, é de 8,99%. Apenas no acumulado de 2021, o índice registrado é de 4,76%. “Temos um IPCA rodando bastante alto na ponta, tivemos notícias preocupantes na parte hídrica”, admitiu Campos Neto.
De acordo com o presidente do Banco Central, agora há uma preocupação com a inflação de serviços, “que começa a subir”, enquanto supostamente se vê uma estabilidade em outros componentes. “A parte de alimento a gente começa a ver uma estabilidade em alguns componentes”, disse, sem fornecer detalhes.
Ao projetar o próximo período, Campos Neto afirmou que “em praticamente todos os setores a confiança está acima de níveis de antes da pandemia, com exceção do consumidor”.
“A gente vê que o consumidor que tem mais renda já voltou sua confiança a níveis pré-pandemia. Os que têm menos renda ainda estão abaixo”, acrescentou.
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