Economia

Preço emperra uso de gás natural na indústria

Empresas reclamam de que as descobertas do pré-sal e de outras reservas no País não baixaram a cotação do combustível

Empresas reclamam de que as descobertas do pré-sal e de outras reservas no País não baixaram a cotação do combustível. Foto: Agência Petrobras
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Por Lilian Primi

A formação de preço é problemática em todos os mercados de gás do mundo. Na visão dos industriais brasileiros — interessados em conseguir combustível barato —, o ideal é o cenário norte-americano, em que o gás é leiloado diariamente em mercado livre. “Isso só é possível porque lá o mercado está maduro, consolidado, e há uma antiga e bem ramificada rede de distribuição”, afirma Ricardo Baitelo, da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). “Aqui é assim: soma-se o preço de compra da molécula à taxa de distribuição, que por sua vez é definida pelas agências reguladoras estaduais, e em cima do resultado dessa soma se aplica o imposto. Além de margens diferentes, temos regras e impostos diferentes em todos eles, uma confusão”, explica Carlos Cavalcanti, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Essa base, segundo informações da direção da Comgás (distribuidora de gás de São Paulo), fica atrelada à variação de custos de óleo do mercado internacional e à variação cambial, já que boa parte do gás natural consumido no País, pela Comgás e por praticamente todas as distribuidoras, é importada, e o nacional está indexado a ele. Por isso, na avaliação da distribuidora, os altos preços do combustível atualmente são reflexos do aumento do petróleo, que chegou a US$140 o barril (hoje está em US$100), potencializado pela desvalorização do real e pela crise econômica mundial, que reduziu significativamente a demanda de gás natural do País, em especial no segmento industrial. “Tanto que só em 2013 a Comgás voltará a atingir o patamar de volume de gás distribuído no período pré-crise (2008)”, ressalta a nota enviada pela empresa a respeito dessa questão.

A variedade de tarifas realça as diferenças de mercado no Brasil e no mundo e dificulta uma comparação, mas, segundo estudo publicado em dezembro de 2011 pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a tarifa média nacional do gás canalizado para o consumidor industrial no Brasil, considerando um consumo de 50.000 metros cúbicos por dia, é de US$ 16,84 por milhão de BTU (uma unidade térmica de referência no setor), com variação de 31% entre estados e 17,3% superior à média de US$ 14,35 por milhão de BTU, encontrada para um conjunto de 23 países que possuem dados disponíveis. O valor está no estudo “Quanto custa o gás natural para a indústria no Brasil?” (Sistema Firjan — dezembro/2011), que teve como base dados das 18 distribuidoras que fornecem gás canalizado de forma comercial em 15 dos 27 estados da federação — Ceará, Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Paraná, Alagoas, Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Dos países pesquisados, apenas seis — Hungria, Eslovênia, Eslováquia, Alemanha, República Tcheca e Estônia — possuem tarifas mais altas que o Brasil.

No caso de São Paulo, a regulamentação adotada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) obriga a Comgás a comprar o gás natural pelo menor preço possível. A Comgás informa que compra todo o gás que distribui para seus clientes da Petrobras e que, junto com a petrolífera, vem tentando desenvolver mecanismos para minimizar os impactos do mercado internacional nos preços, como a realização de leilões (contratos de gás de curto prazo), que começaram em maio de 2009. “O volume negociado nesses leilões representa pequena parcela do consumido nas indústrias”, diz Cavalcanti. Segundo informações da direção da distribuidora, no entanto, a medida “reduziu o mix do custo de gás em 890 milhões de reais desde então, valor integralmente repassado a toda a base de clientes por meio das tarifas. A Comgás tem hoje um dos menores custos mix de gás do País”, garante a empresa.

No futuro, para Cavalcanti, a entrada em produção das novas reservas está desenhando um grande problema. “Estão jogando todo o gás das novas reservas nas termoelétricas, o que não deixa de ser uma forma de evitar a superoferta e a consequente queda nos preços”, reclama. O problema persiste mesmo considerando que as termoelétricas só serão ligadas quando houver falta de água nos reservatórios das hidrelétricas e que a sobra poderá ser oferecida ao mercado. “Vai haver venda de lotes esporádicos, mas isso não resolve nosso problema, pois não dá para planejar.”

A Comgás garante que mantém a busca pela universalização do uso do gás, apesar da retração do mercado industrial e dos problemas em torno do custo. Nos últimos anos a empresa agregou mais de 100 mil novos clientes residenciais e comerciais à sua carteira de consumidores ao ano, além de 45 a 50 novas indústrias. E garante que cumprirá as metas de expansão do ciclo regulatório (2009 a 2014), com investimentos da ordem de 2 bilhões de reais na implantação de mais de 5 mil quilômetros de redes de distribuição de gás natural.

