Economia
Por que Lula quer antecipar a escolha para o BC
O governo soube que Roberto Campos Neto estaria fazendo “terrorismo monetário” em conversas com gente graúda do PIB e do ‘mercado’


Devido às eleições municipais, o Congresso está de recesso informal e funcionará em regime reduzido até outubro. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), esteve por lá na quarta-feira 7 e deixou aos jornalistas um recado importante: o governo avalia antecipar a indicação do nome do futuro presidente do Banco Central.
O que ele não revelou, contudo, foi o motivo por trás do plano. Segundo um interlocutor do presidente Lula, o governo soube que o chefe do BC, Roberto Campos Neto, tem feito “terrorismo monetário” em conversas com gente graúda do PIB e do mercado financeiro. Nessas conversas, ele teria afirmado que, quando deixar o banco, a autoridade monetária não tomará as medidas necessárias contra a inflação. Em outras palavras, será “frouxa” na calibragem da taxa de juros, atualmente em 10,5% ao ano.
Ao antecipar a escolha do substituto de Campos Neto, o governo acredita que pode desfazer o “terrorismo monetário” e eliminar eventuais dúvidas na mente de economistas, analistas de banco e comentaristas da mídia.
Para que a antecipação se confirme, contudo, será necessário um acordo com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado a quem cabe sabatinar e aprovar nomes para o BC. Se Pacheco não puder, ou não quiser, dar garantias a Lula de que a sabatina e a votação ocorreriam antes das eleições de outubro, seria inútil enviar as indicações ao Senado agora.
Campos Neto tem mandato no BC até dezembro. O favorito para sucedê-lo é Gabriel Galípolo, o diretor de Política Monetária. Caso Galípolo seja escolhido para a vaga de Campos Neto, o governo teria de indicar mais duas pessoas ao BC. Uma para a diretoria de Política Monetária, que ficaria desfalcada, e outra para a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. O mandato da atual diretora, Carolina Barros, termina em janeiro.
É com essa trinca de indicados, não apenas com Galípolo, que o governo tentaria neutralizar o “terrorismo monetário” de Campos Neto.
*Diferentemente do que havia sido informado pela reportagem, a comissão do Senado que sabatina e vota indicados ao BC é a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), não a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

‘Copom não hesitará em elevar a taxa de juros’, indica ata de reunião que manteve Selic em 10,5%
Por CartaCapital
Silveira diz que será uma alegria ver Campos Neto deixar o Banco Central
Por CartaCapital
Adversário de Lula, Zema entrega Medalha da Inconfidência a Campos Neto
Por CartaCapital