Leia a reportagem completa no Especial Energia da edição impressa de CartaCapital nº 720, que está nas bancas.

Por Lilian Primi

A formação de preço é problemática em todos os mercados de gás do mundo. Na visão dos industriais brasileiros — interessados em conseguir combustível barato —, o ideal é o cenário norte-americano, em que o gás é leiloado diariamente em mercado livre. “Isso só é possível porque lá o mercado está maduro, consolidado, e há uma antiga e bem ramificada rede de distribuição”, afirma Ricardo Baitelo, da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). “Aqui é assim: soma-se o preço de compra da molécula à taxa de distribuição, que por sua vez é definida pelas agências reguladoras estaduais, e em cima do resultado dessa soma se aplica o imposto. Além de margens diferentes, temos regras e impostos diferentes em todos eles, uma confusão”, explica Carlos Cavalcanti, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Essa base, segundo informações da direção da Comgás (distribuidora de gás de São Paulo), fica atrelada à variação de custos de óleo do mercado internacional e à variação cambial, já que boa parte do gás natural consumido no País, pela Comgás e por praticamente todas as distribuidoras, é importada, e o nacional está indexado a ele. Por isso, na avaliação da distribuidora, os altos preços do combustível atualmente são reflexos do aumento do petróleo, que chegou a US$140 o barril (hoje está em US$100), potencializado pela desvalorização do real e pela crise econômica mundial, que reduziu significativamente a demanda de gás natural do País, em especial no segmento industrial. “Tanto que só em 2013 a Comgás voltará a atingir o patamar de volume de gás distribuído no período pré-crise (2008)”, ressalta a nota enviada pela empresa a respeito dessa questão.

A variedade de tarifas realça as diferenças de mercado no Brasil e no mundo e dificulta uma comparação, mas, segundo estudo publicado em dezembro de 2011 pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a tarifa média nacional do gás canalizado para o consumidor industrial no Brasil, considerando um consumo de 50.000 metros cúbicos por dia, é de US$ 16,84 por milhão de BTU (uma unidade térmica de referência no setor), com variação de 31% entre estados e 17,3% superior à média de US$ 14,35 por milhão de BTU, encontrada para um conjunto de 23 países que possuem dados disponíveis. O valor está no estudo “Quanto custa o gás natural para a indústria no Brasil?” (Sistema Firjan — dezembro/2011), que teve como base dados das 18 distribuidoras que fornecem gás canalizado de forma comercial em 15 dos 27 estados da federação — Ceará, Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Paraná, Alagoas, Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Dos países pesquisados, apenas seis — Hungria, Eslovênia, Eslováquia, Alemanha, República Tcheca e Estônia — possuem tarifas mais altas que o Brasil.

No caso de São Paulo, a regulamentação adotada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) obriga a Comgás a comprar o gás natural pelo menor preço possível. A Comgás informa que compra todo o gás que distribui para seus clientes da Petrobras e que, junto com a petrolífera, vem tentando desenvolver mecanismos para minimizar os impactos do mercado internacional nos preços, como a realização de leilões (contratos de gás de curto prazo), que começaram em maio de 2009. “O volume negociado nesses leilões representa pequena parcela do consumido nas indústrias”, diz Cavalcanti. Segundo informações da direção da distribuidora, no entanto, a medida “reduziu o mix do custo de gás em 890 milhões de reais desde então, valor integralmente repassado a toda a base de clientes por meio das tarifas. A Comgás tem hoje um dos menores custos mix de gás do País”, garante a empresa.

No futuro, para Cavalcanti, a entrada em produção das novas reservas está desenhando um grande problema. “Estão jogando todo o gás das novas reservas nas termoelétricas, o que não deixa de ser uma forma de evitar a superoferta e a consequente queda nos preços”, reclama. O problema persiste mesmo considerando que as termoelétricas só serão ligadas quando houver falta de água nos reservatórios das hidrelétricas e que a sobra poderá ser oferecida ao mercado. “Vai haver venda de lotes esporádicos, mas isso não resolve nosso problema, pois não dá para planejar.”

A Comgás garante que mantém a busca pela universalização do uso do gás, apesar da retração do mercado industrial e dos problemas em torno do custo. Nos últimos anos a empresa agregou mais de 100 mil novos clientes residenciais e comerciais à sua carteira de consumidores ao ano, além de 45 a 50 novas indústrias. E garante que cumprirá as metas de expansão do ciclo regulatório (2009 a 2014), com investimentos da ordem de 2 bilhões de reais na implantação de mais de 5 mil quilômetros de redes de distribuição de gás natural.

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